Filme goiano estreia no Fica 2024

A série documental que virou filme, ‘Diaspóricas’, participa da mostra competitiva do maior festival de Cinema e Vídeo Ambiental, nesta quinta-feira (13)

Postado em: 13-06-2024 às 05h30
Por: Letícia Renata
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A obra destaca a música como tática de existência na vida de mulheres negras e como ela se entrelaça à autovalorização sobre ser negra no caminhar das artistas | Foto: Divulgação

A série documental, Diaspóricas 2, produção goiana que relata depoimentos de artistas negras sobre superação do racismo e sexismo, a partir do caminhar com a Música Preta Brasileira, participa da mostra competitiva da 24ª Edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), que acontece de 11 a 16 de junho, na cidade de Goiás. Diaspóricas 2 tem estreia marcada no Fica, nesta quinta-feira (13), às 17h, na Mostra do Cinema Goiano.

Dirigido pela jornalista e pesquisadora, Ana Clara Gomes, o filme destaca a música como tática de existência na vida de mulheres negras e como ela se entrelaça à autovalorização sobre ser negra no caminhar das artistas. São mulheres que celebram a negritude, o ser mulher e a música brasileira, a partir da conexão em África.

Segundo ela, é uma grande oportunidade de visibilidade do filme participar do Fica. “O longa abre caminho para as mulheres negras que fazem cinema negro feminino, leva-nos a outros públicos, a outros patamares de recepçãos que passarão a conhecer o Projeto Diaspóricas e artistas do cerrado”, reforça.

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Já para a produtora executiva e coordenadora de comunicação , Jordana Barbosa, ser selecionado para o Fica é uma mostra que Diaspóricas 2, apesar de ser filme de baixo orçamento, tem alta qualidade. Ela conta que participar do festival não é ‘só sobre ser comercial’. “Em nenhum momento tem essa significância”, ressalta. Mas é sobre ser reconhecido como um produto artístico valoroso que é fruto de muito carinho envolvido, tempo de dedicação, energia, ideais e planejamento.

“São profissionais renomadas e com muita competência que produzem um projeto que nasce do coração da diretora Ana Clara e cativa todas as outras mulheres que se aproximam e se envolvem com o projeto Diaspóricas. É um reconhecimento das profissionais que estão envolvidas no projeto”, conceitua Jordana.

O fio condutor que facilita a transição entre a série em filme baseia-se, sobretudo, na proposta de ser um longa-metragem com foco na linguagem do cinema. A mudança pretendia transformar a série, que está disponível para todos pela internet, em um filme focado em trazer para o mundo do cinema uma equipe predominantemente feminina negra.

“O mercado está cheio de produções mais elitizadas e embranquecidas. Então, quando nos propomos a entrar na categoria de longa-metragem, de cinema documental, a gente diz para o mundo que nós, mulheres negras, trabalhamos com excelência, fizemos um bom serviço e viemos apresentá-lo para o público no Fica”.

Diaspóricas 2

Ana Clara explica que o projeto do filme nasceu como uma forma de estratégia de distribuição da produção, que tem mais potencial em relação aos episódios curtas-metragens da série. Isso porque, dado o cenário nacional, a distribuição de filmes – o mercado de distribuidoras – é quase que inacessível para mulheres negras, realizadoras independentes.

“Democratizamos o acesso da série na Internet. Porém, o público que acessa o YouTube não é o mesmo que acessa a sala de cinema. E são as salas e festivais de cinema que dão o respaldo de visibilidade e de reconhecimento do trabalho, de uma produção bem feita, apesar do baixo orçamento diante de produções nacionais”.

A diretora especifica ainda que, em contraponto à série, Diaspóricas 2, terá mais acesso e distribuição nos festivais de cinema. Tem mais possibilidades de reverberar, porque há menos longas exibidos que os curtas-metragem, visto que longas-metragem são produções caras.

“Vimos nos festivais de cinema uma oportunidade de circular o projeto. É muito caro fazer com que um filme esteja nas mãos das distribuidoras, para que elas façam o processo de desague de uma obra, seja na sala de cinema, seja comercialmente, seja nas TV’s”, explica. 

Ação política

Diaspóricas 2 trata, na telona, a proposta de um encontro musical que se dá só por meio da diáspora e é transformador, porque coloca as mulheres em contato umas com as outras, não em competição. É um ambiente de cooperação, de construção conjunta. É um lugar em que as mulheres não falam apenas de suas dores, já que é inerente à vida do ser humano.

Segundo Jordana, a ideia é retirar a mulher negra do lugar da violência, do lugar da opressão, do lugar da escravização. “Por isso, o filme já é um grande ganho, uma inovação, pois coloca a mulher preta no lugar de protagonista, de resistência, de uma vida plena, de viver sua sexualidade, de encontrar sua beleza, de falar sua própria identidade, de falar do trivial da vida. Nós mulheres negras também temos o direito de beber um bom vinho, de descansar no domingo. Este é um lugar que foi negado a nós”, conclui Jordana.

Para Ana Clara, a obra é sobre um movimento para criar uma ‘economia política’ em que mulheres negras fazem cinema. Significa que se incentiva a formação, as atividades profissionais realizadas no campo profissional, que é tão ocupado por homens brancos, que são os mesmos homens que têm acesso e patrocínios de grandes empresas.

“Eles estão sempre nos primeiros lugares da seleção de incentivo ao cinema. A gente se apoia enquanto mulheres negras e rechaça o lugar de funções subalternizadas nos cinemas que são deixadas para as pessoas negras”, defende.

Ana Clara afirma ainda que Diaspóricas 2 vem para reforçar o lugar político de fazer, gerar uma economia cinematográfica, em  que pessoas negras desempenham os papéis mais prestigiados no campo cinematográfico, que são direção, roteiro, montagem e direção de fotografia. “Todas as funções de maior prestígio no universo do cinema são ocupadas por mulheres negras que são capazes e têm trabalhos de excelência”.

Diaspórica 2 navega no mar da conexão entre África e América, que torna a mulher negra ser forte e resiliente, mesmo que continuem inúmeras tentativas de subalternização, inferiorização e marginalização a ela, ainda permaneça. “A gente é sinônimo de levante, de transgressão a toda violência!’, conclui a diretora.

SERVIÇO

Websérie goiana vira filme e participa do Fica

Quando: Quinta-Feira (13) 

Onde: Cidade de Goiás

Horário: 17h

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