Vlad, o Empalador: conheça o Drácula original, muito mais aterrorizante que a versão literária

O príncipe é considerado um herói ou tirano

Postado em: 07-08-2023 às 16h27
Por: Cecília Epifânio
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Vlad, o Empalador: conheça o Drácula original, muito mais aterrorizante que a versão literário | Foto: Pintura de Vlad/ Dominio Público

Muitos anos antes do romancista irlandês, Bram Stoker, escrever seu famoso romance envolvendo um conde vapiro, um príncipe europeu de bigode extravagante ganhava uma reputação bastante assustadora por sua maneira de espantar invasões otomanas.

Seu nome era Vlad III (Draculea, em romeno), e, naquela época, esse segundo nome não causava espanto nas pessoas. O nome foi dado por seu pai, que era membro da Ordem do Dragão, uma cavalaria monárquica reservada apenas para príncipes e aristocratas, fundada em 1408 com o objetivo de defender Santa Cruz e lutar contra os inimigos da Igreja Católica. Drácula significa nada mais nada menos que “filho do dragão”. Mas o apelido que pegou mesmo foi o que recebeu após a morte: Vlad, o Empalador.

Drácula era príncipe da Valáquia, que faz parte da atual Romênia. Ele ficou bastante conhecido em todo o território europeu pelos diversos métodos utilizados para executar seus prisioneiros, como, por exemplo, decapitá-los, fervê-los ou até mesmo enterrá-los vivos.

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Mas “o Empalador” veio de sua forma preferida de execução/torturaL o empalamento. Uma estaca de madeira era cuidadosamente cravada entre as nádecas da vítima e saia um pouco abaixo dos ombros.

Esse método deixava todos os órgão vitais intactos, de maneira que a vítima do empalamento passava 48 horas de retorcendo em um sofrimento agonizante até finalmente morrer.

A verdade é que este tipo de tratamento dado aos inimigos derrotados não era algo incomum na Europa medieval. Por exemplo, dizem que o primo-irmão de Vlad, Estevão, o Grande “empalou pelo umbigo, em diagonal, um por cima do outro” 2,3 mil prisioneiros turcos em 1743. Após sua morte, Estêvão foi adorado como um santo e canonizado pela Igreja Ortodoxa Romena em 1992.

Mas a matança orquestrada por Vlad uma década antes de Estêvão foi marcante para os padrões da época, rendendo a ele um lugar na posteridade.

Uma juventude violenta

Vlad III Drácula nasceu em 1431, no coração da Transilvânia. Ele é o segundo filho do nobre Vlad II Drácula. Ele cresceu em um mundo cheio de instabilidades, na região da Europa cristã, que estava em constante ameaça de uma invasão otomana, após a queda de Constantinopla em 1453.

Com 11 anos de idade, Vlad III foi feito refém pelo Império Otomano, junto com seu irmão Radu, para forçar uma lealdade do seu pai, que era governador da Valáquia.

Em 1447, seu pai foi assassinado a mando de john Hunydi, governador da Transilvânia e uma importante figur política e militar da Hungria. Nesse mesmo ano, Hunydi enterrou vivo o irmão mais velho de Vlad III, Mircea II.

Mas Drácula escapou e reinou na Valáquia por um curto período no outono de 1448. Depois, governou novamente entre abril de 1456 e julho de 1462; e, por fim, em 1476 até sua morte, naquele mesmo ano.

Matança

A lenda de Drácula como um combatente sanguinário e flagelo dos otomanos teve início em junho de 1462.

Depois de várias tentativas fracassadas de capturar o príncipe rebelde, o sultão otomano Mehmed II reuniu e comandou pessoalmente um exército de 90 mil soldados até a Valáquia.

Mas o ímpeto e o moral daquele cerco impressionante sofreram um duro golpe quando o exército turco se aproximou da cidade de Târgoviște (na atual Romênia) e se deparou com uma cena horripilante.

Em uma área de quase um quilômetro e meio, 23.844 mebros do exército otomano de Mehmed, que haviam sido enviados anteriomente, foram feitos prisioneiros e empalados em semicírculo.

Devido ao calor do verão, o mau cheiro no local era insuortável, menos para as aves de rapina que se alimentavam dos soldados vivo e mortos, ou que se aninhavam em crânios dos cadáveres mais antigos.

O bosque macabro desestruturou as forças de Mehmed, e os soldados de Drácula, utilizando disfarces e táticas de guerrilha, passaram meses eliminando pouco a pouco os oponentes, até que os sobreviventes finalmente bateram em retirada.

Vlad era louco?

