Performance interativa

Mulheres indígenas e afro-diásporas estreiam a peça ‘Ancestrais, a Benção’. Apresentação reúne dança, audiovisual, poesia e música

Postado em: 16-05-2024 às 10h00
Por: Leticia Leite
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A matriarca, Dona Fiota e a diretora, Mirna Anaquiri, na vivência no Quilombo Kalunga, em Cavalcante | Foto: Ju Cordeiro

Como construção poética, inspirada nas comunidades mais antigas para descolonizar a expressão – a performance interativa ‘Ancestrais, a Benção’, celebra a ancestralidade indígena, africana e negra através do conhecimento das avós, refletindo sobre histórias, tradições e patrimônio. A peça fica em cartaz do dia 20 a 22 de maio, às 14 e às 19h, no Centro Cultural da Universidade Federal de Goiás (UFG). 

A performance é um trabalho que combina dança, audiovisual, poesia e música. Relembra o encontro das águas de diferentes regiões no simbolismo de estar no Cerrado, no coração das águas brasileiras. As águas da apresentação se unem e compartilham bênçãos a partir da homenagem às mais velhas das mulheres indígenas e afro-diásporas.

A performance é estrelada por mulheres negras e indígenas. Todas são performes. Mas algumas, ainda, atuam nos bastidores. São elas: Roberta Rox, criação e roteiro; Anaquiri (Mirna Kambeba Omágua Yetê Anaquiri), direção geral; Daya Gomes, direção de arte; Evelin Cristina Tupinambá, assistente de direção; Hariel Revignet, cenografia. Também compõem o elenco Flávia Honorato; atriz e Nina Soldera; cantora e atriz. Alexandre Augusto assina a produção executiva.

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Outro foco da ação é a importância da continuidade das práticas ancestrais para o restabelecimento da saúde por meio de folhas, ervas, flores, barro, água e práticas de cuidados individuais e comunitários.

“Definimos que o espetáculo é um ritual performativo. Ancestrais, a Benção é uma homenagem às nossas mais velhas, uma homenagem à memória delas”, define Roberta.

O começo

O objetivo original era encenar um ritual poético inspirado nos domínios da arte e da experiência. A obra ganhou vida nas ruas de Goiânia durante intervenções urbanas, após atuar em algumas áreas da Capital, a equipe conseguiu realizar a primeira produção na prefeitura com recursos públicos. Em 2019 nasceu o espetáculo Ancestrais. Quatro apresentações aconteceram no espaço público da comunidade: Beco do Codorna, Parque Areião, Bosque dos Pássaros e Praça do Violeiro.

“A experiência foi intensa e cheia de desafios que nos trouxe profundos ensinamentos. Somos mulheres indígenas, negras e não brancas, cada uma representante de uma ancestralidade e que possuem uma grande história e imensas memórias”, relembra Roberta.

Ancestrais, a Benção

O roteirista diz que aprendeu muito durante a releitura do espetáculo, agora chamado de Ancestrais, A Benção. A artista conta que o grupo entendeu a importância de falar sobre seus antepassados. 

“Todas as mulheres que participam, seja negra ou indígena tem o entendimento que é importante a narrativa ser feita pelas nossas avós, pois elas são bibliotecas orais vivas”, reforça Roberta. 

O elemento que impulsiona toda a história da peça é simbolizado pelas cobras. Em algumas culturas indígenas, o animal é visto como a imagem de um ser perfeito. É um símbolo de proteção capaz de guiá-lo à bênção. Sua importância e respeito ao bicho é tanta que a imagem do réptil ilustrou a última identidade visual do Acampamento Terra Livre, em abril deste ano. O encontro é considerado a maior manifestação indígena do mundo. A obra de arte, ‘A Cobra do Tempo’, foi produzida pelo publicitário, Denilson Baniwa. 

A assistente de direção, Evelin Cristina Tupinambá (mãe da Wirá, de 2 anos, que atua faz uma participação especial), diz que o projeto evoluiu a partir de uma presença indígena significativa, baseada nas lutas negras e indígenas.

Construção

A cenografista e atriz, Hariel Revignet, conta que cada momento de preparação da obra foi desenvolvido em etapas: vivências no Quilombo Kalunga, vivências de terapias nas águas, vivência com as mulheres indígenas e os ensaios.

“As vivências nos permitiram criar um roteiro, da performance, baseado nos encontros. A água é  berço da memória das confluências indígenas e das diásporas africanas e que nelas encontram laços entre o passado, o futuro e o presente”, enfatiza. 

A diretora de arte Daya Gomes, mãe da adolescente Niashya Sofia (outra participação especial), fala da relevância e significado da peça. “É importante, porque é um lugar muito forte para que fiquemos vivas. É importante, porque nós nos dispomos a cuidar, a aprender juntas e como seguir de um jeito menos adoecedor em nossas trajetórias”, esclarece.

Daya ainda acrescenta que o nome Ancestrais, A Benção vem no sentido de ser abençoadas pelas matriarcas e o quanto o ‘ser abençoada’ é sagrado. “A ideia é chamar atenção para nossas questões. O amor, a pausa, o território,  a ancestralidade e os saberes que nossos corpos carregam”.

A atriz e cantora, Nina Soldera, define que Ancestrais, a Benção é um território livre, recriado pela arte e pelo rito, com a intenção de ampliar a benção que se recebe das mais velhas e das mais novas.  

“Estou emocionada por performar pela primeira vez com minha filha (Amora -10 anos, que faz participação especial na performance), entendendo a arte como território sagrado de bênçãos e afeto.”

“As histórias das anciãs nos inspiram. Todo o caminho e tecnologias que os parentes desenvolveram para sobreviver é a nossa maior força. No nosso encontro retomamos saberes e recriamos realidades que também acreditamos”, relata  a atriz Flávia Honorato.

Por fim, Roberta define que a apresentação mostra que a humanidade está em um presente, mas o caminhar veio de longe. “Queremos apontar para um futuro possível para nós e para as nossas. Somos mulheres indígenas, negras e não brancas, cada uma representante de uma ancestralidade, que possui uma grande história e imensas memórias”.

Serviço

Performance Ancestral, a Benção 

Quando: 20 e 21 de maio

Onde: Av. Universitária, Nº 1533, Setor Leste Universitário – Goiânia 

Horário: 14h, 19h

Entrada gratuita

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