Para entender que os fins de ciclos são necessários

Filme ‘A Galeria dos Corações Partidos’ apresenta história sustentada pelo carisma dos personagens e desfechos previsíveis de uma narrativa que ainda consegue ser incomum

Postado em: 14-04-2023 às 18h22
Por: Victória Vieira
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Lucy (Geraldine Viswanathan) e Max (Dacre Montgomery) são personagens com uma química divertida | Foto: Reprodução

Falta aproximadamente três meses para o dia dos namorados e diante dessa data comemorativa, o Prime Video se adiantou e lançou uma obra especial para os comprometidos, solteiros e em especial para as pessoas que foram surpreendidas por um término difícil. Se há alguém que se identifica entre essas três categorias, o filme ‘A Galeria Dos Corações Partidos’ é aquele que todos deveriam encontrar ao navegar pela extensa lista aleatória de recomendações no catálogo da plataforma de streaming.

Estreado em 2020, o filme feito sob a direção de Natalie Krisnky apresenta uma hora e quarenta nove minutos de uma história sustentada pelo carisma dos personagens e desfechos previsíveis de uma narrativa que ainda consegue ser incomum. O elenco é diversificado, contendo a participação de Geraldine Viswanathan, Dacre Montgomery, Utkarsh Ambudkar, Phillipa Soo e Molly Gordon.

A trama gira em torno de Lucy, personagem interpretada por Viswanathan, que não consegue superar o fim de seu namoro com Max, também conhecido por ser o seu chefe no Whitney Museum. Até esse momento, tudo parece ser bastante normal, isto é, um clichê totalmente esperado nos filmes de comédia romântica. Contudo, a personagem principal apresenta um diferencial: ela guarda objetos que restaram de seus relacionamentos fracassados.

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No senso comum, Lucy é uma acumuladora, mas segundo ela, essa é apenas uma forma de guardar lembranças do momento em que teve o seu coração partido pelos seus ex namorados. Ao conhecer Nick (Dacre Montgomery), a mulher se depara com uma ideia de criar uma galeria onde as pessoas deixem as lembranças de seus antigos amores, gerando um cenário para dar um novo começo e fim para elas.

Um aviso necessário é que o filme não é algo majestoso. É uma daquelas obras que os telespectadores assistem e não sentem nenhum tipo de impacto diante um planejamento cinematográfico impecável. Ao contrário, é uma obra feita para o entretenimento de consumo rápido, fácil e leve. Em suma, o longa faz jus ao conceito de ‘nada demais’. Contudo, apesar de não apresentar complexidade, a obra encaminha desdobramentos que permitem uma reflexão acerca de problemas reais, seja no mundo da ficção ou na realidade.

O fim é bem-vindo

Ao longo da história surge o questionamento do por que a personagem principal se coloca na posição de encarar diariamente objetos que carregam memórias voltadas aos antigos relacionamentos. Claro, podemos compreender que algumas pessoas possuem uma caixa de ex-namorados, isto é, um lugar onde colocamos coisas que possuímos ou ganhamos durante um relacionamento. Essa caixa, para quem possuí, na maioria das vezes é jogada fora ou permanece escondida em um cômodo insignificante, chegando a ficar até empoeirado. Então, diante desse contexto, qual seria o motivo plausível para alguém se dispor a encarar lembranças que são dolorosas ou que lembrem um cenário com um fim que na maioria das vezes, terminam de forma nada agradável?

Podemos julgar a ação de Lucy como sadomasoquista, peculiar, incomum. Afinal, no mundo real ninguém faria isso. Porém, é possível ter a reflexão que essa mania é um ato de coragem. No filme, a montagem da galeria gera o espaço em que diversas pessoas começam a trazer itens deixados ou dados pelo seus ex-parceiros amorosos. Cada um conta a sua história, o motivo de ter trago aquele objeto e guardado durante um certo período. Assim que os depoimentos e o desfecho por trás do casal principal são relatados de forma profunda, entendemos que os objetos são apenas uma metáfora para o fato de que o fim não deve ser encarado como algo negativo, e sim como uma necessidade bem-vinda.

Relacionamentos são complicados seja ele carnal, fraternal, amigável, amoroso, enfim, não há fórmula que trará uma resposta exata de como lidar com as pessoas que amamos. No entanto, uma certeza que jamais pode ser mudada é a do fim.

O encerramento de ciclos acontece e é importante, pois ele abre um caminho para uma jornada que pode ser boa ou ruim. Obviamente, decidir se livrar de algo ou alguém é uma decisão dolorosa e desafiadora. Poucos conseguem lidar com o sentimento de arrependimento ou com as consequências das escolhas que ditam o rumo da vida. Mas, é uma dádiva encarar como experiência e aprendizado. É assim que ‘A Galeria Dos Corações Partidos’ funciona. A exposição dos objetos de Lucy e de outras pessoas é a representação materializada dos relacionamentos que nos deparamos ao longo da existência e estar preparado para seguir o ritmo do começo, meio e fim faz parte de se libertar daquilo que idealizamos como objetivo. Viver o amor é mergulhar em uma linha do tempo imprescindível, ou seja, estar aberto para uma aventura sem respostas.

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