Quinta-feira, 28 de março de 2024

Goyaz Festival 2018 reúne grandes nomes da música instrumental

Filarmônica de Goiás, Hermeto Pascoal e David Feldman são algumas das atrações do evento realizado na Capital

Postado em: 26-04-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Filarmônica de Goiás, Hermeto Pascoal e David Feldman são algumas das atrações do evento realizado na Capital

GABRIELLA STARNECK*

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O Goyaz Festival 2018 começa nesta quinta-feira (26) e se estende até sábado (28) no Teatro Goiânia. A Orquestra Filarmônica de Goiás (OFG) abrirá o evento, sob regência do maestro Neil Thomson, regente titular e diretor artísitico da OFG. A programação ainda conta com grandes nomes regionais, nacionais e internacionais da música instrumental – como Hermeto Pascoal, David Feldman, Marcelo Maia, Michael Pipoquinha, Arismar do Espírito Santo e, para encerrar, o goiano Bruno Rejan.

Em terra de sertanejo, o Goyaz Festival 2018 promove o contato do público com outro estilo musical – que inclusive é pouco valorizado, como afirma um dos coordenadores do evento, Marcelo Safadi: “A música instrumental é pouco prestigiada, porque tem uma audiência mais qualificada, mas são esses profissionais que fazem a música que está por trás de grandes cantores. É isso que queremos trazer para o público”.

Festival

Ainda segundo Marcelo Safadi, a ideia de criar o Goyaz Festival partiu das quatro empresas que organizam o encontro: “Queríamos fazer um evento que fosse um presente para Goiânia, com algo que a gente gostasse muito – a música instrumental. As criações apresentadas no festival passam por inúmeros gêneros que vão desde o jazz à world music. 

Outra proposta do evento é a formação de público na música instrumental e clássica. Inclusive, por esse motivo, a entrada para o festival é franca, como conta Marcelo: “Ele é gratuito, porque precisamos atrair as pessoas para que, posteriormente, elas se interessem e passem a consumir esse estilo musical”.

O Goyaz Festival está em sua 8ª edição e já está consolidado no calendário cultural da Capital como um dos maiores festivais do gênero no Centro-Oeste – além de um dos maiores do País. Embora a entrada do evento seja gratuita, os ingressos são limitados para 700 pessoas por show. Para garantir um lugar nos espetáculos, de quinta a sábado, será distribuída a pulseira correspondente ao dia do show. Cada pessoa pode retirar até quatro pulseiras por CPF, na bilheteria do Teatro Goiânia, a partir das 10h. Quem não conseguir adquirir a pulseira, poderá acompanhar a transmissão ao vivo do festival, no lounge montado na Vila Cultural, atrás do teatro. 

Para a escolha dos convidados, anualmente uma pesquisa é feita sobre as novidades no cenário mundial e a presença dos músicos brasileiros em premiações e críticas musicais. Em suas edições anteriores, o Goyaz Festival recebeu grandes nomes da música instrumental como: César Camargo Mariano, Naná Vasconcelos, Trio Corrente, Hamilton de Holanda, Wagner Tiso, Toninho Horta, Paulo Moura, Yamandu Costa, Raul de Souza, João Donato, Carlos Malta e Pife Moderno, Leo Gandelman, Duofel, Azymuth, Jaques Morelembaum, Guinga, Samba Jazz Trio e os internacionais Tanghetto, Nicolas Krassic, Scott Feiner – dentre tantos outros. 

Programação 

Na abertura do Goyaz Festival, a Filarmônica de Goiás levará ao teatro Goiânia, às 20h30 desta quinta-feira, um repertório cinematográfico com finas composições como Protofonia, de Carlos Gomes; Suíte, de Grier; Farandole, de Bizet; Cavalaria Ligeira, de Suppé; e Finlândia, de Sibelius. Para fechar a apresentação com chave de ouro e elevar a energia do público, a orquestra ainda apresentará músicas do filme Chicago compostas por Ebb e Kander.

