Por trás do mistério da ‘cachoeria de sangue’ da Antártica

Visualizar esse líquido vermelho assustador foi um privilégio que Thomas Griffith teve quando visitou a porção oriental da Antártica, em 1911

Postado em: 13-07-2023 às 15h15
Por: Cecília Epifânio
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Por trás do mistério da 'cachoeria de sangue' da Antártica | Foto: Wikimedia

A imagem de uma geleira escorrendo um líquido vermelho, que lembra sangue, pode ser sido um tanto assustadora. Quando esse fenômeno acontece na Antártica, significa que ele se tornará um mistério, já que o continente é despovoado e muito do que ocorre por lá é pouco compreendido por nós.

Visualizar esse líquido vermelho assustador foi um privilégio que Thomas Griffith, um geógrafo britânico, teve quando visitou a porção oriental da Antártica, em 1911 – o que lhe rendeu o nome de “Blood Falls” no evento. Recentemente, graças a uma pesquisa publicada no periódico Frontiers in Astronomy and Space Sciences, finalmente existe uma explicação para isso.

Explorando a “cachoeira de sangue”

Como os pesquisadores já suspeitavam, a presença de ferro é a explicação para a cor das água, já que seu tom avermelhado é bastante característico. Porém, identificar que realmente se tratava desse material não foi algo tão simples, pois exigiu a coleta de amostras para uma análise multitécnica, justificando a demora na divulgação de uma resposta.

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De acordo com Ken Livi, que é pesquisador da Johns Hopkins University e examinou o material, os métodos de identificação utilizados falharam por serem capazes de detectar apenas átomos dispostos em estruturas cristalinas. Neste caso, as nanoesferas de ferro não apresentam essas características, dificultando a identificação.

Além do ferro, silício, sódio, cálcio e alumínio também foram identificados. A presença deles, combinada à salinidade presente no líquido, foi apontada como o motivo para que as águas subgalaciais apresentassem coloração amarelada em determinados períodos. Por outro lado, a cor avermelhada se apresentava após as nanoesferas terem contato com o oxigênio.

Regiões subterrâneas da Antártica podem abrigar bactérias mesmo em condições inóspitas. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Foto: GettyImages

De onde vem o material despejado pela Geleira Taylor?

Acredita-se que as nanoesferas de ferro que saem da geleira Taylor têm origem em um lago salgado que existe há milhares de anos. Apesar de quase não existir oxigênio na região em que o lago se encontra, foi possível identificar a presença de bactérias.

Esses micro-organismor teriam preservado sua existência graças ao ciclo de ferro que existe nessa antiga água, que preserva algumas características únicas. Segundo os cientistas, essas descobertas, e até mesmo os métodos de identificação utilizados para a pesquisa, serão úteis nas buscas por diferentes formas de vida em outros planetas.

Tudo isso porque estamos tratando de um ambiente bastante desfavorável para a vida na Terra, e que possivelmente contou com bactérias que permaneceram imutáveis ao longo de milênios. Além disso, conhecer melhor sobre a estrutura de materiais que não sejam cristalinos, de dimensões nanométricas, se mostra como um caminho interessante a ser explorado, uma vez que eles também podem estar presentes em outros planetas, como Marte.

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