Revolta dos Búzios

Documentário revela episódio marcante da luta pela independência e abolição da escravidão no Brasil

Postado em: 03-06-2024 às 09h15
Por: Luana Avelar
Imagem Ilustrando a Notícia: Revolta dos Búzios
O cineasta nos convida a refletir sobre o papel que os movimentos de resistência negra desempenharam na formação da nação brasileira, uma história que precisa ser contada e lembrada | Foto: Divulgação

Um episódio pouco lembrado da história do Brasil acaba de ganhar as telas dos cinemas brasileiros. O documentário ‘1798 – Revolta dos Búzios’, do cineasta baiano Antonio Olavo, revela a influência iluminista da Revolução Francesa (1789) no planejamento de um levante que pretendia derrubar o governo colonial, proclamar a independência e implantar uma república democrática, livre da escravidão, onde haveria igualdade entre os homens pretos, pardos e brancos.

Produzido pela Portfolium Laboratório de Imagens e distribuído pela Abará Filmes, o documentário mergulha no fascinante e trágico episódio da Revolta dos Búzios, também conhecida como Revolução dos Alfaiates, Conjuração Baiana, Sedição de 1798, Movimento Democrático Baiano e Inconfidência Baiana. Cineasta e pesquisador com foco na valorização da memória negra, Antonio Olavo sempre trabalhou com a pesquisa histórica no cinema documental, e destaca que “a história do Brasil não é apenas a história das elites brancas”.

Para resgatar esse momento da história, o diretor partiu dos ‘Autos da Devassa’, um documento com mais de 2 mil páginas que detalha minuciosamente a investigação sobre os acontecimentos, cobrindo o período de agosto de 1798 a novembro de 1799. Essas transcrições das dezenas de sessões da Devassa, incluindo os longos depoimentos de mais de 70 pessoas envolvidas na conspiração, foram fundamentais para a construção do filme.

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“O maior desafio foi construir um filme que fosse digno da grandiosidade do tema”, conta Olavo. “A história ocorreu há 226 anos e terminou de forma trágica com quatro jovens negros enforcados e esquartejados em praça pública diante de milhares de pessoas, punidos por sonharem com bandeiras universais como a independência, a República e a liberdade diante a escravidão. Creio que conseguimos fazer um filme positivador, contribuindo para o fortalecimento da história e memória do povo negro no Brasil”.

Para recriar esse episódio de forma dinâmica, o documentário lança mão de várias linguagens, como a utilização de criações de arte com cenas cotidianas produzidas por artistas estrangeiros que visitaram a cidade na época, além de ilustrações alusivas aos personagens e suas ações na conspiração, com base nas descrições detalhadas registradas nos Autos da Devassa.

“Essas histórias precisam estar também na filmografia nacional, o cinema brasileiro não pode continuar ignorando esses movimentos”, afirma Olavo. O documentário faz parte de um projeto maior do diretor, uma trilogia das grandes lutas negras dos séculos XVIII e XIX na Bahia, que inclui também a Revolta dos Malês em 1835 e a Sabinada, liderada por um homem negro, Francisco Sabino, em 1837.

A Revolta dos Búzios, ocorrida em 1798, é considerada um dos mais importantes acontecimentos da história do Brasil. Inspirado pelos ideais iluministas da Revolução Francesa, centenas de homens negros planejaram um levante com o objetivo de derrubar o governo colonial, proclamar a independência e implantar uma república democrática, livre da escravidão. Embora o movimento tenha sido denunciado antes de sua deflagração, a repressão foi violenta, com prisões, degredo perpétuo, condenações de açoites públicos e até a pena de morte, sentença máxima imposta a quatro homens negros.

Esse episódio cruzou a linha do tempo e recebeu diversas denominações, entre elas Revolta dos Búzios, Revolução dos Alfaiates e Conjuração Baiana. Agora, graças ao documentário, essa importante história finalmente ganha a atenção que merece, contribuindo para a valorização da memória e da luta do povo negro no Brasil.

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