2ª Mostra de Cinema Psi começa nesta quarta-feira em Goiânia

Evento traz filmes, profissionais da psicologia, psicanálise e psiquiatria em torno do tema ‘Mulher Contemporânea’

Postado em: 22-08-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Evento traz filmes, profissionais da psicologia, psicanálise e psiquiatria em torno do tema ‘Mulher Contemporânea’

SABRINA MOURA*

A 2ª Mostra Cinema Psi tem início, nesta quarta-feira (22), e vai até 29 de agosto, no Cine Lumière Bougainville, na Capital. Durante a programação, serão exibidos 13 filmes, e os profissionais da psicologia, psicanálise e psiquiatria realizarão palestras que giram em torno do tema A Mulher no Mundo Contemporâneo. 

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Segundo Lisandro Nogueira, que é professor de Cinema da Universidade Federal de Goiás (UFG) e curador da mostra, o intuito é debater questões da saúde mental, psíquica e emocional que incomodam o mundo contemporâneo. “Ao mesmo tempo em que esse mundo é fascinante, traz questões graves que afetam a vida emocional das pessoas. De maneira geral, o que nós queremos com essa mostra é exatamente discutir e trazer à tona essas questões. O tema deste ano é a  Mulher Contemporânea: as mulheres nunca tiveram uma visibilidade e um protagonismo tão grande como agora, mas, ao mesmo tempo, têm problemas. O objetivo é exatamente discutir as várias questões que envolvem a mulher contemporânea”, diz Lisandro. 

A Mostra de Cinema Psi debate temas de saúde mental, a subjetividade, as questões emocionais, como os temas são relacionados com a vida cotidiana, com o mundo da política, da família, etc. “A mulher contemporânea vem protagonizando e assumindo papéis que nunca assumiram. Temos um leque variado de temas sobre a mulher nos filmes para debater com os convidados”, conta Lisandro. “Trazemos também um enfoque nos homens do mundo contemporâneo que estão completamente perdidos e frágeis nos dias atuais. Inclusive essas corrupções existentes com homens loucos por poder, na minha opinião, é uma fraqueza, vontade de ter poder para que as mulheres gostem deles, para que elas não os abandonem e eles possam ter ainda um prevalência. Vamos discutir também sobre essa fraqueza masculina”, completa. 

Dentre os convidados desta edição, estão o filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé, a psicanalista e escritora Regina Navarro (que concedeu entrevista ao Essência), o psicanalista e professor titular do Instituto de Psicologia da USP Christian Dunker, além de profissionais atuantes em Goiânia, como a psicóloga Gina Bueno, a psiquiatra Valéria Ávilla e as psicanalistas Glacy Roure, Luciane Carneiro, Luciene Godoy, Márcia Marina, Ruskaya Maia e Valéria Ferranti. Lisandro conta que procuraram trazer filmes que debatam a questão feminina: “São filmes que trazem clareza e ajudam a ver melhor essa mulher contemporânea que serão debatidos com os convidados”.

Sobre as produções que giram em torno do mundo feminino os profissionais colocam em pauta os temas: A Mulher e o Amor Romântico no Mundo Contemporâneo; A Mulher, o Amor e o Desejo Quase Absoluto; As Perdas e a Memória da Vida de uma Mulher”; “O Autismo”; “Os Desafios para a Mulher Contemporânea”; “Os Mistérios de uma Mulher” – dentre outros. 

A psicanalista, escritora e colunista semanal da Globonews Regina Navarro Linsministra palestra sobre assuntos como relacionamentos afetivos e sexualidade. Para o evento em discussão, ela aborda o tema Amor e Sexo Após os 50 Anos. Confira, abaixo, a entrevista que ela concedeu ao Essência.

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação 

da editora Flávia Popov

SERVIÇO

2ª Mostra Cinema Psi

Quando: de 22 até 29 de agosto de 2018

Onde: Cine Lumière Bougainville (Rua 9, nº 1.855, Setor Marista – Goiânia) 

Entrevista: Regina Navarro Lins (psicanalista e escritora) 

Na sua opinião, qual a importância da mulher no mundo contemporâneo, que é o tema principal do evento?

