‘Sagrado’ e ‘Congo é terno’ estreiam hoje

Os dois curtas do diretor Ângelo Lima têm entrada franca - Foto: Divulgação

Postado em: 24-09-2019 às 07h00
Por: Guilherme Araújo
Imagem Ilustrando a Notícia: ‘Sagrado’ e ‘Congo é terno’  estreiam hoje
Os dois curtas do diretor Ângelo Lima têm entrada franca - Foto: Divulgação

Aline Bouhid 

Nesta terça-feira (24), às 19h30, no Centro
Cultural Goiânia Ouro, estreiam dois curtas do diretor Ângelo Lima. A entrada é
franca. O primeiro, com trinta minutos, conta como a sinhá Valéria virou ialorixá e, o segundo, fala a história das congadas de Catalão. “Nesses tempos
sombrios, onde as pessoas estão atacando o diferente, filmar “Sagrado” foi um
presente”, disse Ângelo logo no início da nossa conversa. “É quase forma de
resistência ter uma noite só para celebrar a cultura negra do povo brasileiro”,
comentou.

‘Congo é terno’ começa com um trem. É clichê, no
sentido metafórico da palavra, começar um filme que quer nos levar para outra
realidade com um trem. Mas, os clichês existem porque funcionam. Em menos de
trinta segundos, estamos naquele lugar, naquele trem vermelho pensando onde
estamos chegando nessa história. E, a pergunta é respondida logo depois, quando
as imagens mostram o letreiro com o nome da cidade: Catalão. As Congadas
existem em Catalão há 143 anos. É uma das maiores representações religiosas do
País.

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Nos 60 minutos de documentário temos a
oportunidade de ver essa tradição passando pelas gerações. Idosos, adultos e
crianças, todos se reúnem em torno de um dos 25 blocos para celebrar a Nossa
Senhora do Rosário. Existem outros dois enredos possíveis de congadas, que
trazem a vida de São Benedito e as invasões mouras, mas elas não são tratadas
de forma específica. Neste filme, vemos como com o canto, a dança e a música
recriam os enredos de coroação do rei do Congo e prestam homenagens a Nossa
Senhora do Rosário. A festa normalmente é realizada na última sexta-feira de
setembro ao 2º domingo de outubro.

O fio do documentário são os depoimentos
envolvidos na realização do evento que mostram a emoção e o significado
histórico para cada um dos que participam da festa. A fotografia é poética,
captando a força da festa com closes nos rostos dos participantes. A câmera
acompanha o movimento das danças e os detalhes das vestimentas e conseguem ser
o trem eu nos leva para aquele momento de devoção religiosa. 

A história é narrada pelos próprios
protagonistas, exceto por algumas explicações do locutor que pontua
tempo/espaço com informações que vão dar maior entendimento histórico. As
entrevistas são sensíveis e espontâneas, pouco produzidas e com muita luz
natural, o que transmite mais emoção para quem assiste. 

Assistir os trinta minutos de “Sagrado” é
vivenciar como os cultos podem ser inclusivos. Historicamente falando,
precisava ser assim. Os negros trazidos para o Brasil tinham religiões
diferentes. Quando foram trazidos para cá a forma de juntar todos os escravos
era fazer uma mistura de cada religião, com rituais e cultura partilhados.
Unidos. Daí surgiu o Candomblé. A crença nasceu na Bahia e tem sido sinônimo de
tradições religiosas afro-brasileiras em geral. A Umbanda, que também tem
origens africanas, une práticas de várias religiões, inclusive a Católica. Ela
se originou no Rio de Janeiro, no início do século 20. 

No filme, vemos muitas cores, muito som, muito
atabaque. Além disso, temos o privilégio de conhecer a Valéria. Toda família é
da religião do Condomblé, e ela trabalhou por sete anos para conseguir o
“sagrado” na Umbanda. É uma categoria elevada, na qual ela tem a permissão para
realizar rituais mais complexos. Ela precisou estudar sete anos para
isso. 

A música é um dos personagens dos documentários.
Muito além do samba, que o estilo musical brasileiro mais famoso do mundo,
tem-se o ritmo da Congada e do Moçambique. Mais que estranhamento, temos
encantamento. As contribuições da cultura de origem
africana para a construção da personalidade brasileira são inegáveis e estão em
toda parte. Em tempos cinza, vemos cores, dança, alegria e busca pelo
transcendental. É sempre bom lembrar o sentido original da palavra religião:
religare. Religar ao que transcende o corpo e a matéria.

Sobre o diretor

Ângelo José da Cunha Rego Lima nasceu em Recife
Pernambuco em 1951. Com nove anos de idade mudou-se para Goiânia. Filmou mais
de 40 filmes nessa trajetória. Atualmente é presidente da ACINE – Associação de
Cinema Independente de Goiás, fundada há quatro anos e faz parte do Conselho de
Cultura do Município.


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