Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Grupo Sonhus Teatro Ritual estreia espetáculo nos Estados Unidos

‘Lost in Translation’ apresenta o desafio da adaptação cultural do ator e diretor Nando Rocha

Postado em: 01-02-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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‘Lost in Translation’ apresenta o desafio da adaptação cultural do ator e diretor Nando Rocha

SABRINA MOURA*

Um musical inteiramente produzido pelo grupo goiano Sonhus Teatro Ritual, estreia nesta sexta-feira (1º), em Seattle, nos Estados Unidos (EUA),no Kirkland Performance Center. Estrelado pelo ator e diretor Nando Rocha, o espetáculo ‘Lost in translation’, é o início de uma conexão entre artistas brasileiros e público estrangeiro.

Nando, que devido ao cenário político atual decidiu partir para terras mais distantes em busca de novas possibilidades, conta que a oportunidade de produzir um espetáculo lá fora,partiu de uma sugestão de trabalho de classe feito pela sua professora de inglês no cursoem que ele é aluno junto deimigrantes, refugiados e estudantes internacionais de várias partes do mundo, em Seattle (EUA). “A internacionalização do trabalho artístico é uma abertura para novos fluxos de trabalho para o grupo. Tanto no quesito do aprimoramento e troca de experiência artística, expansão de referências culturais que ampliam a visão artística sobre nossos trabalhos, quanto no quesito de possíveis ampliações de mercado, contato com produtores internacionais que podem se interessar em fazer circular o trabalho do grupo no exterior”, explica ele.

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O grupo que já havia produzido espetáculos em parcerias com a Alemanha, o Japão e a Argentina, se apresentado antes nesses países e também na Itália, na Espanha, em Portugal, na Colômbia e nos EUA; nesta produção própria aborda o desafio de adaptação cultural que segundo Nando Rocha está vivendo neste momento de ‘exilio’. “‘Lost in translation’ traz a angustia de não compreender e não ser compreendido, o habito de transferir essa tentativa de comunicação para representantes, para a arte ou para a expressão mais comum, popular, acessível, o que nos leva a repetir modelos. Aborda a dificuldade cada vez mais latente de se traduzir, no sentido de compreensão consciente, o mundo em que vivemos”, conta Nando. “Apesar do apoio das tecnologias, vivemos num mundo ainda com grandes lacunas de compreensão e de comunicação, com crises de linguagens, de identidade e de representatividade. Eu busco tratar o tema com o máximo de leveza e partindo de elementos da cultura pop americana e brasileira”, completa o artista. 

No palco, uma comédia musical que carrega muito da experiência de Rocha, desde que chegou aos EUA.Por ser um tema denso que surgiu de um momento tenso e turbulento da sua vida e que no seu ponto de vista também é um momento denso e negativo do País, Nando diz que optou por trabalhar com oposição ao negativismo no espetáculo, trazendo para o público uma comédia. “Também por se tratar da cultura pop, a comedia dialogou melhor. As músicas veio da sugestão feita aos colegas de classe de diversas nacionalidades, chineses, russos, tailandeses, iranianos. Fiquei curioso e pedi opções de músicas de seus países”, relata ele.

O tema da peça, como mostra o título, é a dificuldade de traduzir não só a língua, mas comportamentos e o mundo. “Para os brasileiros que vivem aqui creio que será Uma oportunidade de lazer diferenciada. Percebi que não existe muitas apresentações teatrais do Brasil aqui. Estou ‘escavando’ um público. Não sei como será. Minha experiência tem sido de readaptação e recomeço. Criar esse espetáculo se tornou uma maneira quase terapêutica de não me deprimir, sinto falta da minha família, especialmente do meu filho. Ainda dói a desilusão que sofri no Brasil. Os sonhos para mim são sagrados. Agradeço a Deus a oportunidade de poder reacender essa chama novamente aqui nesse lugar tão frio e com pouco sol, tão o reverso de Goiânia e do Brasil”, declara Nando.

Na peça, além do inglês, o artista canta em persa, mandarim, espanhol, francês e português. “Apesar de tantas tentativas esdruxulas de se tentar apagar a palavra diversidade das agendas politicas atuais, o mundo permanecerá diverso como sempre foi. Hoje mais do que diverso, ele também é misturado. A convivência entre as diferenças se faz cada vez mais intensa. Eu pratiquei um pouco da pronuncia dessas músicas com meus colegas estrangeiros. Espero corresponder ao máximo, se não for perfeita a pronuncia tenho a desculpa de que o musical é uma comedia”, finaliza Rocha.

O espetáculo lança mão de cenas cômicas musicais, baseadas na mímica, no clown, na dança e no stand up, expressões pesquisadas por Nando ao longo destes mais de 20 anos de estrada. Contará com convidados especiais, músicos e dançarinos americanos com carreira consolidada na dança contemporânea e na dança Butoh.

Sobre Nando

Fernando Rocha é ator, cantor, diretor e professor de teatro. Mestre em teatro pela Universidade Federal de Uberlândia, tem se dedicado desde muito cedo a arte da performance ao vivo. Estudou com grandes mestres no Brasil e em oito países diferentes, entre eles Japão e Alemanha. Praticou a arte da mímica, e nas danças, pode experimentar um pouco de cada uma, do ballet clássico, passando pela dança moderna e contemporânea e pausando com um pouco mais de ênfase no folk brasileiro e na dança butoh japonesa. Recentemente começou a pesquisar o hip hop americano e o teatro indiano Kathakali. Fundador do Grupo Sonhus Teatro Ritual em 1996 e do Espaço Sonhus em 2013, um pequeno teatro dedicado ao teatro de experimentação e projetos envolvendo a Arte e Educação de jovens. Em sua carreira publicou o livro “A arte do ator em grupo – A formação de ator como cultura coletiva”, bem como vários artigos acadêmicos sobre o trabalho criativo do ator.

Sobre Sonhus

O Grupo Sonhus Teatro Ritual ao longo de mais de vinte anos carrega diversas experiências, intercâmbios e pesquisas que levam ao trabalho hoje ao exterior. Iniciou suas atividades em 1996, fundado por Fernando Rocha e Pablo Angelino no Colégio Lyceu de Goiânia, onde os mesmos faziam o ensino médio à época. Em 2013, após mais de dez anos afastado, o Grupo Sonhus Teatro Ritual retorna ao Lyceu de Goiânia com o projeto pioneiro de residência artística, retribuindo ao berço que a escola foi para o início de sua trajetória, e leva para a comunidade escolar e para toda a cidade um novo espaço cultural.

O Espaço Sonhus é um projeto idealizado e realizado pelo grupo em parceria com o Colégio Lyceu, localizado em um prédio histórico a ser preservado e frequentado por todos. Com o intuito de evidenciar esse prédio histórico de Goiânia e ocupar espaços antes ociosos do local, foi que o Grupo idealizou o projeto “Espaço Sonhus”, e transformou seu velho auditório que andava meio abandonado em um teatro de bolso com capacidade para 150 pessoas. Na pracinha anexa, antes vazia e abrigando moradores de rua, instala uma tenda de circo para apresentações e cursos. Também criou o Café Qorpo Santo, um palco para saraus, cafés da manhã filosóficos, bate-papos e coffe-brakes para a comunidade local e artistas da cidade. O Espaço também conta com um Estúdio Musical, disponível para gravações e ensaios. Além desses ambientes, disponibiliza salas de treinamentos e ensaios.

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov

 

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