Kylie Minogue: pronta para dançar

Radiante, cantora, compositora e atriz lança disco que promove ponte entre o pop e o cowntry

Postado em: 11-04-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Radiante, cantora, compositora e atriz lança disco que promove ponte entre o pop e o cowntry

Guilherme Araujo*

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Girar a ampulheta e contabilizar quatro  anos no tempo da música pop pode não parecer grande coisa. No entanto a australiana Kylie Minogue sabe bem como fazer com que essa espera, que muitas vezes é ocasionada pela fertilização de um ciclo criativo, seja ao mesmo tempo dispendiosa e recompensadora. Uma veterana da disco music, a cantora lança mundialmente o álbum Golden, trabalho que de imediato vem rendendo elogios. 

Deixando para trás o desinteressante conceito do disco Kiss Me Once (2014), em que as batidas eletrônicas soam exaustivas e parecem dar a impressão de que o material foi lançado com fins unicamente contratuais, sua nova aposta mostra-se uma ‘faca de dois gumes’. Em princípio, Golden traz uma proposta já mirada em outros carnavais: a fusão dos gêneros pop e cowntry – algo que, sem dúvida, nunca esteve tão em alta. Apoiados nesta temática, iniciada pela sempre precursora Madonna, no início dos anos 2000, outros nomes como Lady Gaga, Miley Cyrus e a drag queen TrixieMattel, do reality RuPaul’s Drag Race, também pegaram carona.

Todavia Kylie mostra-se sagaz. Entrega um material que, embora comercial, consegue diferir-se em meio à ausência de excentricidade que permeia a indústria contemporânea, visivelmente saturada. Australiana por natureza, mas dona de uma delicadeza tipicamente britânica, assume agora um estilo invariavelmente texano ao conduzir as 16 novas faixas que assina. O que se ouve é um dos melhores materiais de seucatálogo que, livre de comparações com faixas emblemáticas que representam desde o seu flerte com o vintage (The Loco-Motion),o indie (Impossible Princess), e a disco (Spinning Around), mostram ainda que tem domínio do que produz.

Melódica, a cantora abre o disco com o lead-single Dancing, uma faixa de refrão chiclete e que soa maravilhosamente divertida em seu convite para dançar (When I go out I wanna go out dancing, aah). Não seria nada repetitivo tratar como deslumbrante a mescla entre guitarras e instrumentos acústicos que propõe Raining Glitter, um dos pontos altos do disco. Aqui, Minogue aponta para um tipo específico de simplicidade inato em si, que, embora não tenha vocais nada exuberantes, produz momentos estupendos ao microfone. 

A fim de fazer jus a uma identidade própria – aspecto que torna ainda mais válida a vitória na briga que travou na Justiça, no fim de 2017, contra a socialite americana Kylie Jenner pela disputa de registro do nome Kylie –, a artista mostra-se livre da necessidade de se apoiar em inspirações maçantes de figuras do estilo acaba,ainda que, indiretamente pareça se transfigurar em uma versão contemporânea do ícone Dolly Parton – um retrato mais fidedigno ao que se propõe, se traçado um paralelo em relação à tentativa de suas colegas.

Abusando de brilho nos visuais, compostos geralmente de botas de cowgirl, jaquetas de paetês e peças compostas por cores escandalosas, os planos de divulgação vão longe. Pelas principais capitais da Europa, a turnê de Golden já tem datas esgotadas – nenhuma confirmada no Brasil – e deve render momentos memoráveis como a interpretação das baladas Shelby 68’ e Music’s Too Sad WithoutYou, em que apresenta toda a melodia e a clareza da cowntry music.

Solar como um todo, Golden mostra que ainda há saída para a música pop na grande indústria – e que, ao contrário de posicionamentos conservadores, não há tempo para se manter no topo. 

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE 

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