OMS recomenda aprender a comer carboidratos e não bani-los
Revisão histórica conclui que cortar os carboidratos do cardápio prejudica a ingestão de fibras
Por: Sheyla Sousa
Depois de comparar mais de 200 estudos realizados ao longo das últimas duas décadas, uma revisão histórica encomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) concluiu que cortar definitivamente o carboidrato da dieta pode aumentar em até 30% o risco de desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e outras. Isso porque, ao restringir a ingestão do nutriente, também é reduzido o consumo de fibras, presente, por exemplo, em frutas, verduras e alimentos integrais.
Divulgado pela revista científica The Lancet, o levantamento tinha o objetivo de orientar novas diretrizes acerca da ingestão de fibras, mas acabou constatando que a grande maioria das pessoas não tem consumido o nutriente em quantidade suficiente. Para a nutricionista esportiva Maíra Azevedo, esse dado é realmente alarmante, já que uma alimentação pobre nesse nutriente também traz prejuízos imediatos.
A atual deficiência de fibras estaria relacionada à popularidade de regimes alimentares que prometem resultados rápidos mediante restrição total de carboidratos. Além de empobrecer as refeições do adepto durante a realização da dieta, o processo tende a reeducar muitos indivíduos para uma visão negativa do nutriente, fazendo com que eles sigam evitando carboidratos mesmo após o período de restrição.
Outro fator reside na dificuldade de se conseguir a quantidade diária ideal de fibras. Segundo especialistas da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, e da Universidade de Dundee, na Escócia, seria adequado consumir 25g de fibras por dia. Ainda assim, Maíra ressalta que existem dois tipos distintos de carboidratos, e que, ainda assim, é possível aumentar a ingestão de fibras sem exagerar deles.
Dessa forma, muito mais do que banir os ‘demonizados’ carboidratos e com eles boa parte das fibras, é importante alcançar hábitos alimentares equilibrados que garantam a ingestão adequada de cada nutriente. “Quando falamos em carboidrato, devemos levar em consideração que existem os refinados e os complexos (esses possuem mais fibras). Mesmo assim, aumentar o consumo de fibras não implica em consumir mais carboidratos. Tudo depende da fonte escolhida. Folhagens, por exemplo, são ótimas fontes de fibras e não possuem quase nada de carboidrato”, tranquiliza a nutricionista.
Os resultados de mais de 185 estudos e 58 ensaios clínicos compilados na revisão histórica revelaram que, no longo prazo, o consumo regular de fibras pode diminuir de 15% a 30% a mortalidade relacionada a doenças cardiovasculares. A ingestão do nutriente também é responsável por diminuir de 16% a 24% doenças coronárias, derrames, diabetes tipo 2 e câncer colorretal.
Além disso, Maíra explica que a presença das fibras na alimentação também desencadeia benefícios imediatos como o auxílio no controle glicêmico – tornando mais lento o processo de absorção dos carboidratos e evitando picos de glicose e de insulina –, melhoria do funcionamento intestinal e estímulo do crescimento de bactérias benéficas ao organismo, controle dos níveis de colesterol diretamente relacionado à do risco de doenças cardiovasculares, e ainda contribuem para a perda de peso. Por isso, antes de submeter-se a regimes alimentares drásticos, é imprescindível que pacientes procurem profissionais capacitados.