Durante muitos séculos, na verdade, há cinco milênios, a mulher sempre foi desvalorizada, desprestigiada, violentada; ela não podia pensar em fazer nada a não ser cuidar dos filhos. A partir da pílula anticoncepcional, assistimos a uma mudança profunda no papel da mulher, quando surgiram os movimentos de contracultura (hippie, feminista, LGBTI+, etc). A partir do movimento feminista, as mulheres puderam lutar pela sua independência, sua autonomia, pela sua entrada ao mercado de trabalho, e o mais importante, que foi escolher se quer ter filhos, quando quer e com quem quer. As mulheres e o próprio movimento (feminista) vêm crescendo; elas mostram que não estão mais dispostas a se submeter às imposições feitas pelo homem e pela nossa cultura patriarcal. Hoje, elas exigem o seu lugar no mundo, serem respeitadas, valorizadas. Contudo é um projeto longo, ainda se tem muito a caminhar. Existem pessoas que atacam o movimento feminista, e eu só consigo pensar que quem ataca o feminismo é aquele que desconhece totalmente a história e não tem a ideia da opressão que a mulher sofreu, não conhece ou não se importa com a violência sofrida pela mulher.

Qual a importância em trazer o tema ‘Amor e Sexo Após os 50 Anos’?

Eu vou falar de um filme muito interessante, chamado 45 Anos, com a Charlotte Rampling, que inclusive ganhou Óscar com esse trabalho. Ele mostra a vida de um casal de mais de 70 anos que foi morar em uma cidade pequena logo após a aposentadoria. Vou discutir sobre a relação amorosa e sentimental em torno dessa idade, e também sobre o amor romântico. O amor é uma construção social que, em cada período da história, se apresenta de uma forma. O amor romântico entrou no casamento, para valer, mais ou menos no século 20.

Quais os tabus em relação a esse tema?

Durante muito tempo, só se aceitava que a mulher se interessasse por sexo no período reprodutivo, então uma mulher depois dos 40 anos já não poderia mais se interessar. Atualmente, isso está mudando; a pílula, ao dissociar sexo da procriação, contribuiu muito. Hoje, as mulheres sabem que elas podem ter prazer independente da procriação e podem ter prazer até o fim da vida. Hoje, não existe limite para o sexo nem para o prazer.

Tendo em vista as prioridades que a mulher institui em sua vida hoje em dia, como realizar viagens dos sonhos e concluir pós-graduações, ela acaba postergando o sonho de ser mãe. Como você opina?

Eu acho muito importante a mulher poder escolher se quer ser mãe e quando quer ser. Durante muito tempo, a mulher não podia escolher, porque, a partir do momento do casamento, ela já teria que ter filho, porque todo mundo procurava saber quando viria o bebê.  Hoje, as pessoas já começaram a perceber que a mulher tem o direito de decidir inclusive não ter filhos. É um passo muito importante! Não é o fato de a mulher ter um aparelho reprodutor que significa que todas têm que desejar ter filhos. Sobre a questão de adiar, é que, antes, as mulheres não tinham seus projetos, suas funções; era só cuidar dos filhos. Agora, ela tem vários projetos, e vai ter filho se quiser e no momento que ela achar mais adequado.

Em sua opinião, essas prioridades acabam atrapalhando a relação íntima entre os casais?

Não atrapalham. Dependendo de quem a mulher escolhe. Estamos no meio de um processo de uma profunda mudança das mentalidades (formas de pensar, etc). Os homens que sempre aprenderam a ser machistas também são prejudicados; eles acham que a mulher tem de colocar como prioridade o casamento e os filhos. Agora, o ideal é que a mulher seja livre e não seja submetida a esses valores. Há muitos homens, atualmente, que já estão se libertando desse mito da masculinidade e do machismo.  

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