Nos dias atuais, muitos dos atos cometidos por Drácula poderiam ser definidos como ações de um sociopata altamente funciona. Além do tratamento destinado aos prisioneiros, Vlad também sacrificava animais para impedir que seus inimigos tivessem transporte e alimento. Ele também praticava guerra biológica, incentivando pessoas que sofriam de lepra, sífilis, peste e tuberculose a “vestir roupas turcas e se misturar com os soldados inimigos”.

Episódios ocorridos na esfera privada também apresentavam elementos de uma malícia puramente patológica. Em um desses casos, Vlad teria se enfurecido com o que ele considerou ser falta de respeito dos embaixadores italianos, que não retiraram os solidéus (um pequeno barrete utilizado por judeus e alguns eclesiásticos católicos para cobrir o alto da cabeçã), em sua preseça. Sendo assim, Vlad simplemente pregou as vestimentas na cabeça dos embaixadores.

Em outra ocasião, Vlad convidou uma multidão de anciãos, pobres, doentes, cegos e pessoas com deficiência física para um grande banquete em um restaurante de Târgoviște – apenas para enclausurá-los e queimá-los vivos. Ele depois comemorou o evento como sendo a “eliminação dos socialmente inferiores”.

Mas, afinal de contas, Vlad era um “vampiro”? Aparentemente, Drácula não tinha o costume de beber sangue — e, com tantos mortos, haveria litros e mais litros disponíveis, caso ele quisesse.

Porém, existe uma história que diz que, após queimar um subúrbio da Transilvânia e empalar os prisioneiros, Vlad sentou para jantar enquanto observava seus homens cortarem os membros das vítimas. E, de acordo com o relato, ele “embebia o pão no sangue das vítimas”, uma vez que “ver correr sangue humano lhe dava coragem”.

Detalhes aparentemente reais como este alimentaram a produção e venda em massa de panfletos que propagaram sua lenda após sua morte.

Embora acredite-se que Bram Stoker, que leu sobre o príncipe romeno antes de escrever Drácula (1897), teria baseado o protagonista do seu livro nele, não há nenhum documento que confirmem isso.

As anotações do escritor para o livro incluem menções sobre “Drácula”, mas o relato histórico de onde essas anotações foram tiradas menciona apenas o seu nome, e não os fatos que tornaram o príncipe tão conhecido.

Como morreu?

É provável que Vlad tenha morrido no final de dezembro de 1476, quando havia acabado de iniciar seu terceiro mandato como governante, em meio a um confronto com as forças turcas e do rival, Basarab III Liotá.

Um cidadão turco foi contratado para se passar por um dos servos de Vlad III e, aparentemente, o atacou pelas costas. O príncipe foi valentemente defendido por seus guarda-costas, até ser assassinado e decapitado. Os turcos levaram sua cabeça para Constantinopla e a pregaram no local mais alto, como um ato final de vingança.

Os monges locais encontraram seu dorso em um bosque perto de Bucareste (hoje, capital da Romênia) e o levaram para sua cripta no monastério da Ilha Snagov, em tributo à sua reputação de grande defensor, quase solitário, da cristandade europeia.

Mas os russos do seu tempo o consideravam herege, por ter abandonado o cristianismo ortodoxo para adotar o catolicismo romano. Por tudo isso, surgiu a suspeita de que ele não descansaria tranquilo em seu túmulo. Assim nasceu a primeira versão da lenda do vampiro.

Como Vlad III Drácula é lembrado?

Atualmente existem duas vertentes aparentemente opostas. Uma delas é a do tirano sanguinário. Os panfletos horripilantes sobre seus atos hediondos se tornaram um sucesso de vendas nos séculos 15 e 16. Com isso, o Drácula da vida real oferece um exemplo intrigante de um gênero de terror popular, muito antes da era dos romances — uma espécie de entretenimento obscuro baseado na realidade, provavelmente lido às escondidas.

A outra vertente é a do herói nacional. Durante grande parte do século 15, quase nenhum governante da cristandade europeia se dispôs a lutar contra seus maiores inimigos políticos e religiosos da época, os turcos muçulmanos.

O poderoso império otomano havia tomado o antigo local sagrado de Constantinopla em 1453 e sitiado as entradas de Viena, na Áustria, em 1529.

As campanhas de Drácula contra Mehmed II foram, em parte, o resultado da posição geográfica da Romênia. E, quase com total certeza, foram tão pragmáticas quanto as várias batalhas que travou e as atrocidades que cometeu contra cristãos, incluindo uma série de assassinatos de monges. Mas sua condição de salvador da cristandade romena foi duradoura e extraordinária.

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