“O corpo humano é minha maior fonte de inspiração”

José Vasconcellos traz a Goiânia ‘Arquétipos – Relicários Da Memória’, aberta nesta quinta-feira (19)

Postado em: 19-07-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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José Vasconcellos traz a Goiânia ‘Arquétipos – Relicários Da Memória’, aberta nesta quinta-feira (19)

GABRIELLA STARNECK*

A abertura da exposição Arquétipos –  Relicários Da Memória, de José Vasconcellos, ocorrerá nesta quinta-feira (19) para convidados, e estará aberta para visitação de 20 de julho a 18 de agosto na Potrich Galeria de Arte. Dividida em quatro séries, o artista traz em suas obras um pouco das lembranças de infância, estudos da História da Arte e uma espécie de homenagem a mulheres. 

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Para compor o ambiente da exposição, na abertura, o artista une música e fotografia à pintura. A cantora e violinista goiana Milla Yuki é uma das convidadas do artista para apresentar suas composições, assim como o duo Miguel Rojas, no contrabaixo, e Gabriel Garcia, no violão. O fotógrafo dinamarquês Neils Adelsten também estará presente, e trará um conjunto de imagens advindas de sua pesquisa em relação à simbiose dos vegetais. 

Exposição

Arquétipos – Relicários Da Memória é dividida em quatro séries: Musas, Sonhos e Arquétipos, Velazquianas e Deuses, anjos e demônios. As obras, cercada de estudos da História da Arte, memórias da infância e da expressão feminina, carregam um pouco da relação que o artista tem com a sua própria trajetória. “A história do homem é a história de seus símbolos, e esses símbolos é o que guardamos baseado em nossas emoções”, afirma Vasconcellos ao Essência.

A série Sonhos e Arquétipos, por exemplo, traz as lembranças de infância do artista, e remete a época em que Vasconcellos passava as férias escolares na fazenda de seu avô, em Minas Gerais.  O sótão da propriedade e os objetos que lá ficavam, como baús, caixas, bonecas antigas e portarretratos, aguçaram a curiosidade de Vasconcellos, como menino, e ficaram em sua memória – servindo como fonte de inspiração para suas obras. “Sonhos e Arquétipos se baseia em todas as minhas lembranças de infância. Eu considero essa série como a mais importante, porque, além de trazer os meus sonhos, traz um sonho comum a todos, que é a infância”, afirma o artista. 

As obras de Vasconcellos também trazem sua admiração pelo pintor, Diego Velázquez (1599 -1660), em que ele sempre frisa a pintura nos olhos vendados da Série Velazquianas em respeito às obras originais do artista espanhol. Influenciado pela cultura espanhola, já que atualmente o artista reside nesse país, Vasconcellos traz várias mulheres ‘emponderadas’ e à frente de seu tempo. Na exposição Arquétipos – Relicários Da Memória, é possível notar essa referência na série Musas que, segundo o artista, “é uma homenagem as mulheres espanholas”. Para Vasconce­llos, a Espanha é um dos países mais originalmente cultural do mundo. 

José Vasconcellos

Mineiro, radicado há mais de 40 anos na Dinamarca e atualmente residindo em Málaga, na Espanha, o artista carrega uma grande bagagem quando o assunto é pintura. Apaixonado pelas artes desde os 11 anos, Vasconcellos começou a atuar profissionalmente no Brasil, mas foi fora do País que o artista alçou novos voos, embora nunca tenha esquecido suas raízes. Sua primeira exposição ocorreu em 1968, no Rio de Janeiro, mas em 1973 o artista de que ir para o Chile, juntamente com sua esposa, a pianista Valeria Zanini, pressionado pelo regime militar. Após um ano, o casal precisou se mudar para a Dinamarca, onde ficaram por mais de 40 anos. 

Vasconcellos, mesmo com quase 80 anos, continua sendo um artista denso e extremamente articulado. Ele realiza exposições em galerias e instituições de arte do mundo inteiro. Vasconcellos já participou de mostras coletivas em Paris, individuais em diversas galerias da Europa, e está em coleções importantes de sheiks árabes, franceses e críticos de arte internacionais.  O artista foi o único brasileiro selecionado para doar uma obra ao acervo do Art Erotic Museum, em São Francisco, nos EUA. E, para falar mais sobre a sua trajetória, Vasconcellos participou de um bate-papo com o Essência. Confira a entrevista abaixo. 

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov

SERVIÇOS 

Exposição ‘Arquétipos – Relicários Da Memória’

Quando: abertura – 19 de julho / Visitação – de 20 de julho a 18 de agosto de 2018

Onde: Potrich Galeria de Arte (Rua 52, nº 689, Jardim Goiás – Goiânia) 

Horário: as visitas deverão ser agendadas

Entrada gratuita  

Entrevista: José Vasconcellos 

Embora você esteja morando em outro país, de que forma sua obra traz referência as suas raízes?

Eu adoro o Brasil, por isso não consigo ficar mais que quatro meses sem vir ao País. Eu tenho orgulho de viver há tanto tempo no exterior e, mesmo assim, não perder o meu sotaque mineiro. Em meu trabalho, trago referência às minhas raízes, como as obras que remetem à época das minhas férias escolares, em que eu ficava na fazenda do meu avô, em Minas Gerais. 

Por que você saiu do Brasil?

Deixei o País na época da ditadura. Por ser artista, achavam que eu ‘era perigoso’, então fui para o Chile e, depois, para a Dinamarca. Atualmente, moro na Espanha porque, em 2016, minha esposa faleceu. Como nossa filha é jornalista e correspondente em Israel, não tinha mais sentido eu ficar na Dinamarca, então me mudei. 

Você pretende voltar a morar em sua terra natal?

A situação do Brasil, no momento, não me anima, como artista, a ficar por aqui. Em 2017, eu participei da Bienal de Málaga, e ganhei prêmio. A partir disso, você não pode imaginar o tanto de galerias pelo mundo que me pediram quadros. Então, agora, depois desse evento, é que eu comecei a receber convites de galerias do Brasil, que, anteriormente, me ‘renegaram’. Então já disse ‘não’ para galerias de São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza que que me convidaram para fazer exposições. Atualmente, trabalho com galerias na Europa, em Nova Iorque, no Japão, mas, no Brasil, só faço exposições na Potrich. É o meu segundo trabalho que trago para a galeria.

Você acredita que as suas obras tenham alguma característica que define a sua identidade?

As críticas, que são boas, sempre me colocam como representante do realismo fantástico, outras como simbolista. Mas, para mim, eu sou eu e acabou. Sou ‘Vasconcellista’. (risos) 

Falando mais sobre você, como surgiu sua paixão pelas artes?

Desde os 11 anos de idade que eu pinto. Inclusive tive muitos problemas na escola, porque não queria saber de Desenho Geométrico e Matemática, por exemplo. Eu só gostava de História  e de desenhar. 

O que te inspira a fazer suas obras?

Agora você me pegou (risos). Eu sou apaixonado por modelo feminino. Para mim, a mulher é a expressão da beleza em sua totalidade, mas também pinto a figura masculina. O corpo humano é minha maior fonte de inspiração. 

Por que, para você, a Espanha é um dos países mais originalmente culturais do mundo?

A Espanha é um país que possui uma herança cultural muito grande. Foi um país formado por conquista gregas, romanas e, sobretudo, árabe. O que a Espanha conservou de sua cultura é impressionante, por isso o país é berço de grades artistas da atualidade, como Picasso. A Espanha, para mim, é um dos países mais importantes da história da evolução das artes no mundo.  

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