A construção de um goiano do pé rachado

O cronista goiano, José Mendonça Teles, no texto “O que é ser goiano” expressa todo o sentimento da nossa goianidade | Foto: reprodução

Postado em: 25-04-2021 às 13h10
Por: Pedro Jordan
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O cronista goiano, José Mendonça Teles, no texto “O que é ser goiano” expressa todo o sentimento da nossa goianidade | Foto: reprodução

Augusto Sobrinho

Nasci, cresci e, há 21 anos, moro em Goiânia. Desde cedo já ouvia falar sobre “ser goiano de pé rachado”, mas sempre com uma pulga atrás da orelha sobre essa identidade. Pois, queria saber o que me tornaria legítimo ou merecedor dessa nomenclatura?

Ouvia sobre o assunto na casa dos meus avós, na escola e até andando na rua. Sem entender muito bem como se dava esse processo de descoberta de uma identidade goiana. Parecia-me que somente o fato de nascer no nosso Estado não era suficiente para tal sentimento de pertencimento a essa cultura.

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Ser chamado de goiano está além de uma certidão de nascimento ou residência em Goiás. Quando percebi isso, decidi me desapegar de papéis e da burocracia para buscar me sentir pertencente a essa identidade. Porém, acredito que ainda estou no processo, uma construção que chamo de rachando o pé.

Em certo momento tive contato com a crônica “O que é ser goiano”, de José Mendonça Teles. A experiência desse escritor e professor me direcionaram para a interpretação de que o goiano está ligado aos sentimentos, ao percurso, à história, à tradição, à culinária e à capacidade de se modernizar.

O hidrolandense, José Mendonça Teles, que nasceu no dia 25 de março de 1936, é um legítimo goiano de pé rachado. Ele foi presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás durante 12 anos e presidente da Academia Goiana de Letras por outros 10 anos. Além de ter sido, secretário de Cultura de Goiânia e presidente do Conselho Estadual de Cultura de Goiás.

Sua identidade não é marcada pela naturalidade, mas pela vivência e participação no resgate da cultura goiana. Tal situação lhe capacitou para ser historiador, poeta, contista, cronista, ensaísta, dicionarista, jornalista e autor de 33 livros relacionados com a cultura goiana.

Não lhe faltou inspiração para falar desse sentimento de goianidade na crônica “O que é ser goiano”. José Mendonça Teles fala com amor e ainda responde a minha pergunta sobre o que me tornaria um legítimo goiano de pé rachado com o total domínio e propriedade dessa identidade.

“O goiano de pé-rachado não despreza uma pamonhada e teima em dizer ei, trem bão, ao ver a felicidade passar na janela, e exclama ‘vixe’, quando se assusta com a presença dela. […] Ser goiano é saber fundar cidades. É pisar no Universo sem tirar os pés deste chão parado. É cultivar a goianidade como herança maior. É ser justo, honesto, religioso e amante da liberdade.”

O texto permeia o comer pequi, o carro-de-boi, a doação de terras para Brasília, Minas Gerais e Tocantins, música caipira e poemas de Cora Coralina. Todo esse sentimento e história expressos na crônica me fizeram perceber que o que nos torna goianos é aquele velho hábito, a tradição.

O processo de rachar o pé por ser goiano é uma estrada. É visitar os Mercados Municipais para comer empadão ou comprar ervas e temperos. É visitar o Teatro Goiânia para assistir Nilton Pinto e Tom Carvalho. É saber que não existe plantação de pequi, pois ele dá em todo canto.

 Ser goiano é se conectar com a natureza tomando um banho de cachoeira em Pirenópolis. Mas é também fazer compras no centro ou em Campinas ou comer fast food no shopping. Podem até falar que Goiás é roça, mas nós sabemos que na nossa “roça” existe uma cidade imensa e cheia de arranha céus. Uma cidade movimentada e com pessoas cheias de boas prosas e histórias.

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