‘Abrakadabra’: o poder de transformação da mágica

Arte mágica desperta não somente o lúdico nas pessoas, mas a esperança por dias melhores

Postado em: 16-08-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Arte mágica desperta não somente o lúdico nas pessoas, mas a esperança por dias melhores

GABRIELLA STARNECK

ESPECIAL PARA O HOJE

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Em tempos em que a sociedade tem dificuldade de encontrar motivos para se encantar, apreciar uma apresentação de arte mágica pode ser uma boa alternativa, não somente para se distrair em meio aos problemas do dia a dia, mas também para refletir que um simples amanhecer é, do mesmo modo, uma mágica. E o público goiano terá a oportunidade de ter contato com essa atividade cultural, bastante rara e divertida, por meio da turnê Abrakadabra, a Grande Noite, que ocorrerá em três cidades do Estado  – Anápolis, Inhumas e Goiânia –, nos dias 17,18,19 e 25 de agosto. 

Embora a arte mágica seja comum em festas particulares infantis, circos temporariamente sediados nas cidades ou até mesmo em eventos corporativos, em Goiás, o público não tem acesso a shows que contemplam exclusivamente essa atividade cultural. Foi diante desse cenário que a União dos Mágicos de Goiás resolveu promover essa turnê. “Os artistas – tanto circenses quanto das artes mágicas aqui de Goiás – reparam, há muito tempo, que existe uma lacuna em relação a essa manifestação artística, no Estado, e uma demanda de interesse por parte das pessoas. Todo mundo reclama que nunca foi a um show de mágica em teatro. Então existe por um lado uma demanda e também uma carência de mercado, isso nos motivou a fazer”, afirma um dos organizadores do evento, Leonardo Teixeira (mágico ‘tio Leo’), ao Essência. 

Turnê 

Segundo Leonardo, o primeiro grande show coletivo de artes mágica realizado em teatro, em Goiás, ocorreu no ano passado, no dia 13 de outubro, no Teatro Goiânia: “Em 2017, em comemoração ao Dia das Crianças, fizemos um show de mágica, mas neste ano resolvemos expandir e fazer a turnê Abrakadabra, a Grande Noite, porque anteriormente havia sido apenas um dia de espetáculos. Como o evento foi ampliado, estamos trazendo mais artistas de fora. Mas, como não contamos com patrocínios e lei de incentivo, foi a necessário a disposição dos artistas locais, que não cobraram cachê, ou seja, doaram seu trabalho, para que nós pudéssemos trazer artistas de outros Estados”.

A atração internacional que vem para o evento é o mágico europeu Oderges (nascido em Luxemburgo) que, com nove anos de carreira profissional, já se apresentou para públicos de diferentes idades e países. O destaque nacional é o Mágico Capitão Jack, conhecido por fazer um ato de magia e pirata, com um personagem que se parece com Jack Sparrow, do filme Piratas do Caribe. Outro destaque nacional é o paulista Mágico New, que trabalha com público infantil e  ilusionismo com pombos. Além disso, o show conta com cinco atrações locais: o mágico tio Leo, o ilusionista Hawey, Jorge Sorus, Tom Astro e Mister Sam.

Durante a turnê Abrakadabra, a Grande Noite o público poderá conferir diversos estilos de técnicas da arte mágica, como a grande ilusão (salão/palco), close-up (conhecido no Brasil como ‘na cara do freguês’), cômico (com ou sem esquetes), rotinas de ilusionismo, mentalismo, dentre outros. O espetáculo é voltado não só para o público infantil, mas também para adultos. Não é raro observar adultos assistindo a tais apresentações, talvez pelo caráter lúdico ou impactante das realizações impossíveis. É provável que a justificativa para isso seja a carência da humanidade em se encantar, acreditar e voltar a sonhar como criança. E, para falar mais sobre o evento e as artes mágicas, o mágico tio Leo, também conhecido na literatura como Leonardo Teixeira –  sendo membro da União Brasileira de Escritores –, realizou um bate papo com o Essência. Confira a entrevista abaixo. 

SERVIÇO

‘Abrakadabra, a Grande Noite Mágica’

Quando: 17/8 às 20 h – Inhumas (auditório da Prefeitura)

18/8 às 20 h – Anápolis (Teatro São Francisco)

19/8 às 18 h – Goiânia (Teatro Sesi – Ferreira Pacheco)

25/8 às 19 h – Goiânia (Goiânia Ouro)

Entrada: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia) 

Entrevista: Leonardo Teixeira (‘mágico tio Leo’) 

Qual a principal proposta da turnê ‘Abrakadabra, a Grande Noite’?

Preencher uma lacuna existente em Goiás em relação a arte mágica – além de atender uma demanda de pessoas que se interessam por essa manifestação artística. A partir do momento em que todos nós, artistas locais, percebemos que um dia alguém nos procurou alegando que sentia falta de shows de artes mágicas, que era algo coletivo, resolvemos nos unir para fazer a turnê. Geralmente, quem vai a um show de mágica, gosta, inclusive o público adulto – mesmo que a apresentação seja voltada para as crianças. 

