Festival III ‘Digo’ começa nesta quinta-feria (07) em Goiânia

Festival Internacional de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero de GO discute temas do meio LGBTI+

Postado em: 07-06-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Festival III ‘Digo’ começa nesta quinta-feria (07) em Goiânia
Festival Internacional de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero de GO discute temas do meio LGBTI+

SABRINA MOURA*

Continua após a publicidade

O Festival Internacional de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero de Goiás (Digo) começa nesta quinta-feira (7) e vai até o dia 13 deste mês nos cinemas Lumière do Banana Shopping. O Digo é um festival de cinema competitivo  que articula produções audiovisuais, educação e tecnologias com o objetivo de ampliar o universo da expressão e da percepção estética da diversidade em Goiás, no Brasil e no mundo, e visa a estimular e a promover a conscientização do público sobre o respeito integral aos direitos humanos e a inclusão social.

Em sua programação, será possível encontrar Mostras Competitivas, atividades culturais, mesas temáticas, oficinas e palestras sobre os direitos LGBTI+. “O Digo vai além da exibição de filmes.  Ele se tornou um festival de artes integradas que discute assuntos importantes para fomentar o pensar crítico e estimular ações relacionadas à luta contra o preconceito em Goiás”, explica Cristiano Sousa, curador da edição.

O projeto possui apoio institucional da Prefeitura de Goiânia por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Goiânia, do Ministério Público do Trabalho de Goiás, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Políticas Afirmativas de Goiânia e dos Cinemas Lumiére.

Atividades

Nesta edição, o festival traz temas que promovem a discussão sobre os direitos LGBTI+, a empregabilidade, o turismo, a segurança pública e as políticas públicas de saúde. Para abordar temas como o mercado de trabalho para o público LGBTI+, o evento conta com o apoio do Ministério Público do Trabalho. Segundo o órgão estadual, a população LGBT+ ainda enfrenta muitas dificuldades para ter acesso ao mercado de trabalho.

De acordo com Ricardo Gomes, presidente da Câmara de Comércio e Turismo LGBTI+ do Brasil, atualmente foi lançado em São Paulo um manual de comunicação em que foi estabelecido que o termo correto a ser utilizado é o LGBTI+ – lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros na letra T; intersexuais no I, e o mais (+) para englobar todo o resto.

Turismo

O segmento LGBTI+ e o turismo precisam ser desmistificados. “As pessoas imaginam que trabalhar com o turismo LGBTI+ necessariamente é preciso ter destinos específicos, produtos específicos, cruzeiros específicos, hotéis específicos, e o que se procura trabalhar nessa questão é a igualdade; que as pessoas sejam respeitadas na sua diversidade como um todo”, afirma Gomes. “É claro que podemos ter uma boate gay ou lésbica, um motel focado especificamente no público LGBTI+ ou um cruzeiro, mas o grande lance trabalhado nesse turismo é para que destinos, hotéis, restaurantes, e que todo mundo trate o LGBTI+ com naturalidade. Isso é a primeira coisa e a mais importante quando a gente tem de pensar ou falar desse turismo LGBTI+ – para que todas as pessoas sejam tratadas com igualdade na sua diferença”, completa.

O trabalho no meio do turismo consiste em tratar um casal de homens – que em ‘tese’ é diferente desse padrão heteronormativo–, com naturalidade, tratar com igualdade como é tratado um casal heterossexual. É necessário que os hotéis, por exemplo, se adaptam: se são dois homens, que sejam preparados dois chinelos grandes, dois roupões grandes. É importante, principalmente, não questionar por que duas pessoas do mesmo sexo reservam um quarto de casal. A importância de trabalhar o turismo LGBTI+, no primeiro momento, é pensar que as pessoas precisam tratar e ser tratadas com igualdade – independentemente de suas diferenças.

