Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Mostra ‘Traço Expandido’ será exibida primeira vez em Brasília

Evandro Soares, radicado em Goiânia, retrata sua investigação poética e a correlação entre fotografia, desenho e objeto

Postado em: 06-11-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Evandro Soares, radicado em Goiânia, retrata sua investigação poética e a correlação entre fotografia, desenho e objeto

SABRINA MOURA*

A Referência Galeria de Arte de Brasília (DF) inaugura a mostra Traço Expandido, de Evandro Soares,nesta quarta-feira (7), com a curadoria de Mario Gioia.  Antes da abertura, o artista visual e o curador participam de uma conversa com o público  – sobre a mostra e os processos criativos e de produção – e de uma visita orientada. A exposição fica em cartaz até 30 de novembro.

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O artista é natural de Mundo Novo (BA), porém vive e trabalha em Goiânia. Ao Essência, Evandro comenta que seu primeiro contato com a Capital foi visitando os museus por volta dos anos 2.000. Seu primeiro trabalho foi selecionado em um concurso do césio, que o motivou a pesquisar e conhecer artistas dos quais ele tomou como referência. “Sem a colaboração de grandes artistas e amigos, eu poderia ser mais um e ter apenas uma serralheria. Com a ajuda e o reconhecimento deles, comecei a participar de mostras, etc”.

Evandro relembra que, no início, seu trabalho na serralheria era algo ‘meio comercial’ em que ele produzia peças e as galerias vendiam. “Com o tempo, aquilo me cansou. Em 2012, participei de uma Oficina no Centro Cultural da Universidade Federal de Goiás (UFG) com o artista Fernando Lindote, que me fez pensar mais nas criações da minha serralheria, nas referências e de tentar entender o que eu estava fazendo. A partir dali, comecei a rever meus projetos, a produzir meus próprios desenhos,  criando-os nos objetos”, conta ele.

Seu primeiro trabalho foi enviado para umsalão na cidade de Anápolis (GO). Embora tenha sido selecionado, esse trabalho acabou sendo desclassificado por conta de um erro na inscrição, o que impediu o artistade expor. “No ano seguinte mandei-o, novamente, e fui premiado. Não desisti! Entendi o meu erro, tentei de novo, e fui premiado, não só lá mas também em salões nacionais”, recorda o artista.

Exposição

Esta é a primeira mostra individual do artista em Brasília. Em Traço Expandido, Evandro apresenta suas mais novas linhas de pesquisa em linguagem e materiais. Extrapolando os limites do papel, o artista apresenta os recentes trabalhos em fotografia sobre ACM – chapa metálica de alumínio composto –, além de desenho e esculturas com linhas de ferro. Para a mostra na Referência, o artista apresenta desenhos, fotografias e site specific.

A exposição, segundo Evandro, traz uma relação de desenhos com objetos que começa a partir dos exercícios de desenho e a observação da arquitetura. “As fotografias, os desenhos e os objetos possuem sempre ligação um com o outro. O trabalho, reproduzido de forma leve, nas cores preta e branca, faz o público pensar um pouco no equilíbrio, tendo a sensibilidade de observar o que ele representa”, finaliza Soares.

As obras de Evandro Soares dialogam com processos construtivos que envolvem matemática, geometria e serralheria, dando origem a objetos escultóricos que saem das telas para se projetar no espaço. Com técnica apurada, Evandro reúne, em suas obras, o conhecimento popular e questões da arte contemporânea. Sua longa trajetória com a serralheria se junta às questões que surgem dos códigos construtivistas, minimalistas, do design e da arquitetura.

“Evandro Soares persiste em eleger o elemento-linha como o vetor poético mais vigoroso de sua produção, mas o desenho se traveste agora de outras linguagens”, afirma o curador da mostra, Mario Gioia. A produção deixa as páginas em branco e o grafite de seu caderno de artista para se materializar em objeto/instalação, site specific e fotográfico”, diz Mario, que completa: “O desenho é muito presente na produção contemporânea”. 

Mario lembra que, na 33ª Bienal de São Paulo, que ocorrerá até 7 de dezembro, as obras Papel (1986), de Gego (1912-1994), e a Linha Contínua em Animação de Betweenness (2018), de Oliver Laric, são exemplos mais claros de sua importância nas artes visuais.

Formal e simbólico

Na mostra que apresenta na Referência, Evandro dá continuidade a experimentos, iniciados no fim do ano passado, com a série em que parte de uma base fotográfica – retratando edificações contemporâneas já finalizadas ou sendo erigidas – para construir objetos escultóricos com uma linha predominante de metal que invade o espaço. Do ponto de vista formal, a série é relevante por avançar na investigação visual “nessa zona hibrida e não linear entre distintos suportes”.