O que o público pode esperar em relação às atrações da turnê?

O público pode esperar um show realmente impactante, com um misto de humor e ilusionismo. Como o teatro é pontual, e o brasileiro não é britânico, vamos começar o show pontualmente às 18h com close-up – mágica de proximidade. O artista vai até a cadeira onde as pessoas estão sentadas, no meio do público mesmo, e faz a mágica muitas vezes acontecer nas mãos das pessoas – isso já causa um impacto surpreendente. Depois, passamos para mágica de salão, tradicionalmente conhecida como ‘mágica de palco’. Como os artistas vão se intercalando, cada um apresenta cerca de dez minutos, o show fica bastante dinâmico, então não fica cansativo, porque tem muitos estilos, mistura de musical com humor, além de interação com a plateia. Então o público se encanta não só com o visual, de ver o que está acontecendo, mas por estar participando, e, em um terceiro momento, fazendo até mesmo as mágicas acontecerem. Nessa apresentação não vamos fazer hipnose de palcos, mas sim números de mentalismo – em que prevemos o resultado do que vai acontecer, ou fazemos um efeito aparentemente sobrenatural ali na frente das pessoas. Além disso, embora o foco seja artes mágicas, o nosso cerimonialista é um palhaço. 

Em tempos em que a depressão tem atingido tantas pessoas, qual a importância de eventos como este que despertam não só o lúdico, mas também a esperança nas pessoas?

O que falta no mundo é a sensibilidade. As pessoas precisam ser impactadas, precisam se encantar com as pequenas coisas, com os momentos mágicos do dia a dia. Se a gente encarar que um novo dia, que vem depois de uma noite escura, é uma mágica, uma nova oportunidade, a abertura de uma porta, a gente muda o foco do nosso olhar. Inclusive temos trabalhos efetivos que buscam mudar essa questão.  Eu faço parte do Learn the Art of Magic (LAN), que é um projeto que resgata pessoas pobres, desnutridas, crianças de rua e idosos, e ensina a eles a arte mágica. Esse movimento impactada e modificada, por meio dessa arte, milhões de pessoas. É um serviço voluntariado que ocorre no mundo todo; ele também atua no Brasil, mas em menor escala – o foco são pessoas carentes da África. A gente faz os nossos eventos privados? Sim, recebemos pra isso, mas cada um de nós também atua em serviços voluntariados. Eu, por exemplo, todo mês vou ao Hospital das Crianças e também procuro ir a asilos. E onde antes a gente via a situações tristes e drásticas, de pessoas abandonas pela família, de idosos que estão simplesmente esperando a morte, com o entretenimento, com a mágica, isso muda. Então, anteriormente, onde existia dor e sofrimento, por meio das artes mágicas começa a ter alegria, impacto, encanto – e isso a gente vê na prática. Então em locais onde há crianças no leito de uma UTI, por exemplo, quando a gente passa por lá elas são modificas pela presença do lúdico. Quando alguém vê uma situação impossível acontecer, mesmo que seja com um objeto, lenço ou baralho, a pessoas passa a acreditar que aquele impossível pode acontecer com ela. E já está mais do que provado pela ciência que a força de vontade e a mente têm muito poder, e poder até mesmo de cura. Então a gente repara que isso tem uma ligação direta com o que a gente trabalha. 

Qual a diferença entre a arte circense e as artes mágicas?

Elas estão integradas, mas existe uma grande diferença entre essas artes. A arte mágica geralmente ocorre no teatro; é isso que também buscamos resgatar, porque a origem dela é em palcos de teatro. Já a arte circense está mais ligada ao circo, que é móvel, se desloca. É claro que os grandes circos do mundo contam com a atuação de bons mágicos também, porque, embora sejam artes distintas, elas se integram. Inclusive existe certa confusão e preconceito por parte de algumas pessoas que têm convicções religiosas mais fortes em relação à arte mágica, não à circense. Algumas pessoas confundem essa manifestação artística  com magia negra. Por mais incrível que possa parecer, ainda tem gente que faz essa relação, mas não tem nada a ver. Inclusive um dos mágicos que se apresenta na turnê, o New, ele é pastor. 

Qual a principal dificuldade que as pessoas que atuam com artes mágicas enfrentam?

A minoria dos artistas locais vive exclusivamente da arte mágica. Essa atividade cultural exige um investimento financeiro maior, por isso essa manifestação artística é um pouco mais rara – isso também explica o fato de o cachê de um mágico ser maior. Os equipamentos são caros, geralmente vem de fora, então o investimento é alto. Outro fator é que hoje, aqui no Brasil, a gente não tem uma formação, um curso de arte mágica. Muita gente até nos procura para fazer isso. Além disso, a maioria dos bons cursos está em outras línguas – inglês, francês e espanhol. Até existem trabalhos portugueses, mas são poucos.  

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