Dentre as atrações regionais do festival,  Marcelo Maia – reconhecido pela música popular instrumental brasileira – abrirá a programação de sexta-feira (27). O repertório conta com músicas autorais tocadas por instrumentos de orquestra erudita. No mesmo dia, o público poderá conferir a apresentação de David Feldman– um dos maiores pianistas brasileiros de jazz da atualidade. O músico vem muito bem acompanhado com Kiko Freitas, na bateria, e Jorge Helder (parceiro de Chico Buarque), no baixo acústico. David Feldman Trio fará um show com repertório autoral e de grandes nomes da música brasileira. 

Para encerrar a programação de sexta-feira, o compositor e multi-instrumentista Hermeto Pascoal também subirá ao palco do Teatro Goiânia. Considerado ‘um mago’ na música mundial pelos seus múltiplos talentos, o musicista vem à Capital em turnê especial para apresentar o novo álbum duplo, No Mundo dos Sons. Neste disco, ele retoma uma conversa musical com grandes músicos, quebrando um jejum de 15 anos sem lançar um disco entre parceiros. Para o show especial em Goiânia, Hermeto vem acompanhado do grupo formado por Itiberê Zwarg (baixo), Jota P. (saxes e flautas), Fabio Pascoal (percussão), André Marques (piano) e Ajurinã Zwarg (bateria). Hermeto realizou um bate-papo com o Essência. Mais que uma entrevista, o músico deu uma bela lição acerca da música instrumental e da própria vida. Confira, na íntegra, no fim da matéria. 

Já, no sábado (28), quem promete surpreender é o jovem cearense Michael Pipoquinha. Em Goiânia, o artista fará um show especial ao lado de outro grande instrumentista, Arismar do Espírito Santo. O evento vai trazer ainda para o palco do teatro Goiânia o músico goiano Bruno Rejan. Contrabaixista, arranjador e compositor, Bruno é reconhecido pela sua versatilidade musical. Já trabalhou com artistas renomados como Renato Teixeira, João Bosco, Lenine e Levy Andrade. Recentemente, lançou seu primeiro álbum de carreira que leva seu nome no título. 

Para encerrar o último dia do Goyaz Festival  2018, a banda Funqquestra levará ao palco uma apresentação inusitada que une a música instrumental a ritmos populares: é a diversão do funk, o improviso do jazz e a originalidade brasileira de uma orquestra que dá o tom desse coletivo musical. Fãs da mistura e da troca de experiências ainda terão uma surpresa nesta apresentação. A banda receberá, no evento, a participação especial do Coró de Pau, coletivo goiano que há mais de 15 anos promove a percussão tradicional e cultura popular gratuitamente na cidade. Juntos, farão uma festa no fim do show com requintes de carnaval e riqueza da percussão brasileira. 

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação 

da editora Flávia Popov

SERVIÇO

Goyaz Festival – Festival de Música Instrumental

Quando: de 26 a 28 de abril

Onde: Teatro Goiânia (Avenida Tocantins, esquina com Avenida Anhanguera, Qd. 67 Lt. 32, Setor Central – Goiânia)

Entrada gratuita (limitada a 700 lugares por show)

PROGRAMAÇÃO 

Quinta-feira (26)

20h30: Abertura com a Orquestra Filarmônica de Goiás (OFG)

Sexta-feira (27)

20h: Marcelo Maia e Banda do Peçanha

21h: David Feldman Trio

22h30: Hermeto Pascoal & Grupo

Sábado (28)

20h: Bruno Rejan

21h: Michael Pipoquinha com participação especial de Arismar do Espírito Santo

22h30: Funqquestra

 

Entrevista : Hermeto Pascoal 

Qual a importância do Goyaz Festival 2018 para a música instrumental?

Eu acho muito importante, e Goiânia é um lugar muito bom. Já toquei aí, outras vezes, e sempre com casa cheia. Os dias de hoje são repletos de coisas ruins e, quando aparece uma oportunidade de tocar, a gente fica doido, porque nos comunicamos com o público. Inclusive a minha música, que não é minha – é nossa –, eu chamo de universal, porque ela abrange todo tipo de público. Eventos como o Goyaz Festival são importantes para trazer leveza, porque nesses espaços temos a oportunidade de superar nossos problemas. É uma alegria imensa!

