Afeto para deixar a decoração da casa mais aconchegante

Decoração afetiva incorpora as memórias pessoais no ambiente e traz mais exclusividade

Postado em: 07-07-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Decoração afetiva incorpora as memórias pessoais no ambiente e traz mais exclusividade

JAÍSA GLEICE

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Objetos de família, recordações de viagens, mobiliários antigos, arte popular revelam a identidade das pessoas. Integrados ao design de interiores, esses adereços humanizam os espaços, personalizam um projeto, destacam a essência de quem mora afastando a mera reprodução de uma imagem bonita. Isso é a decoração afetiva, ou seja, de detalhes que contam história, despertam memórias e tornam a casa ainda mais aconchegante.

A decoração afetiva não é um conceito ou estilo novo na decoração, ao contrário. Porém vem ganhando importância e maior propensão nos últimos tempos.

O designer de interiores Genésio Maranhão, autor do projeto A Grande Sala de Visitas da última edição da Casa Cor Goiás, realizada recentemente na Capital, afirma que a decoração afetiva sempre foi o princípio de seu trabalho. “Afetividade é incorporar algo que conte a história da pessoa”, diz ele.

Genésio buscou inspiração nas décadas de 1950 e 60, e garimpou antiquários para incluir objetos e adornos antigos com traços marcantes das duas décadas. Dentre os destaques, estão os castiçais de prata, o par de luvas de pelica acomodado numa caixa de vidro e um sofisticado colar de pérolas. Cada item guarda uma memória. A lupa sutilmente esquecida sobre os livros também desperta lembranças. A decoração foi feita para a mostra, mas pode ser incorporada em demais situações e ambientes. “É muito importante a casa ter a ‘alma’ de seus moradores. A decoração tem de provocar emoção, despertar sentimento, trazer à tona coisas boas”, afirma. Mas, isso não significa distribuir esses objetos por todos os cômodos. “É preciso respeitar as funções do espaço, verificar inicialmente as atividades que serão desenvolvidas ali para só depois revestir da função estética”, justifica Genésio Maranhão.

Andréia Rocha Lima, designer de interiores, também entende a casa como sendo a extensão das pessoas, de seus gestos, das suas convivências, enfim da própria história. “Fujo da casa intocável e com cara de loja”, garante. A designer assinou o projeto Casa Gente na mostra goiana. O espaço biográfico contou a trajetória de gente que ama, sonha, vive. Ali, ela usou peças do acervo pessoal como fotografias e um calhamaço de escritos, textos de autoria do pai da designer, que é jornalista. “A ideia é a pessoa encontrar alguma referência de sua própria história no ambiente”, conclui.

Antes de criar um projeto, Andréia garante conversar bastante com os clientes até desvendar sua essência e só então trabalhar as memórias afetivas incorporando-as ao estilo de cada um.  “O importante é o ambiente aconchegar quem vive ali”, completa.

A decoração afetiva agrega um valor especial ao ambiente, porque envolve apelo estético e sentimental. É o que garante a arquiteta Mariana Mendonça, que foi responsável pelo Studio da Moça. O projeto moderno, inspirado no slow living – um estilo que reflete uma maneira de viver mais equilibrado e sustentável –, manteve as referências afetivas em evidência.

“Acredito que uma casa tem que representar quem mora nela, ‘relata’ histórias, ser viva e, para isso, uso a decoração que carrega memórias. Isso é uma extensão de você”, assegura Mariana. No Studio, a profissional dispôs de louças de chá, parte do aparelho de jantar pertencente aos pais dela quando se casaram. Foi possível admirar uma câmera fotográfica da década de 80, de propriedade da mãe da profissional e ainda de uma manta feita por sua avó.

Na decoração afetiva, as memórias ficam em evidência. Os itens do passado, não importando se são ou não retrô, trazem boas lembranças são bem-vindos em qualquer moradia, e o ambiente de trabalho não foge à regra. Ali também é possível agregar detalhes que remetam à memória afetiva.

O arquiteto Victor Tomé, que foi responsável pelo projeto Estar, destacou as poltronas Luís XV, um dos mobiliários clássicos, antigos e muito desejados. “Peças de família dão sempre um ‘recado’ e isso é muito positivo. É mais que uma tendência, é pensar no bem-estar de quem mora ou trabalha ali”, diz.

Para ele, os móveis mais antigos, entalhados com detalhes em folha de prata ou ouro, que no passado demonstravam requinte, estão em alta e ganham um reforço a partir da tentativa de resgatar essas lembranças dos bons momentos com a família. “Mobiliários como aquela cômoda ou cristaleira de nossas avós são peças antigas que rementem ao afetivo”, exemplifica.

Segundo o profissional, é importante harmonizar o design e não sair espalhando tudo o que tem importância pela frente. Assim, é possível fugir do impecável e alcançar o único. Objetos menores reavivam as prateleiras, os nichos, os aparadores ou as mesas de canto.

Pratos de porcelana, pratarias e cristais, chapéus, LPs, fotos nas paredes, adereços que imprimem e enriquecem o ambiente, cartas, artesanatos, brinquedos, coleções… A concepção considera a particularidade do morador. 

No fim, a sensação só pode ser o acolhimento e a felicidade. É o que propõe a decoração afetiva. 

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