Um retrato cinematográfico da força feminina no Centro-Oeste

Explorando narrativas autênticas nas telas da mostra Águas-Correntes

Postado em: 20-06-2024 às 06h30
Por: Luana Avelar
Imagem Ilustrando a Notícia: Um retrato cinematográfico da força feminina no Centro-Oeste
Evento destaca produções de mulheres negras, indígenas e quilombolas, explorando diversas perspectivas através do cinema | Fote: Divulgação

A programação da mostra ‘Águas-Correntes’, que acontece de 20 a 23 de junho em Goiânia, reúne 20 obras diversas e celebra o mapeamento histórico de cineastas nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.

Com o intuito de “celebrar o passado, o presente e o futuro de mulheres que fazem cinema no Centro-Oeste”, a mostra apresenta longas e curtas-metragens de ficção, animação e documentário realizados por cineastas de diferentes origens e idades, com destaque para produções de mulheres negras, indígenas e quilombolas.

A curadoria da mostra ficou a cargo de Lidiana Reis, cineasta e idealizadora do Prêmio Cora, e Ceiça Ferreira, professora do curso de Cinema e Audiovisual da UEG e fundadora do Cineclube Maria Grampinho. Juntas, elas selecionaram filmes que articulam audiovisual e transformação social, trazendo uma pluralidade de vozes.

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Ceiça Ferreira destaca que “os filmes materializam o desejo das mulheres de contar histórias a partir de suas próprias perspectivas, assumindo uma posição de poder que geralmente é atribuída aos homens”. Segundo a pesquisadora, as cineastas da região central têm feito do audiovisual um espaço de reflexão sobre a sociedade e questões urgentes no contexto local.

A mostra também homenageia as pioneiras do cinema no Centro-Oeste, como Rosa Berardo, Claudia Nunes, Adriana Rodrigues e Dácia Ibiapina, que abriram caminho ainda nos anos 1980. Além disso, a programação inclui produções de cineastas que deram continuidade a essa jornada, como Simone Caetano, Fabiana Assis, Juliana Capilé, Samantha Col Debella, Marineti Pinheiro, Edileuza Penha de Souza e Renata Diniz.

Destaques da programação 

A ficção ‘A velhice ilumina o vento’, de Juliana Segóvia (MT), mostra a altivez e alegria de viver da protagonista Valda, uma mulher preta, idosa, periférica, trabalhadora doméstica da cidade de Cuiabá. Este filme é a primeira produção do Aquilombamento Audiovisual Quariterê, coletivo criado em 2017 que articula a inserção de profissionais negros, negras e indígenas na cadeia produtiva do audiovisual. O nome do coletivo homenageia o Quilombo do Quariterê (localizado na região de Vila Bela, primeira capital mato-grossense), liderado por Teresa de Benguela. 

O documentário ‘Me Farei Ouvir’, de Bianca Novais e Flora Egécia (DF), problematiza a sub-representação feminina na política brasileira e por meio de entrevistas com a senadora Benedita da Silva, as deputadas federais Áurea Carolina e Joênia Wapichana, entre outras mulheres que são inspiração. O filme ecoa vozes femininas na tela e também em ações de estímulo para que mais mulheres possam atuar na política. 

Já o documentário ‘Kuna Porã – Matriarcas Guarani e Kaiowá’, dirigido por Fabiana Fernandes e Daniela Jorge João, evidencia o ponto de vista de parteiras, rezadeiras, artesãs, agentes de saúde e professoras, mulheres que falam de seu cotidiano, de suas vivências pessoais, que utilizam o audiovisual para reivindicar seus direitos. 

A programação conta também com ‘Meada Cor Kalunga’, dirigido por Marta Kalunga e Alcileia Torres (lideranças quilombolas) e Analu Reis de Sá, jovem negrindígena da etnia Pataxó. O filme documenta o encontro, as conversas e a partilha de conhecimentos tradicionais de Marta Kalunga e Dirani Kalunga acerca da coleta de troncos de raízes do cerrado para o tingimento de tecidos no quilombo Vão de Almas, em Goiás. 

Mapeamento Inédito 

A mostra é a primeira atividade de um projeto mais amplo: a publicação do livro Águas Correntes – A Produção Audiovisual Feminina do Centro do Brasil, prevista para o segundo semestre de 2024. Na abertura da mostra, dia 20 de junho, será lançado um material que decorre dessa pesquisa: o ‘Mapeamento de cineastas e roteiristas do Centro-Oeste do Brasil – 1º Edição’, publicação digital que além de dados sobre tais profissionais, contempla ainda uma linha do tempo (da década de 1960 até 2023) com informações sobre o cinema e o audiovisual feito por mulheres nos três estados (GO, MT e MS) mais o Distrito Federal e uma retrospectiva de roteiristas que participaram do Prêmio Cora. 

Este mapeamento apresenta os resultados preliminares de uma proposta de salvaguarda e pesquisa sobre o patrimônio audiovisual feminino no Centro-Oeste brasileiro; e reflete um trabalho coletivo que reúne as pesquisadoras Cindy Faria, Lidiana Reis e Juliana Marra; a colaboração da professora Ceiça Ferreira e da estudante de cinema e Audiovisual Geovana Alves e a participação das produtoras Bárbara Santana, Nívia Neves e Gabriel Marinho. 

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