O que o público pode esperar da apresentação do seu novo álbum duplo ‘No Mundo dos Sons’?

Pode esperar o que justamente nem imagina que vai ser. Vamos transformar o céu na terra e fazer uma conexão com público. O engraçado é que, se eu preparasse as coisas para fazer, provavelmente na hora não faria. Os músicos da banda sabem que a minha música, como começa e termina, é imprevisível. Às vezes repito algo no show para dar uma referência do meu trabalho para as pessoas, mas a partir daí abrimos novas estradas. Eu não consigo ir para um show pensando “vou tocar isso aqui para eles”, porque tudo o que toco é para o público. Claro que, quando eu e a banda fazemos uma lista com canções, mas geralmente não tocamos nem metade da sequência. Tem música desse novo trabalho, por exemplo, que eu não levo pro palco, mas trago arranjos que eu toquei há 30 anos. É uma mistura maravilhosa! Conforme vamos sentindo o ambiente e o público, nós vamos tocando.

Qual foi a sensação de fazer esse novo trabalho após 15 anos sem lançar um disco entre parceiros?

Essa sensação é a continuação das coisas, porque, se eu premeditasse, não ia dar para fazer isso. Quando eu não tenho tempo, é porque estou fazendo muita coisa, mas eu não deixo de transbordar em tudo que faço. Eu sempre busco fazer discos diferentes um do outro. E o álbum duplo, No Mundo dos Sons, foi mais um presente lindo, divino dos céus, que eu ganhei! 

Como você define sua música? 

Quando nasci, eu comecei a fazer som na Terra, e faço isso até hoje! Eu já nasci músico. A música para mim é tudo: posso compará-la ao céu, ao vento, às estrelas. O bonito, quando você não segue um padrão de show, é justamente deixar fluir o que vem. Eu gosto de improvisar, e esse é o legal de tocar com arranchos, porque sempre sai coisa nova. Eu faço música de tudo o que sinto. Realmente, não sei dizer o que é a minha música, só sei dizer que ela é universal. Por que tem que ser padronizado? Não é assim! Para mim é algo intuitivo, porque eu sou 100% intuitivo. Por exemplo: durante os meus shows, eu chamo uma ou duas pessoas no palco para escutar a música e criar algo que venha em sua mente, porque, quando você escuta uma canção sem letra, você tem a sensibilidade de pensar em várias outras coisas. Quando a pessoa sobe ao palco, peço para alguém arranje uma caneta para que ela possa escrever o que vem à cabeça. Quando termino de tocar e a pessoa lê o que foi escrito, o público fica doido. A pessoa cria uma letra. A música instrumental, muitas vezes, é vista como algo pejorativo e incompleto, só porque não tem letra, mas as duas coisas se abraçam, e tento mostrar isso ao público por meio dessa experiência. Mas é claro que não faço isso em todo o show. 

Uma das suas marcas é adaptar muitos objetos como instrumentos musicais. Como começou essa ideia?

Eu faço isso desde pequenininho, eu já nasci me criando. Eu morava no mato, não tinha luz, então eu pegava objetos e começava a usá-los para tocar. Qualquer pancadinha que fizesse um som eu já estava mexendo a cabeça e criando música. Por isso falo que sou intuitivo. 

De que forma você acredita que seus trabalhos contribuem para história da música brasileira?

Meus trabalhos contribuem para a criatividade, o amor ao próximo, pra realidade da vida e para o que vai acontecendo. As coisas mudam durante os dias. Não gosto de formalidade, e isso não tem na minha música. É da intuição que vem tudo. Quase todo mundo tenta premeditar, mas não é assim. Não gosto de prender o cérebro para mesmice; prefiro deixar fluir.

Relate-nos um momento que você destaca como marcante na sua carreira.

Agora, eu concedendo essa entrevista para você! Se eu premeditasse essa conversa, já saberia o que responder, mas eu prefiro deixar fluir o bate-papo.  Nós precisamos aproveitar os momentos com a consciência tranquila. Esse momento, por exemplo, de alguma forma vai me ajudar na sequência de shows.  

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