Paraíso escondido no sertão sergipano

‘Cânion do Xingó’ é um roteio exótico dos estados de Sergipe e Alagoas

Postado em: 20-08-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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‘Cânion do Xingó’ é um roteio exótico dos estados de Sergipe e Alagoas

SABRINA MOURA*

O Rio São Francisco é um dos mais importantes do Brasil. Os cânions que se localizam entre Sergipe e Alagoas projetaram os dois estados para o cenário turístico nacional. O Cânion do Xingó surgiu após o represamento das águas do Rio São Francisco para a construção da Usina Hidrelétrica do Xingó (inaugurada em 1994), na divisa entre Alagoas e Sergipe, sendo o quinto maior cânion navegável do mundo.

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A forma mais fácil para chegar até o local é por meio das embarcações, que saem da cidade de Canindé de São Francisco, a 210 quilômetros da capital de Sergipe. Partindo de Maceió, são 280 quilômetros. Segundo estudos geológicos, o local era o fundo do mar há mais ou menos uns 65 milhões de anos atrás. Com a divisão então das placas tectônicas, uma regrediu para onde se encontra hoje e deixou uma fenda aberta. Em meio a um paredão rochoso, existe também um pequeno santuário para São Francisco. 

O Cânion do Xingó é formado por um vale profundo. São mais de 60 quilômetros de extensão e a água do rio pode chegar a 190 metros de profundidade. Após alguns minutos de navegação pelo São Francisco começam a aparecer os primeiros cânions como a Pedra do Gavião, o Morro dos Macacos e a Pedra do Japonês. Mas o impacto mesmo vem com a aproximação ao Paraíso do Talhado. Outra atração é a Gruta do Talhado e seus paredões avermelhados. 

Gruta do Talhado 

A Gruta do Talhado em Aracaju, Sergipe, está do Cânion do Paraíso Talhado, no Rio São Francisco. A gruta é composta por enormes rochas de arenito, com formatos diversos. Para explorá-la, o ideal é fazer um passeio de barco ou para os mais corajosos por meio de mergulho. Próximo ao local da gruta, o catamarã (embarcação) ancora, sendo possível ter o prazer indescritível de mergulhar nas águas frias e esverdeadas do maior rio genuinamente brasileiro. No local, sua profundidade é de cerca de 15 metros. Para quem não sabe nadar, são disponibilizados coletes salva vidas, ‘macarrão’, etc.

Museu de Arqueologia de Xingó

Entre os passeios fora das águas do Rio São Francisco, a dica é o Museu de Arqueologia de Xingó (Max). Desenvolvido pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), ele foi inaugurado em abril de 2000, surgindo como uma estratégia para permitir a manutenção da pesquisa e a preservação do patrimônio arqueológico do Baixo São Francisco, resultante do salvamento arqueológico realizado pela UFS de 1988 a 1997. A organização estrutural do MAX é constituída pela Administração Central, pelos Laboratórios de Pesquisa Arqueológica e Reserva Técnica, pelo Sítio Escola e pela Unidade de Exposições, que dá corpo e sentido ao MAX, situada no município de Canindé do São Francisco, Sergipe. 

Seu acervo contém peças de arte rupestre, esqueletos humanos e diversos utensílios descobertos durante pesquisas em sítios arqueológicos da região.A coleção do MAX é formada por mais de 50 mil peças e obras. A exposição destaca como as peças históricas e artefatos antigos foram elaborados, incluindo a explicação das práticas utilizadas para a construção das peças. Há, ainda, no museu, um programa educativo para o público, que tem como objetivo explicar e problematizar os conteúdos da Pré-História, a fim de conscientizar as pessoas sobre a importância da preservação do patrimônio cultural histórico.

Ainda no meio da arqueologia, os visitantes também encontram, o Sítio Arqueológico Mundo Novo. Nele, o visitante tem a oportunidade de conhecer as formações de arenito e pintura rupestre no local. São sete trilhas pela a caatinga, de nível fácil e guiadas. O sítio fica na estrada que segue para Paulo Afonso; suas visitas são pagas e devem ser agendadas. Espécies da fauna como Asa Branca, Beija-flor, Carcará, Acauã, Quero-quero, Camaleão e Sagüi, dentre outras, também podem ser vistas por lá.

Trilhas

Segundo consta, na década de 1930, o sítio teria sido utilizada como abrigo de Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido por ‘Lampião’. Inclusive, dentro da própria fazenda, existe uma trilha que leva até a um dos esconderijos por onde o Rei do Gangaço e seu bando passaram. Para os trilheiros de plantão, o local reserva boas surpresas. 

O começo é pela Trilha da Arqueologia, onde o turista encontra cinco sítios arqueológicos – registrados por pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS), com artes rupestres datadas de nove mil anos de existência. As pinturas rupestres encontradas nas rochas e nas cavernas da Trilha da Arqueologia, retratam a vida e o cotidiano dos homens da época da pré-história.

A Trilha Cordilheira do Sol, com uma extensão de cerca de 1.200 metros, apresenta-se mais bela no horário do pôr do sol. A Trilha do Cangaço conta a história e mostra alguns dos esconderijos de Lampião e seu bando. Ali, é possível ver a banheira de Maria Bonita e a Pedra do Dominó. Local que servia de ‘salão de jogos’ dos cangaceiros e a Pedra do Abraço, o cantinho onde Lampião dormia com sua amada Maria Bonita.

No fim da Trilha Alto do Céu, o visitante é presenteado por dezenas de paredões que formam o belo cenário do Rio São Francisco. Por fim, na Trilha dos Veados, é possível ver formações rochosas de beleza cênica, (pedra da galinha choca e da tartaruga) bromélias rupestres e a toca do Arlindo. Todas as trilhas estão bem sinalizadas, e o nível de esforço é baixo.

A região de Canindé de São Francisco, no sertão, possui um clima semiárido e apresenta temperaturas absurdamente quentes durante o dia. O ideal é aproveitar o início da manhã e o finalzinho da tarde para fazer as trilhas.

Carrancas 

As esculturas de madeira em forma de homem ou animal, conhecidas por carrancas, são muito comuns na região do Xingó. Fazendo parte da cultura popular, a carranca ajuda a espantar os maus espíritos das embarcações que navegam pelo Rio São Francisco.

Os dicionários de língua portuguesa definem a palavra carranca, como sendo “figura sombria, de cara feia e disforme, indicativo de mau humor”.Essas esculturas surgiram na cultura nordestina, mais propriamente no meio da civilização ribeirinha do Médio São Francisco por volta de 1875/1880 e durou até o ano de 1940, quando se encerrou o ciclo das embarcações no Brasil.

Existem muitas versões históricas sobre o aparecimento das carrancas, na região nordestina. Porém a tese decorrente de estudos antropológicos, que possui maior probabilidade, é a que defende o aspecto lendário das carrancas, que, segundo a crença e o misticismo do povo primitivo que habitava aquela região, as carrancas serviam de amuletos de proteção e salvaguardavam os barqueiros, viajantes e moradores contra as tempestades, perigos e maus presságios.

Serviam também para espantar os animais e os duendes moradores do rio São Francisco que de noite saiam das profundezas das águas para assombrar barqueiros, tentar mulheres e roubar crianças. Esses seres ao verem as figuras das carrancas nas proas, de olhos esbugalhados, de bocas enormes escancaradas e agressivas, se espantavam e se recolhiam aos seus esconderijos.

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação 

da editora Flávia Popov 

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