Filme Construindo Pontes é o grande vencedor do 20º Fica

Dirigido pela paranaense Heloísa Passos, com sensibilidade, o documentário de 73 minutos aborda o dualismo político a partir das posturas incisivas da própria diretora e de seu pai, Álvaro

Postado em: 11-06-2018 às 13h30
Por: Guilherme Araújo
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Dirigido pela paranaense Heloísa Passos, com sensibilidade, o documentário de 73 minutos aborda o dualismo político a partir das posturas incisivas da própria diretora e de seu pai, Álvaro

Por unanimidade, o filme Construindo Pontes foi o vencedor do 20º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), da Cidade de Goiás, com o Grande Prêmio Cora Coralina, no valor de R$ 100 mil.

Dirigido pela paranaense Heloísa Passos, com sensibilidade, o documentário de 73 minutos aborda o dualismo político a partir das posturas incisivas da própria diretora e de seu pai, Álvaro. “É uma imersão e uma entrega, onde estou atrás e na frente das câmeras com meu pai”, disse ela.

A discussão do filme surge a partir de uma coleção de filmes em Super-8 com imagens das Setes Quedas, no Paraná, paraíso natural destruído no início dos anos 1980, para a construção da Usina de Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo.

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Lembrar a construção da usina, realizada no auge do regime militar, desperta recordações de um passado imerso em autoritarismo político e econômico. Paralelo a isso, há conflitos de opinião da diretora e do seu pai conservador, diante da conturbada situação política do Brasil de hoje.

O júri se comoveu com a coragem da diretora Heloísa Passos em expor uma relação pessoal, deixando evidente a urgência e necessidade de abrir diálogos, saber ouvir e não fugir de conflitos. “O filme propõe a reconciliação de uma família e talvez até de um país”, comentou o júri.

Para Heloísa, é uma película de descoberta cinematográfica e pessoal, a partir do momento em que ela se propõe a filmar na casa de seu pai, com duas câmeras e um gravador. “Eu descobri um pai generoso fazendo cinema com ele. Isso para mim é transformador porque é o tempo do cinema fazendo a gente olhar a vida dentro e fora da nossa casa”, disse. “A nossa demanda e a correria do dia a dia não nos permitem esse olhar, no cinema, você para pra isso”, observa.

Esse é o primeiro longa-metragem de Heloísa, mas ela já assumiu a direção em sete curtas-metragens, além de atuar como diretora de fotografia em mais de 25 longas.

Dualismo político

Para o cineasta João Batista de Andrade, membro do júri de premiação, o meio ambiente é muito presente no filme, já que uma das grandes discussões ambientais aborda as represas das usinas e de como essa política de geração de energia está inserida na questão ambiental. “E ali a política era a ditadura militar”, disse.

Andrade vê no documentário um retrato da situação política do Brasil de hoje “onde as pessoas não se entendem e onde a verdade de cada um é absoluta”. “É uma divisão que está na sociedade em geral, na opinião pública, mas está no lar, nas relações de irmão, de filho com pais, de gerações”, explicou.

Segundo o cineasta, o filme mostra que cada pessoa tem um histórico de relacionamento com o mundo e analisa as coisas de acordo com sua vivência. “Não há filme melhor para refletir o que acontece no Brasil de hoje e a necessidade de criar pontes e acabar com o absolutismo da visão de cada um”, afirmou. “O filme realmente merecia a premiação”.

Construindo Pontes também ganhou o Troféu do Júri Jovem do Fica, grupo composto por estudantes e representantes dos cursos das áreas de cinema e humanidades das universidades locais.

Para esse júri, a película é premiada por tratar da superação de conflitos pessoais, políticos e ambientais, que dependem da capacidade de combater a intolerância e construir diálogos em busca de uma sociedade mais justa e sustentável.

A diretora Heloísa Passos dedicou a premiação a todas as cineastas e produtoras goianas de cinema. Segundo ela, 74% da equipe do filme premiado no Fica são mulheres. “Nós, mulheres, já trabalhamos há muitos anos no setor do audiovisual, mas de um tempo para cá estamos tendo mais visibilidade. Também temos mais paridade nas comissões de fomento e curadoria, então mais projetos onde a mulher é protagonista e tem esse lugar de fala estão sendo selecionados”, disse.

O Fica foi realizado entre 5 e 10 de junho na Cidade de Goiás e recebeu 40 mil pessoas nos seis dias de programação. O festival é uma realização da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte do governo de Goiás. 

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