Nova Veneza: um pedacinho da Itália em Goiás

GABRIELLA STARNECK*

Durante quatro dias, a população que reside em Goiás  – ou que está de passagem pela região – poderá apreciar o Festival Italiano de Nova Veneza, que terá início na quinta-feira (7) e se estenderá até domingo (10). Decorações, danças típicas, cinema e a gastronomia da ‘bella Italia’ são destaques do evento que, há 14 anos, se propõe a resgatar e a valorizar a cultura italiana.

Reduto dos colonos italianos que vieram para o Brasil há mais de 100  anos, Nova Veneza é símbolo da imigração no Estado – prova disso é que mais de 60% de sua população é formada por descendentes de italianos. Por esse motivo, o festival gastronômico da cidade preserva a cultura dos seus fundadores por meio da arquitetura e da culinária. A cerca de 30 quilômetros da Capital, Nova Veneza tem atraído turistas não só por conta do evento que compõem o Circuito Gastronômico de Goiás, mas também por sua beleza local. 

Histórico

De acordo com o último Rapporto Italiani nel Mondo (“Relatório Italiano no Mundo”), feito pela Fondazione Migrantes, o Brasil é o País com o maior número de descendentes de italianos do mundo. São cerca de 30 milhões de brasileiros com origens familiares na Itália. A maioria desses descendentes, que ainda hoje mantêm uma forte influência cultural vinda daquele país, concentra-se no Sul e no Sudeste brasileiro. Contudo também existe um pedacinho da Itália no interior de Goiás, em Nova Veneza.

Stival, Bisnoto, Faquim e Bosco foram as primeiras famílias vindas da Itália e que se fixaram na região por volta de 1924, unindo-se aos Sousa, Alves, Santos, Ferreira, Vargas, Peixoto e Constantino. A localidade, por anos, ficou conhecida como ‘Colônia dos Italianos’, mas, em 1958, tornou-se município e foi batizada de Nova Veneza. A cidade tem forte influência da Itália, não só na culinária, mas também na a arquitetura e no urbanismo, que remetem ao país de origem de seus fundadores, com edificações que possuem colunas romanas, praças com chafarizes e ruas com estátuas clássicas. 

Nova Veneza

Localizada a cerca de 30 quilômetros da Capital, a cidade pode ser acessada pelas rodovias GO  462 ou GO 222. Além de chamar a atenção por sua culinária local, que recebe forte influência das tradições italianas, Nova Veneza também encanta com sua geografia – recheada de montanhas – e atrai pessoas por causa das atividades religiosas e da terra fértil. “Nova Veneza é o segundo ponto mais utilizado para as pessoas fazerem voos paraguaios, além de ter uma vista para inúmeras cidades à volta. Trilhas de bicicleta e motobike são outros atrativos que atraem turistas para região. O local também faz parte de um circuito religioso, no qual romeiros passam pelas serras que compõem o cenário de Nova Veneza. Inclusive pessoas ligadas à Igreja Católica lançaram uma pedra fundamental na montanha e pretendem construir uma igreja na região. A cidade tem uma força muito grande do catolicismo por causa da colonização italiana”, afirma o vice-prefeito de Nova Veneza, Alessandro Stival. 

Festival

Segundo Alessandro, o festival foi criado há praticamente 15 anos com o intuito de ser um mecanismo de transformação na cidade: “Como Nova Veneza fica próxima a Goiânia, com o decorrer dos anos ela acabou perdendo muitos habitantes que foram para a Capital. Sem grandes indústrias, a cidade vivia com uma dependência muito grande do poder público, e precisava de alguma coisa que pudesse transformá-la – para gerar empregos e rendas. Como a colonização italiana é algo que diferencia a cidade, Oswaldo Stival (avô de Alessandro), teve a ideia de resgatar a cultura desse povo e movimentar a região criando o Festival Italiano de Nova Veneza”. 

O evento, que já está em sua 14ª edição, integra o Circuito Gastronômico de Goiás, e atrai, a cada ano, diversos turistas para a região. A expectativa é de que pelo menos 100 mil visitantes passem pela cidade, nos quatros dias de programação, o que o classifica como um dos grandes festivais culturais nacionais. Em 2018, o tema do evento é Um Dia em Veneza, e promete ser um grande atrativo para os visitantes, até por canta decoração da cidade. Serão colocadas flâmulas com os nomes das famílias fundadoras. Figurinistas vestidos de gondoleiros, rainhas, princesas e mascarados – em referência ao Carnaval de Veneza – circularão pelo evento durante os quatro dias.

Programação

De acordo com Hermione Stival, presidente da Associação Pró-Festival Italiano de Nova Veneza (Afesti), os esforços da organização estão sendo feitos para torná-lo cada vez mais uma referência da cultura italiana no Estado. Além dos pratos típicos da cozinha italiana, música e danças italianas, a partir deste ano novas atrações culturais temáticas serão agregadas à programação.

Um dos destaques de 2018 é a Mostra de Cinema, que é realizada em parceria com a embaixada italiana, e vai apresentar ao público cinco longas-metragens daquele país. Os filmes contemporâneos serão legendados, e a entrada será  gratuita no Centro Cultural Pedro Peixoto, reformado para o evento. “Nova Veneza foi a primeira cidade do Brasil, com exceção de Brasília, a receber uma mostra de cinema italiana”, afirma Alessandro Stival. 

A exposição fotográfica Carnavale di Venezia é outra novidade do evento. A mostra de fotos é assinada pelo fotógrafo paraibano Francisco Andrade, e retrata seu olhar para o tradicional carnaval de Veneza, uma das mais famosas festas da Itália. Na gastronomia, também haverá inovações. Pela primeira vez, o Festival contará com um estande dedicado exclusivamente ao café italiano – bebida que é considerada uma paixão entre os italianos. O evento abrigará uma edição especial da Carnivoria Open Air, um dos mais badalados festivais de churrasco do Brasil e que apresentará ao público os diferentes preparos para cortes nobres de carnes nobres, e, claro, com aquele toque italiano.

Importância 

Segundo Alessandro, a ideia de seu avô deu certo, já o evento tem crescido mais a cada ano: “Estamos colhendo isso no decorrer dos anos, prova disso que o Festival Italiano de Nova Veneza já é um dos maiores da Região Centro-Norte. Ele mexe muito com a cidade e mobiliza muita gente. O evento simplesmente transformou a cidade. Foram criados cerca de 300 postos de emprego relacionado à festa, que começam a trabalhar entre 60 e 90 dias antes da festa, além de 800 postos durante os dias do festival”.

Em 2018, o evento cresceu 30% em sua estrutura física e 20% no número postos de trabalhos temporários gerados. O número de assentos também aumentará de 4.000 para 6.000 – para melhor acomodar o público. A previsão é de que o Festival movimente mais de 2 milhões de reais na cidade.  Contudo, segundo o vice-prefeito, a proposta é que a cidade não seja um atrativo turístico apenas durante o Festival. Para isso, o intuito é que a cidade promova novos eventos, ao longo do ano, como parques temáticos. 

Para este ano, além do Festival Italiano de Nova Veneza, a cidade já tem outra atividade agendada – uma mostra de curtas-metragens de cineastas locais, que ocorrerá em novembro. Segundo Alessandro Stival, esse novo evento é fruto da mostra de cinema que ocorrerá durante o Festival Gastronômico. “O italiano sempre gostou muito de festa, então Nova Veneza sempre teve essa tradição festeira, e atraiu pessoas para a cidade por conta disso, e a ideia é que isso se mantenha”, finaliza o vice-prefeito.

* Integrante do programa de estágio do Jornal O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov