Natureza humana ganha destaque em ‘O Príncipe Feliz’

“É importante a gente olhar para o outro, porque nós também somos o outro de alguém”

Postado em: 25-09-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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“É importante a gente olhar para o outro, porque nós também somos o outro de alguém”

GABRIELLA STARNECK

ESPECIAL PARA O HOJE 

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Em um mundo tão polarizado e individualista, trazer um espetáculo teatral que aborda a natureza humana com comicidade, drama e poesia é fundamental. Isso porque a arte é uma boa ferramenta para despertar reflexões no espectador, só que de forma mais leve. Pensando nisso, o conto O Príncipe Feliz, livre adaptação da obra de Oscar Wilde, será apresentado nesta terça-feira (25) e quarta-feira (26) no Teatro Sesc. O Príncipe Feliz, encenado por Rita Alves e Caco Rodrigues, faz parte do projeto Um Conto, Dois Encontros… que conta com patrocínio da Lei Goyazes. Por esse motivo, todas as apresentações são gratuitas.

A peça será encenada em outros locais da Capital, como a Associação de Serviço à Criança Especial de Goiânia e o parque Bosque dos Buritis, e em outras cidades do Estado: Aparecida de Goiânia, Trindade e Aragoiânia. “Nós queríamos fazer uma montagem que pudesse ser apresentado no teatro, mas também em espaços alternativos, porque, como em Goiânia há poucos teatros, de certa forma o acesso a esses locais acaba sendo restrito. Por acreditar que grande parte da população não tem acesso a espetáculos, pensamos em levar essa manifestação artística para outras regiões”, afirma Rita Alves.

Projeto 

Um Conto, Dois Encontros… é uma iniciativa que tem intenção em promover o encontro do público com o espetáculo O Príncipe Feliz tanto no teatro como fora dele. Ir do Centro à periferia, contemplando diferentes públicos. A proposta é descentralizar o acesso à cultura para que comunidades que não têm acesso a essas manifestações artísticas também possam apreciar o fazer teatral. Inclusive o nome Um Conto, Dois Encontros… tem referência com a proposta do projeto, como explica Rita: “No caso um conto, O Príncipe Feliz, com dois encontros: nos espaços alternativos e também no teatro”. 

A atriz, que também é idealizadora da iniciativa, fala sobre a importância do projeto: “Assim como a educação, as atividades artísticas são fundamentais para a formação do ser humano. Eu acho que a maioria das pessoas que tem acesso a arte são mais éticas, conseguem se colocar no lugar do outro, conseguem entender uma situação, apesar de nunca tela-lá vivenciado. Por isso é importante estar levando o espetáculo para outras comunidades, que geralmente são carentes de tudo. Queremos que esse público também tenha acesso a arte.”

Espetáculo

O Príncipe Feliz é uma livre adaptação do conto de Oscar Wilde, escrito em 1888. O espetáculo continua sendo atual, porque ele aborda a natureza humana e, embora tenha passado muitos anos desde a escrita original da obra, como afirma Rita Alves, o ser humano pouco mudou. A atriz, que também é responsável pela adaptação do conto à dramaturgia, fala sobre as diferenças da obra de Oscar Wilde do espetáculo que será apresentado a partir de amanhã.

“Na versão original de O Príncipe Feliz, os personagens principais são o príncipe, que é um estatua, e uma andorinha. No nosso espetáculo, colocamos uma artista de rua no papel do pássaro, porque acreditamos que a arte é capaz de mudar, de tocar o espectador com a mensagem que está sendo passada. Outra mudança é que no conto, a andorinha está migrando, porque o inverno está chegando. Na nossa peça, a artista de rua está caminhando para a cidade grande em busca do sucesso. Mas quando ela se depara com a estátua, a artista passa a se questionar o que realmente é importante para ela”, afirma a adaptadora.

Rita, para adaptar o conto de Oscar Wilde ao espetáculo, também usou outras duas obras do escritor: O Rouxinol e a Rosa e O Aniversário de Infanta que, juntamente com o texto de Rutebeuf- Pregão das Ervas do século 13, alguns trechos de poesia de Fernando Pessoa – e a poesia O Bicho, de Manuel Bandeira, compõe toda a dramaturgia do espetáculo. A encenação ficou a cargo de José Regino de Oliveira, ator e diretor graduado pela Fundação Brasileira de Teatro.

Sinopse 

O Príncipe Feliz é uma estátua que foi colocada na praça da cidade em homenagem ao Príncipe Feliz após a sua morte. Ao ser colocada na cidade, a estátua, que antes vivia rodeada pelos muros altos do palácio e não podia ver para além deles, vê e contempla a miséria do homem, e, se sentido impotente diante de tanto sofrimento, se entristece. A estátua está ali, há mais de séculos, e, neste tempo, viu a cidade sendo abandonada, aos poucos, pelos seus habitantes que se dirigiam as grandes metrópoles em busca de melhores oportunidades. Mesmo a cidade estando quase deserta, toda noite o príncipe a contempla, do alto de seu pedestal, observando os poucos moradores que ali ficaram, e na sua impotência diante de toda a miséria de seu povo, chora.

Em um dia, ao cair da noite, surge Diadorinha, uma palhaça em busca do estrelato, que quer chegar à cidade do show business e se tornar uma grande estrela. Procurando um lugar para descansar, ela se depara com a estátua do Príncipe Feliz, e resolve passar a noite ali. No meio da noite, Diadorinha acorda pensando que está chovendo quando percebe que é a estátua que chora. Após equívocos e estranhamentos o Príncipe vê, em Diadorinha, a possibilidade para amenizar um pouco o sofrimento de alguns moradores da cidade, fazendo dela sua mensageira. Assim, o Príncipe doa o rubi de sua espada para uma mulher que está com o filho doente, um de seus olhos que são safiras raras para um homem que mora na rua e vive a comer restos e o outro para uma menina que vende doces e deixou todos caírem na sarjeta. 

Diadorinha também ameniza a tristeza do Príncipe, fazendo para ele uma apresentação com um boneco corcunda. Quando o Príncipe fica cego, a personagem, que estava sempre de partida, decide ficar com ele para sempre. Os dois estabelecem uma relação pautada pela poesia, e a palhaçaria que vai durar até o fim do espetáculo, com o Príncipe pobre e nu, pois, doou também todo ouro que existia em seu corpo estátua. Neste momento, Diadorinha vai vesti-lo com sonhos, uma linda capa bordada com todos seus sonhos.

Reflexão 

Para Rita, o espetáculo desperta uma reflexão no espectador, justamente por abordar a questão de se colocar no lugar do outro, de refletir sobre a natureza humana: “Eu sou suspeita para falar, mas gostaria que as pessoas saíssem do teatro olhando para elas e pensando: O que eu quero? O que estou fazendo por mim? Das coisas que acredito, até que ponto eu peguei verdades prontas e estou apenas reproduzindo? O Príncipe Feliz traz uma mensagem de olhar para dentro de si. Mas vale ressaltar que uma obra é sempre aberta, e  cada um absorve a partir do seu repertório cultural”. 

A plateia pode esperar em O Príncipe Feliz um espetáculo onde há o poético, o drama e o cômico para falar do humano. “Queremos, assim, tocar o expectador para que ele possa acessar ‘lugares’ que, na correria pela sobrevivência, esteja meio esquecido”, finaliza Rita. 

SERVIÇO

‘O Príncipe Feliz’

Quando: terça-feira (25) e quarta (26) às 20h

Onde: Teatro Sesc (R. 15, Q. 42, nº 237, Setor Central – Goiânia)

Entrada: gratuita

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