Cena inspirada em arte renascentista é alvo de críticas

COI remove replay de cerimônia após controvérsia sobre suposta alusão à Última Ceia; Direção do evento esclarece inspiração na 'Festa dos Deuses'

Postado em: 31-07-2024 às 06h30
Por: Luana Avelar
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A porta-voz de Paris 2024, Anne Descamps, pediu desculpas, reafirmando o objetivo de celebrar a diversidade cultural | Foto: Divulgação

A cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris gerou uma grande polêmica, alimentada por fake news que alegavam que o evento havia recriado ‘A Última Ceia’, de Leonardo da Vinci. Como resposta, o Comitê Olímpico Internacional (COI) retirou o replay da cerimônia do YouTube. No entanto, de acordo com o perfil oficial dos Jogos Olímpicos, a apresentação na verdade se inspirou na obra ‘Festa dos Deuses’, de Jan Harmensz van Bijlert, e não na famosa pintura religiosa.

Durante o evento, uma cena chamou a atenção: o cantor e ator francês Philippe Katerine apareceu representando o deus greco-romano Dionísio, seminu e pintado de azul, em uma mesa de banquete. Acompanhado por dançarinos, drag queens e pessoas em fantasias coloridas, a disposição dos participantes em torno da mesa foi interpretada por alguns como uma alusão à Última Ceia, o que gerou indignação entre grupos religiosos. Esses grupos, incluindo bispos franceses, condenaram a cena como uma ‘zombaria ao Cristianismo’, afirmando que houve um uso desrespeitoso de símbolos religiosos.

Thomas Jolly, cerimonialista e diretor criativo da cerimônia, defendeu a apresentação, esclarecendo que a intenção era celebrar uma “grande festa pagã ligada aos deuses do Olimpo”. Ele explicou que Dionísio foi escolhido para simbolizar a festa e o vinho, elementos profundamente enraizados na cultura francesa. Jolly enfatizou que nunca houve a intenção de fazer uma paródia da Última Ceia ou de qualquer símbolo cristão, mas sim de promover uma cerimônia que refletisse os valores de liberdade, igualdade e fraternidade.

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A obra ‘Festa dos Deuses’, que inspirou a apresentação, retrata um banquete no Olimpo, onde os deuses celebram o casamento de Tétis e Peleu, com Dionísio presente como o deus das festas. A pintura, finalizada pelo renascentista Giovanni Bellini em 1514, é um clássico do período e uma das poucas obras conhecidas do artista veneziano.

O caso levantou um debate mais amplo sobre os limites da expressão artística e o respeito às sensibilidades religiosas. Enquanto Jolly e muitos espectadores defendem a liberdade criativa, as críticas apontam para a necessidade de consideração cuidadosa ao tratar de temas religiosos em eventos públicos.

Em resposta às controvérsias, a porta-voz de Paris 2024, Anne Descamps, pediu desculpas em nome dos organizadores. “Claramente, nunca houve a intenção de desrespeitar nenhum grupo religioso. Se as pessoas se ofenderam, lamentamos profundamente”, afirmou Descamps em uma coletiva de imprensa. Ela reforçou que o objetivo era unir as pessoas e celebrar a diversidade cultural, não ofender.

Enquanto a retirada do vídeo da cerimônia do YouTube pelo COI tenta mitigar a controvérsia, o debate sobre o equilíbrio entre liberdade artística e respeito religioso continua.

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