A Organização Mundial do Turismo declara que o turista LGBTI+ gasta, em média, no mundo, em torno de 30% a mais do que o turista ‘convencional’. “Só por estes dados, o meio já é um pilão de mercado excelente para trabalhar, o mundo inteiro tem olhado para isto e, indiscutivelmente, este é o turismo mais importante em termos de retorno nos destinos nacionais e internacionais. Um case muito importante a ser destacado é que Israel único país onde os LGBTI+ são bem-vindos; eles trabalham essa questão do turismo LGBTI+ de uma forma muito forte, porque percebem a importância deste segmento”, conta Gomes.

A Câmara de Comércio e Turismo LGBTI+ do Brasil recentemente assinou um acordo de cooperação técnica com o Ministério do Turismo e com a Embratur. Este convênio que tem validade por cinco anos, e procura promover para os destinos capacitações para desenvolver o turismo LGBTI+. “Não é só por esse trabalho que está sendo realizado com o Ministério do Turismo e com a Embratur, mas é importante que todos os destinos do Brasil comecem a trabalhar, e se declarar como um local que está preparado para receber o turista de forma igual na sua diferença. É importante que cidades e estados tenham um olhar voltado para o público LGBTI+, porque isso significa geração de emprego, de renda e de impostos”, esclarece Gomes.

Emprego

No mercado de trabalho as dificuldades do público LGBTI+ só aumentam, principalmente quando se fala da população de transvestis, transexuais e transgêneros ao se comparar a outras letrinhas lésbicas, gays, bissexuais e intersexuais. “Na maioria da vezes, o comportamento das empresas é de não contratação – não inclusivo. A discriminação ocorre, aprioristicamente, na fase pré-contratual, no momento da seleção”, afirma o procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho em Goiás, Tiago Ranieri.

No festival, será trabalhada a necessidade de serem levantadas questões, por exemplo, de por que as mulheres ganham menos. Se for avaliada, então, a situação de uma mulher lésbica e negra ou de um homem declaradamente gay – que é claramente mais afeminado – negro e que mora na periferia, a questão da empregabilidade é ainda pior. “As empresas podem e devem promover a diversidade nas relações de trabalho, começando pela eliminação da discriminação no momento da contratação de quem integra os LGBTI+”, afirma Tiago Ranieri.

O evento também vai frisar a importância de preparar as empresas para que não haja o preconceito contra cadeirantes, deficientes visuais ou deficientes auditivos. Segundo Gomes,  as empresas deveriam trabalhar a questão da criatividade de uma forma muito mais legítima, atingindo a chamada inovação tecnológica como um todo, chegando a altos níveis de profissionalismo e de rentabilização do seu negócio. “Deve-se contratar a diversidade, primeiro porque é o correto, segundo pela questão da diversidade que vai colocar a empresa um passo à frente das outras, e terceiro porque é fundamental que a gente tenha um olhar para o próximo enquanto ser humano, olhando para a sua capacitação e condição de prestar um bom trabalho, independentemente da sua orientação sexual, de gênero, da cor da pele, da religião e por qualquer outra coisa que seja”, comenta Gomes.

Na questão dos registros civis e a alteração de nomes para o público LGBTI+ também existe direitos. “Muitas vezes, o nome registrado não condiz com a personalidade do indivíduo que o porta, ocasionando um enorme desconforto e tristeza, neste caso, para restaurar a dignidade da pessoa, se faz necessário a alteração do nome de registro para o nome social. Esse processo foi facilitado com o julgamento da ADI 4.275/18, possibilitando a alteração do nome e gênero das pessoas transexuais pela via administrativa, ou seja, pelos cartórios de registro civil. O efeito do julgamento é imediato, mas necessita de regulamentação para a efetividade do direito. Em Goiás, recentemente, foi aprovado o provimento 17/2018 do TJGO, que regula a forma de alteração do nome e gênero da pessoa, e obriga todos os cartórios do estado a realizar tal procedimento”, finaliza Rogério Gomes.

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação 

da editora Flávia Popov

SERVIÇO

III DIGO – FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DA DIVERSIDADE SEXUAL E DE  GÊNERO DE GOIÁS

Quando: de 7 a 13 de junho de 2018

Onde: Cinemas Lumière no Banana Shopping (Avenida Araguaia, nº 376, Centro de Goiânia) 

Programação completa: www.digofestival.com.br 

Veja Também