Negócio goiano na Austrália

‘Say Grace Cafe e Bistro’ é finalista do ‘Glenelg Shire Business and Tourism Awards’

Postado em: 31-07-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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‘Say Grace Cafe e Bistro’ é finalista do ‘Glenelg Shire Business and Tourism Awards’

Sabrina Moura

Eles são os responsáveis por oferecer uma cultura nova para uma comunidade formada basicamente só de australianos. Bruno Garibaldi e Milena Gilberti são os proprietários do Say Grace Cafe e Bistrô, na cidade de Casterton, localizada a 3h30 de Melbourne, na Austrália. Os brasileiros são finalistas do Glenelg Shire Business and Tourism Awards na categoria ‘turismo e hospitalidade’. A premiação, que evidencia os melhores negócios da região, ocorrerá neste dia 2 de agosto.

Ida para a Austrália

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A primeira experiência de Milena fora do País foi aos 16 anos, quando morou no Canadá, devido a um intercâmbio. “Após essa experiência, desde então era meu sonho morar fora. Eu vi a questão de qualidade e estilo de vida, e isso me agradou muito. Voltei para o Brasil, terminei o ensino médio, entrei na faculdade e nunca segui esse sonho. Durante o curso de Direito, eu e o Bruno nos conhecemos, começamos a namorar e nos casamos depois de formados”, conta ela.

Foi a partir de um ano de casados, com a economia não muito boa no País, que o casal decidiu que seria o melhor momento para passar um tempo fora do Brasil. “Decidimos que iríamos morar fora por seis meses, aprimorar o inglês e depois retornar para o Brasil. A ideia, em princípio, era ir para o Canadá, porque eu já conhecia, e queria morar lá, mas, quando procuramos a agência de turismo, fomos informados de que o visto para lá era complicado, porque não era possível trabalhar e estudar ao mesmo tempo. Com isso, eles sugeriram a Austrália, um país que aceita que você trabalhe enquanto se estuda inglês”, relembra Milena. 

A cidade escolhida por Milena e Bruno foi Melbourne, capital costeira do estado de Victoria, no sudeste da Austrália, onde estudaram inglês e acabaram se apaixonando pela cidade, pelo estilo e pela qualidade de vida. “Depois de seis meses estudando, nós decidimos que queríamos estender um pouco mais nossa estadia, mesmo não tendo a certeza se ficaríamos para sempre ou não. A melhor forma de ficar no país seria continuar com os estudos. Por já sermos graduados, não queríamos mais estudar nada na nossa área. Estávamos mais relaxados e querendo desestressar da vida louca que a gente tinha no Brasil, então procuramos um curso que fosse um hobby.  O Bruno sempre gostou de cozinhar, e um dos cursos que estavam disponíveis era o de gastronomia. Tivemos o direito do visto e de trabalhar, por meio período, então alugamos um apartamento e construímos a nossa vida”, explica Milena.

Após os dois anos de curso do Bruno, apesar de haver tudo em Melbourne, a vida estava muito corrida, e ambos tomaram uma decisão: “Nós decidimos que iríamos nos mudar para uma cidade do interior a fim de conseguir a residência permanente na Austrália, pois é mais fácil conseguir se você estiver numa área regional, que é no interior. O Bruno iria tentar arrumar um emprego na área de gastronomia, numa dessas áreas do interior, e, se ele arrumasse, a gente tentaria ficar mais um pouco; se ele não arrumasse, voltaríamos para o Brasil. Com o curso que ele fez, ele saiu do visto de estudante para ter o direito de trabalhar no período integral, e eu passei a ter o mesmo direito. Foi quando começamos a olhar empregos em cidades do interior. Ele conseguiu um emprego numa cidade do interior – que a gente nunca tinha escutado falar –, chamada Casterton”.

Tratava-se de um hotel onde há o costume de fazer de pub, um hotel com um bar embaixo. “O Bruno ficou como chef de cozinha, e, eu, como gerente. Foi ótimo para os dois. Pedimos demissão dos nossos trabalhos, e ficamos um tempo indo e vindo, até que conseguimos fazer a mudança. Assim que nos mudamos, começamos a trabalhar no hotel, e o emprego era horrível! O dono do hotel era extremamente rude! Trabalhamos, lá, por duas semanas. Saímos, e ficamos desesperados, pensando no que iríamos fazer, porque, naquele momento, não dava para empacotar tudo e voltar para o Brasil”, memora Milena.

Após a decisão de deixar o emprego no hotel, o casal começou a procurar emprego nas cidades em volta. E, em um dia em que eles andavam pela rua pensando o que iam fazer da vida, avistaram um café na avenida principal, “lindo e muito charmoso”, segundo Milena, que estava fechado. “Começamos a olhar pela janela para ver o café, por dentro, e começamos a questionar o motivo pelo qual ele estava fechado. Bem ao lado dele, há uma boutique, e a dona dela estava lá fora, com o marido e um amigo deles, quando olharam para gente e informaram que o local estava à venda. Eles falaram que era um negócio muito bom e que só precisaríamos saber cozinhar. O Bruno como chef,  ao ver a cozinha do lugar, já decidiu que era ali que íamos ficar”, conta a esposa de Bruno.

