Malvino Salvador se apresenta em Goiânia com “Boca de Ouro”

A tragicomédia de Nelson Rodrigues, escrita em 1959, aborda temas da atualidade como a pós-verdade

Postado em: 02-06-2018 às 09h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Malvino Salvador se apresenta em Goiânia com “Boca de Ouro”
A tragicomédia de Nelson Rodrigues, escrita em 1959, aborda temas da atualidade como a pós-verdade

SABRINA MOURA*

Continua após a publicidade

A peça teatral brasileira escrita por Nelson Rodrigues no ano de 1959 ganha uma nova encenação pelo olhar do diretor Gabriel Vilela. Boca de Ouro será apresentada, no sábado (2) e no domingo (3), no Teatro Madre Esperança Garrido. A história do bicheiro de Madureira, mesmo com o passar do tempo, aborda temas da atualidade de forma clara, limpa e sem perder o bom humor.  “Como proposta, a peça procura levar aos palcos brasileiros um clássico do Nelson Rodrigues, nosso maior autor teatral, com um olhar diferenciado do Gabriel Vilela. Levar o salto de uma história que, embora tenha sido escrita em 1959, continua sendo muito pertinente e aborda temas muito atuais”, diz, ao Essência, o ator Malvino Salvador, que interpreta o papel principal. Também estão no elenco os atores Lavínia Pannunzio, Mel Lisboa (indicada ao Prêmio Shell de Melhor Atriz), Claudio Fontana, Chico Carvalho, Leonardo Ventura, Cacá Toledo, Mariana Elisabetsky, Jonatan Harold e Guilherme Bueno. 

O Boca de Ouro é um bicheiro que possui este apelido por ter trocado todo os seus dentes por uma dentadura de ouro. O ‘Drácula de Madureira’ – como também é conhecido –  tem sua vida investigada por um repórter que tem como fonte Dona Guigui, sua ex-mulher. “Além de retratar a vida no subúrbio e contar a história de uma figura emblemática e muito conhecida no universo carioca, a peça também aponta as falhas na origem das notícias. A história do Boca de Ouro acaba sendo contada por meio de três versões a partir do ponto de vista de sua ex-mulher”, conta Malvino. “Neste momento, o ambiente jornalístico entra em cena, colocando sempre em xeque a origem da notícia, mostrando ao espectador que ele precisa estar atento a isso. É um tema muito pertinente aos dias atuais, percebendo, aí, a pós-verdade, essa facilidade de criar e disseminar as notícias na atualidade”, completa.

Este é o terceiro texto de Nelson Rodrigues encenado pelo diretor Gabriel Villela. Malvino comenta sobre a importância do papel encenado por ele na carreira: “Poder fazer e atuar em uma peça escrita por Nelson Rodrigues, o  nosso maior dramaturgo. Estar em um clássico dele, com um dos personagens mais emblemáticos, é algo muito importante. Isso para mim foi uma oportunidade única de desenvolver um trabalho diferenciado na minha carreirapor conta das dificuldades que estão inerentes ao próprio personagem, que aparece em três versões. Para esse trabalho, eu tive grandes aliados; o principal deles foi o diretor Gabriel Vilela, que é um grande encenador, e foi o grande maestro dessa banda toda aí, que soube conduzir todos muito bem, com uma particularidade e um universo muito peculiar, onde a encenação acrescenta à história original, outras dinâmicas que dão mais conteúdo interessante à peça. O Gabriel criou uma trajetória mítica de vida e morte, sendo possível desenvolver três personagens distintos em uma mesma personalidade”.

A obra do ano de 1959 está sempre atualizada, afinal é possível encontrar personagens desse tipo a todo momento. “É um personagem que sempre vai existir; não só um bicheiro, mas um contraventor qualquer, um traficante que possuem trajetórias parecidas, porque são pessoas que nascem num submundo, não tem oportunidades, vivem na dificuldade, a fim de alcançar o poder e o sucesso”, explica Malvino. “Também tem essa coisa da notícia. Nelson Rodrigues foi jornalista, viveu dentro de um jornal, conseguindo primorosamente exclamar esse universo jornalístico, atingindo as pessoas e mostrando para elas a vida como ela é! (risos)”.

Dentre as reflexões que a peça propõe, está a lição de que o crime não compensa e que a trajetória de um indivíduo que cresce, no crime, seu provável fim é a morte. “O processo de criação partiu de um trabalho de três meses de ensaio. Boa parte da encenação já está na cabeça do Gabriel, com os figurinos prontos. Vamos fazendo algumas leituras e se ajustando ao personagem, nos conectando com os atores, em cena, que possuem grande experiência em teatro, e de qualidade imensa. Eu fui me apoiando, onde podia, através das diretrizes que eram propostas, e, assim, fomos criando. Tudo o que o público vê, hoje, passou por um processo de evolução e ensaio. É uma peça popular e gostosa de ver”, finaliza Malvino Salvador.

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov

Veja Também