2º Encontro Nacional de Artistas Naïfs reúne artistas, de Norte a Sul do País em Goiânia

A mostra reúne artistas de várias partes do Brasil e mais de 100 obras naïf

Postado em: 13-03-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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A mostra reúne artistas de várias partes do Brasil e mais de 100 obras naïf

Goiânia torna-se, nesta semana, a ‘capital da arte naïf do
Brasil’. O motivo é que a cidade sedia o 2º Encontro Nacional de Artistas Naïfs
no Centro Oeste (Enanco) na Vila Cultural Cora Coralina. O vernissage é nesta
quarta-feira (13), às 20h, com apresentação de Folia de Reis de Senador Canedo
e grupo musical Tronco de Angico. A exposição estará em cartaz de 14 de março
até o próximo dia 6 de abril, sempre de segunda a sábado das 9h às 18h.  A entrada é gratuita.

A mostra
reúne artistas de várias partes do Brasil e mais de 100 obras naïf. “Para o
Estado de Goiás, o encontro tem uma repercussão muito grande, porque estamos
concentrando, nesta semana, artistas de várias partes do Brasil – como Goiás,
Distrito Federal, Roraima, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, São Paulo, Tocantins,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina
e Minas Gerais”, diz a artista plástica Helena Vasconcelos, idealizadora do
encontro, que tem como produtora Laila Santoro e
curadoria de Augusto Luitgards, Maiorone Barbosa e PX Silveira.

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Do total de 84 inscrições, 60 artistas vivos foram selecionados. Dentre
eles, nove goianos: Alessandra Teles, Américo Poteiro, Dilvan Borges, Manoel
Santos, Omar Souto, Pedro Galvão, Rosa Domingues, Sandro Carvalho e também da
idealizadora Helena Vasconcelos.

Homenagens

Os
artistas homenageados deste ano são Dona Tânia de Maia Pedrosa, Vera Marina
Barata Ribeiro, Nilson Pimenta (faleceu em 2018) e Aparecida Azedo. “As
duas decanas vivas estão em Goiânia. A dona Tânia é a maior colecionadora de
arte popular do Brasil e uma artista naïf premiadíssima, e a Vera Marina também
está aqui conosco. Ela é uma artista de grande importância para a arte naïf, é
miniaturista. Nilson Pimenta, que morava no Mato Grosso, era um companheiro
muito bom de joranda naïf, e a Aparecida, que nasceu em Brodovski, tem, no
Museu Internacional de Arte Naïf do Rio de Janeiro, um painel de arte de 24
metros”, comenta Helena.

Ainda
segundo a artista, na primeira edição, foram homenageados Antônio Poteiro –
referência da arte naïf no Brasil; Miriam de Trindade, que viveu pouco tempo em
Goiás e fez sucesso no Rio de Janeiro, e Fecórdula, que faleceu em 2017.

História, seleção e evolução

Como conta
a artista idealizadora, cada região mostra a sua história. “Enquanto eu
mostro o Fogaréu, a Cavalhada, meu amigo, lá do Nordeste, mostra o boi, a Festa
Junina; São Paulo mostra a Congada; Minas também tem um misto de Congada – e
por aí vai. Cada região traz a sua característica. É uma exposição muito rica,
de uma diversidade muito grande”, explica Helena.

Sobre
a seleção dos artistas e suas obras, Helena explica que foi feita por meio do
envio do que foi solicitado no edital: “Por meio das inscrições, os artistas
deveriam mandar fotos de três obras em alta resolução. Essas fotos foram
enviadas aos nosso três curadores para que eles fizessem a avaliação. Então o
propósito era realmente selecionar uma ou duas obras por artista, e assim
aconteceu. Muitos selecionaram apenas uma, e a maior parte selecionou duas.
Então o processo foi todo feito de acordo com o que foi pedido no edital”.