Milena lembra que eles saíram de lá empolgados e pensando como poderiam comprar um negócio na Austrália, pois não tinham a menor condição financeira para isso: “Resolvemos entrar em contato com a corretora de imóveis para ver se havia outra opção, porque o ‘não’ a gente já tinha, e comprar era impossível para nós. Conversamos em busca de outra opção, e a proprietária do café disse que aceitaria alugar o negócio para a gente. Começamos a fazer as negociações para o aluguel e o contrato. Em menos de um mês, abrimos o café.Tudo aconteceu muito rápido”.

Kelpie Weekend

Casterton é conhecida na Austrália como a cidade de nascimento do cão da raça kelpie, criado e desenvolvido no país, especificamente na cidade de Bruno e Milena. Quem tem essa raça vai para o Kelpie Weekend em junho. São três dias de festival em torno da raça do cachorro. “A corretora de imóveis que nos auxiliou durante a negociação do café ligou para gente, explicou sobre o festival, e disse que queria fazer um jantar de caridade para arrecadar dinheiro para o hospital da cidade, sendo uma ótima oportunidade para abrir as portas do café. Muitos disseram que nós éramos doidos, porém topamos. Nós não fazíamos ideia do que nos esperava – passam em média 20 mil pessoas durante o festival. Nosso primeiro fim de semana de funcionamento foi durante o Kelpie. Abrimos na quinta-feira, e na sexta foi o jantar beneficente, que foi um sucesso! No dia seguinte, já era o início do festival, e foi uma loucura! Acho que foi a maior coisa que eu já fiz na minha vida! A fila de gente tinha espera de 20 minutos por um café!”, relembra Milena.

Após essa ‘estreia’, a brasileira diz que eles estavam preparados para o que desse e viesse. Em 2019, foi o segundo ano deles no Kelpie Festival, porém estavam mais organizados. “Vendemos, em um dia, mais de 1.100 cafés. Não havia fila! Nós realmente aprendemos bastante”, afirma.

Milena considera o nível do café muito alto, porque, na Austrália, principalmente em Melbourne, a cultura do café é muito grande. Segundo ela, essa cultura de café, que hoje há em Goiânia, na Austrália é tradição, e estão sempre inovando. “Aqui, eles têm café, por exemplo, com açafrão e beterraba; não é apenas o cafezinho: é muito elaborado. Os cafés daqui são maravilhosos e considerados os melhores do mundo. O que procuramos fazer foi levar essa cultura de café muito bom de Melbourne – que por dia se vende um milhão e trezentos mil cafés – para cidade do interior. Estamos em uma região muito rica, com muitos fazendeiros, pessoas viajadas, com um estilo de vida um pouco melhor e que não têm possibilidade de encontrar essas coisas na região em que eles moram. Temos uma estrutura maravilhosa, e foi isso que encantou a gente na cidade”, pontua.

Cultura brasileira

A brasileira explica que, no menu, eles sempre tentam colocar um pouco da comida brasileira com uns especiais. “Já fizemos uma feijoada para um grupo de 26 pessoas com sucesso absoluto. Eles nunca haviam experimentado ou comido nada parecido. Já fizemos camarão, moqueca, pão de queijo, brigadeiro – que não pode faltar – pudim, e a gente está sempre colocando um pouquinho da cultura brasileira, da nossa comida para eles. É sempre um sucesso absoluto!”.

Outro prato fixo do nosso cardápio e que segundo ela tem boa saída é o bife a cavalo. “O Bruno faz um pedaço de carne, com ovo em cima, e serve com salada e batata, porque aqui eles não comem muito arroz, e substituem pela batata frita”, conta. “A gente está colocando uma cultura nova para uma comunidade formada basicamente só de australianos. Fazer o sucesso, sermos referência, termos sido indicados à premiação, termos conseguindo crescer e nos destacar, tanto, dentro de um lugar tão específico, é muito gratificante! Acho que parte dessas conquistas também são devido a essa alegria ao jeito do brasileiro. As pessoas vão não só pela comida ou pelo café; elas vão lá pela gente, pelo atendimento que eles têm, pelo calor do brasileiro. Aqui na Austrália, todo mundo ama brasileiro! É muito gratificante as pessoas terem nos adotado como parte da comunidade e nos tratar tão bem!”, completa Milena.

Premiação

Milena conta que, depois de um ano procurando sempre trabalhar com produtos de qualidade, veio a oportunidade do prêmio Glenelg Shire Business and Tourism Awards, que traz os melhores negócios da região com várias categorias – uma delas é ‘turismo e hospitalidade’, para a qual eles foram indicados: “Mandamos nossa história para eles, e, dentre 60 aplicações, foram escolhidos dois finalistas, e fomos um deles. A nossa cidade ficou orgulhosa, porque estamos levando o nosso nome – de uma cidade tão pequena – para as outras cidades que são referência em turismo”.

Para a brasileira, além do reconhecimento e do empreendedorismo fora do País, a coisa mais importante é poder falar e mostrar aos outros que é possível sonhar, correr atrás e se realizar. “O brasileiro é muito esforçado, então, aonde vamos, nos destacamos. A ‘moral’ do brasileiro, fora, é muito baixa, então ver brasileiro se dando bem (fora do País) é muito bom para que reconheçam o nosso valor!”, finaliza Milena.

(Sabrina Moura é estagiária do jornal O Hoje sob orientação da editora do Essência, Flávia Popov) 

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