“Que mulher que eu sou? Que mulher eu quero ser?”

Os Menestréis se apresentam com o espetáculo ‘Entre Marias e Clarices’, nesta terça (7), no Teatro Sesi

Postado em: 07-05-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: “Que mulher que eu sou? Que mulher eu quero ser?”
Os Menestréis se apresentam com o espetáculo ‘Entre Marias e Clarices’, nesta terça (7), no Teatro Sesi

SABRINA MOURA*

Entre Marias e Clarices é o espetáculo musical apresentado pelo grupo Os Menestréis, nesta terça-feira (7), às 20h, no Teatro Sesi, com participação do Quarteto Feminino Flor Essência.

Continua após a publicidade

Com direção geral de Luz Marina de Alcântara, coordenação de Roberta Borges e direção cênica de Edimar Pereira, o espetáculo trata de uma pesquisa sobre os perfis da mulher brasileira. “Esse estudo é algo meu, em que eu já tenho lido e me interessado, e resolvi propor para o grupo Os Menestréis fazer um espetáculo com músicas que tenham nomes de mulher e contar um pouco como é o perfil da mulher brasileira. Destacamos para a apresentação alguns perfis, não conseguindo destacar todos, porém os mais interessantes nós colocamos”, revela Roberta Borges.

Ao ser questionada sobre a importância em se falar sobre a mulher brasileira, Roberta afirma ser uma oportunidade que as mulheres, em geral, têm de refletir sobre a própria vida. “Elas podem se encontrar ou não dentro desses perfis. Acreditamos que sempre há uma coisa que pode mexer mais com uma ou outra; são realidades bem claras de tudo. O espetáculo tenta dar a possibilidade para a mulher refletir: ‘Que mulher que eu sou? Que mulher eu quero ser? E qual a minha importância na sociedade?’. Ele é um espetáculo que tem essa ideia de trazer a reflexão”, afirma a coordenadora.

O repertório partiu de uma pesquisa enorme, com várias músicas com nomes de mulher, em que Roberta e os músicos foram assimilando cada música dentro dos perfis psicológicos: “Então há vários perfis, por exemplo, a ‘Carolina’ de Chico Buarque, que é a mulher depressiva, e tem de lidar com essa doença moderna, e ao mesmo tempo estar presente no mundo. A gente quis traçar, nesses perfis, situações do cotidiano que essas mulheres vivem. São músicas também que têm mais a ver com o perfil musical do grupo (Os Menestréis), com o que temos de instrumentistas e cantores”.

Espetáculo           

Entre Marias e Clarices é uma mistura de sensações e sentimentos trazidos nas canções que mostram o que mulheres comuns podem ou não viver em algum momento de suas vidas. Com poesias de Lourdes Ramos Gayoso, o espetáculo está dividido em quatro blocos distintos.

O primeiro bloco é marcado pelas ‘Marias’. As canções Canta Maria, Singela Canção de Maria e Maria Macambira convocam o público a perceber a mulher, com mais afetividade e delicadeza, valorizando sua unicidade, singularidade, seus desejos e emoções mais profundas. 

No segundo bloco, há a realidade das mulheres em transformação ou confusas com os seus papéis e ideias de vida. ‘Carolina’ traz à tona a realidade da mulher depressiva que não consegue perceber o mundo. Representada pelas doenças e dificuldades, evidencia o que milhares de mulheres enfrentam todos os dias: a necessidade de colocar-se e posicionar-se no mundo externo e a dificuldade em lidar com as doenças psíquicas modernas. ‘Beatriz’ não se deixa revelar: é sempre uma incógnita, um mistério. Mexe profundamente com a imaginação de possíveis amantes que desejam desvendá-la, mas não conseguem. ‘Gabriela’, mulher destemida, faz exatamente o que deseja: deixa tudo para viver suas paixões e ideais. Seu lema – “Eu nasci assim, eu cresci assim eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim, Gabriela, sempre Gabriela” – retrata sua intempestividade.

O terceiro bloco é marcado pelas tragédias que podem ocorrer no curso natural da vida de qualquer mulher. Representada pela perda, ‘Iracema’, de Adoniran Barbosa, é surpreendida em um acidente. A imprevisibilidade muda o rumo de Iracema, e tudo se acaba, a morte surge. A expectativa de uma vida a dois se esvai. Os sonhos morrem, a saudade de quem fica se estabelece. ‘Angélica’ narra a história real de Zuzu Angel, estilista brasileira que perdeu um de seus filhos no período da ditadura militar. Seu filho foi torturado, morto, e seu corpo nunca encontrado. O desejo da mãe Zuzu era encontrar o corpo para sepultá-lo de maneira digna.

‘Conceição’, mulher simples do morro, percebe a oportunidade de mudar de vida. Sonhando com as coisas que o morro não tem, embala na busca de seus ideais, e acaba perdendo-se. Tentando a subida, desce! Arrependida e infeliz, agora daria um milhão para ser outra vez a simples Conceição do morro. ‘Amélia’, uma mulher ‘boa’ para todos, retrata a mulher invisível, aquela que não se vê. Conformada com a vida, agrada a todos, mas desconhece suas próprias vontades. Não reclama, não impõe, não diz nada; apenas aceita.

O quarto bloco é marcado por mulheres que mudam suas vidas negando a realidade social imposta. Pafunça, o que seria a ‘amiga ideal’, cansa-se de mimar o homem que não a assume. Ela vai embora e o deixa a ver navios. Sem sopa, roupa lavada e sem mordomias, ele reclama sua ausência e a acusa de possuir um coração sem amor. Clarice é bela. Gosta de caminhar pela Avenida Paulista gingando, enlouquecendo os homens. Eles ficam malucos de amor até descobrirem que Clarice na verdade é Claudionor, um travesti dos anos 30. “A história de Clarice que é Claudionor foi uma indicação de um dos músicos, que é da linha do choro e do samba, em que achamos a música divertida e engraçada. Com isso, ficamos imaginando como que seria a vida de um travesti na década de 1930. Se atualmente já é algo complicado, imagina naquela época! A Clarice, que é o travesti, traz essa coisa do não convencional. Fizemos questão de colocar todos os perfis mesmo”, aponta Roberta.

A mensagem geral do espetáculo, segundo Roberta, seria ‘que mulher que você quer ser?’ ou então para os homens que vão assistir ao espetáculo ‘como que eu devo me posicionar ou tratar uma mulher?’. “As histórias têm muito a ver com relacionamentos, tragédias vindas de histórias verídicas e as coisas do cotidiano em geral. Que mulher que eu sou e que mulher eu desejo ser? Essa seria a mensagem principal”, finaliza a coordenadora Roberta Borges. 

Os Menestréis

Formado por professores de música da Rede Estadual de Ensino, o grupo atua de forma específica na área de música e se utiliza também da poesia e cena nas apresentações. O grupo é composto pelos cantores Sheila de Paiva (soprano), Roberta Borges (contralto) e José Ricardo Eterno (tenor), e conta com os instrumentistas Sergio de Paiva (piano), José de Geus (clarineta e flauta doce), Valdemar Alves (violão), Diego Amaral (percussão).

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação 

da editora Flávia Popov

SERVIÇO

‘Entre Marias e Clarices’

Quando: terça-feira (7) às 20h

Onde: Teatro Sesi (Avenida João leite, nº 1.013, Setor Santa Genoveva – Goiânia)

Entrada: Doação de 2kg de alimentos ou um livro literário. Os ingressos podem ser retirados na bilheteria do teatro

 

Veja Também