Mario afirma que, no campo simbólico, vale ressaltar a base fotográfica das obras. Ela apresenta uma arquitetura de arranha-céus, comum a todas as cidades, onde há uma congestão verticalizada de prédios indistintos entre si, ao que o arquiteto e teórico holandês Rem koolhaaschamou de “cidade genérica”. Quando apresentada em uma cidade como Brasília, “as configurações jogam com outros vetores, como o fracasso da arquitetura de traços modernistas, como índice de agrupamentos urbanos mais organizados e, por que não, de conceitos mais utópicos; as novas edificações quase a totemizar as paisagens predominantemente horizontais do cerrado e de planificações urbanas mais próximas da escala humana; a agressividade e violência advinda dessa estandardização distante de parâmetros de urbanismos mais generosos”, completa o curador.

Sobre o artista

Com dois livros já publicados e obras no acervo do Museu do MAR do Rio de Janeiro, no Centro Cultural da UFG em Goiânia e no MUnA em Uberlândia, constam em seu currículo uma exposição individual internacional na Galeria Trema em Lisboa. Duas individuais institucionais no Museu de Arte e no Palácio da Cultura, ambos em Goiânia, e um Solo Show na feira Art Rio. Além de participação em feiras internacionais em Londres, Madrid e Lisboa, se destacam exposições coletivas institucionais no Centro Dragão do Mar em Fortaleza, a TRIO Bienal no Rio e o Marp em Ribeirão Preto. 

Dentre as principais exposições e os prêmios mais recentes, o artista realizou a mostra Arquiteturas Inventadas, na ArtHall, em São Paulo (SP); participou da mostra coletiva Fronteiras da Pintura – Fronteiras da Ilusão, no Museu Correios Brasília (DF); realizou uma instalação a céu aberto no Sesc Thermas, em Presidente Prudente (SP), das mostras Labirinto, coletiva na Referência Galeria de Arte – DF e da individual Metadesenhos, na galeria Trema, Lisboa (Portugal). Além disso, participou das exposições Triangulações, no Centro Cultual UFG (GO); uma mostra no Museu De Arte Da Bahia (Salvador); Dragão Do Mar – MAC Museu De Arte Contemporânea do Ceará – Fortaleza (CE); 6º Salão dos Artistas Sem Galeria (SP). Em 2014, foi premiado no Situações Brasília Prêmio de Arte Contemporânea (DF); Artigo Rio Prêmio 2014 Solo Projects Acompanhamento Curatorial (RJ); Arte Londrina 3; 39º Salão de Arte de Ribeirão Preto (SP); LAB O Saber da Linha – exposição coletiva (SP)– dentre outros.

Sobre o curador

Curador independente, Mario Gioia é graduado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Integrou o grupo de críticos do Paço das Artes, desde 2011, instituição na qual fez o acompanhamento crítico de Luz Vermelha (2015), de Fabio Flaks; Black Market (2012), de Paulo Almeida, e A Riscar (2011), de Daniela Seixas. Foi crítico convidado, de 2013 a 2015, do Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo (CCSP), e fez, na mesma instituição, parte do grupo de críticos do Programa de Fotografia 2012. Em 2015, no CCSP, fez a curadoria de Ter lugar para ser, coletiva com 12 artistas sobre as relações entre arquitetura e artes visuais. 

Já realizou a curadoria de exposições em cidades como Brasília (Decifrações, Espaço Ecco, 2014), Porto Alegre (Ao Sul, Paisagens, Bolsa de Arte, 2013), Salvador (Fragmentos de um Discurso Pictórico, Roberto Alban Galeria, 2017) e Rio de Janeiro (Arcádia, CGaleria, 2016) – entre outras. Em 2016, a sua curadoria para a mostra Topofilias, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), em Porto Alegre, foi contemplada com o 10º Prêmio Açorianos, categoria Desenho. É colaborador de periódicos de artes como Select e foi repórter e redator de artes visuais e arquitetura da Folha de S.Paulo de 2005 a 2009. De 2011 a 2016, coordenou o projeto Zip’Up, na Zipper Galeria, destinado à exibição de novos artistas e projetos inéditos. Na feira ArtLima 2017 (Peru), assinou a curadoria da seção especial CAP Brasil, intitulada Sul-Sur, e fez o texto crítico de Territórios Forjados (Sketch Galería, 2016), em Bogotá (Colômbia).

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov

SERVIÇO

‘Traço Expandido’, de Evandro Soares

Quando: de 7 a 30 de novembro de 2018

Onde: Referência Galeria de Arte (202 Norte, bloco B, loja 11 – subsolo, Asa Norte – Brasília-DF)

Horário: das 19h às 21h

Entrada gratuita

 

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