Uitoto: conheça o povo indígena ao qual pertencem as quatro crianças perdidas na Amazônia colombiana

No dia 1º de maio deste ano, quatro irmão com idades de 13, 9, 4 anos, e um bebê de 11 meses, desapareceram após registro de um acidente aéreo envolvendo o avião que sobrevoava o sul da Colombia, como foi informado pelo Ministério do Interior do país.

Após 40 dias perdidos na floresta colombiana, os quatro irmão pertencentes à comunidade indígena uitoto foram resgatados com vida na chamada Selva Guaviare, uma região de difícil acesso e que está localizada entre os departamentos colombianos de Caquetá e Guaviare.

Onde estão localizado os uitoto e quem são eles?

O povo indígena uitoto (também conhecido como huitoto, witoto, murui, muinane, mi-ka ou mi-pode) habita a floresta tropical colombiana dentro dos departamentos administrativos do Amazonas, Caquetá e Putumayo, no sul da Colômbia.

Mas alguns integrantes dessa comunidade também residem em alguns países vizinhos, como nas fronteiras do Brasil e do Peru, segundo o documentário do Ministério da Cultura colombiano intitulado “Os uitoto, filhos do tabaco, coca e mandioca doce”.

Segundo o governo colombiano, eles se dividem tradicionalmente em dois grupos: os muri (pessoas do ocidente) e os muinane (pessoas do oriente).

Deste, também são divididos em três grupos linguísticos distintos: os uitoto minica ou meneca, que vivem nas próximidades da cabeceira do Rio Igara Paraná e às margens dos rios Caquetá, na região amazônica; os uitoto nipode ou muinane, vevem nas fronteira colombo-peruana; já os bue ou murui, maioria, estão localizados na fronteira entre a Colômbia e o Peru, no departamento do Amazonas, às margens do rio Cara-Paraná.

A cultura uitoto

Segundo a cosmogonia uitoto, uma entidade conhecida como “o pai criador” surgiu quando um redemoinho de vento juntou detritos que acabaram adiquirindo a forma humana. Como explica o documento do governo colombiano, quando apareceu na Terra “o pai criador” recebeu o nome de Echikrama, que significa “ser avermelhado”, e foi quem deu início aos uitoto.

Segundo o documento, dentro da concepção desse povo indígena, é possível identificar uma cartografia social e sagrada. Como por exemplo, existem áreas de reserva onde não é permitido realizar atividades de caça, pesca, coleta ou desmatamento, pois são lugares habitados pelos seres criadores. Da mesma forma, são comuns rituais para a coleta de amendoim, o plantio e a caça.

Em relação à organização política, o poder é transmitido de geração em geração. A autoridade tradicional é conhecida como iyauna, o ancião líder do clã, que governa e cuida dos objetos sagrados no território. Além disso, segundo o órgão colombiano, também existem autoridades não-tradicionais representadas pelos conselhos das diferentes comunidades.

A história do povo uitoto

Os uitoto permaneceram isolados e desconhecidos aos povos não-indígenas até o início do século 20, quando a exploração da borracha e da casca de quina avançou até a região em que habitam, como afirma o documentário do ministério colombiano. A extração desses recursos acabou causando uma dispersão, redução populacional e perda de práticas e conhecimentos tradicionais da comunidade, que passou por momentos de tortura. É estimado que durante o “boom da borracha” colombiana, que durou entre 1912 e 1929, cerca de 40 mil indígenas perderam a vida, como foi registrado em documentos do governo.

“Para escapar dessa situação de extermínio pela exploração da borracha, os uitoto fugiram depois de resistir e se rebelar. Foi por meio dessas migrações que conseguiram sobreviver e se estabelecer em locais distantes de seu território de origem”, afirma o documento do Ministério da Cultura.

Após a década de 40, diferentes ciclos de exploração de recursos, com seus consequentes processos de colonização e extorsão das comunidades nativas, continuaram a dispersar os uitoto, como acrescentou o ministério.

No entanto, já no século 20, os uitoto iniciaram um processo de recuperação sociocultural e, em 1988, foi criaram o “Resguardo Predio Putumayo”, a maior reserva indígena da Colômbia, através de um novo modelo organizacional com altos níveis de integraão étnica e social.