Para
a idealizadora do encontro, houve um diferencial muito grande do segundo Enanco
com o primeiro. “O primeiro nasceu tímido. Há quatro anos, eu vinha pensando em
fazer, aqui, uma exposição coletiva com grandes naïfs do Brasil. Era um sonho,
muito difícil de ser alcançado. Então nós trabalhamos, elaboramos, e
conseguimos, por meio da lei de incentivo municipal, realizar o primeiro
Enanco, que foi feito todo através de convites a artistas sobre os quais eu já
tinha um determinado conhecimento e tinha contato. Desta vez, nós resolvemos,
então, ampliar, porque o projeto foi aprovado pela Lei Goyazes de Incentivo à
Cultura – que possibilita uma amplitude maior. Então nós fizemos o edital,
publicamos nas redes, publicamos na Seduce, enviamos aos artistas. Como nós não
temos premiação em dinheiro, ficou um número menor de inscrições do que em outros
concursos (que têm premiação em dinheiro), mas, mesmo assim, nós tivemos um
número expressivo: conseguimos selecionar 60 artistas vivos e dois mortos – os
representantes desses dois mortos vêm para receberem as homenagens”.

Arte naïf

Partindo
de uma premissa de ‘pintura inocente’, a arte naïf trabalha com tradições de
uma terminada região, sem seguir um padrão estético. O significado de arte naïf
– também denominada ‘arte primitiva moderna’ – pode ser interpretado como um
tipo de arte simples, desenvolvida por artistas sem preparo e conhecimento das
técnicas acadêmicas, considerada uma arte com elementos. A proposta nasceu com
o pintor francês autodidata Henri Rousseau (1844-1910), pertencente ao
movimento moderno pós-impressionista.

Conforme
explica Helena, na arte naïf não existe um tema central. “O artista é livre
para colocar na tela aquilo que ele sente, aquilo que ele vive, ou o que ele
viveu, ou a crença dele; ele tem liberdade. Nós não demos um tema; nós convocamos
os artistas a mostrarem, a fazerem o que eles fazem de melhor, e agora
convidamos todos para verem a riqueza dessa exposição, a diversidade. Nós
temos, nessa exposição, gente que pinta lampião, gente que pinta Nossa Senhora
da Penha, gente que pinta Yemanjá, gente que pinta Cavalhadas… É muito
diversificada, porque cada um quer mostra aquilo que de melhor e de mais bonito
tem na sua região”.

A
arte naïf tem uma importância muito grande para a sociedade, como enfatiza a
idealizadora do encontro. “Ela vai de encontro com os sonhos, com as lembranças
de cada um; cada um de nós traz conosco sonhos e lembranças de tudo o que a
gente viveu. Então, trazendo essa exposição a Goiânia, nós vamos também fazer
com que, durante o período de visitação, o pessoal se encontre ali. E o que nós
queremos é bastante gente no período dessa exposição. Convidamos as crianças
das escolas para que elas vejam o que é feito. A criança se identifica demais
com a arte naïf, e ela gosta. Vejo muitos pais, hoje, colecionarem artistas
naïf, porque os filhos foram a uma exposição, viram, gostaram, e querem aquele
trabalho. É algo que remete ao interior de cada um. Então ela tem, realmente,
importância grande, principalmente nesse momento conturbado, em que a gente vem
vivendo… Essa exposição traz muita cor muita alegria, muita esperança, e
valoriza o que há de mais bonito no Brasil, porque o Brasil é muito grande, é
muito bonito, e precisa, realmente, aproveitar tudo isso. E o artista naïf traz
essa mensagem, de esperança de dias melhores, de um tempo mais colorido… É
isso que nós queremos para a nossa sociedade: que as nossas crianças tenham
mais esperança, tenham mais fé, e que a gente mostre, através dessa exposição,
um futuro melhor.  Convido todos para que
vejam o que é feito nesse Brasil, em termos de arte, de valorização da cultura
regional. É uma mostra que traz o lado infantil, que todo adulto tem, e que o
artista naïf consegue transmitir ao espectador”, finaliza Helena Vascolcelos. 

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