Por que seres humanos conseguem correr longas distâncias?

Seres humanos são excelentes corredores de longa distância, uma característica que moldou nossa história evolutiva.

Postado em: 01-09-2023 às 17h38
Por: Ana Beatriz Santiago
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Em meio ao cenário desafiador do Vale da Morte, onde as temperaturas podem superar os 49 graus celsius no mês de julho, encontra-se a Badwater 135, uma das corridas a pé mais extremas do mundo. Com um percurso que se estende por 217 quilômetros, da elevação mais baixa da América do Norte até a mais alta nos Estados Unidos continentais, esta prova é uma verdadeira prova de resistência. Surpreendentemente, cerca de 100 pessoas se inscrevem anualmente para enfrentar a dureza do deserto nesta corrida, desafiando as expectativas.

O que torna os seres humanos capazes de tal feito? A resposta a essa pergunta reside em nossa extraordinária habilidade de corrida de longa distância, uma característica única que nos distingue de muitas outras espécies do reino animal. Embora não possamos competir em velocidade com muitos animais de quatro patas, como cães, cavalos e chitas, os seres humanos frequentemente superam essas criaturas em corridas de longa distância.

Uma hipótese para explicar essa capacidade notável se baseia na evolução de nossos ancestrais. Cerca de 7 milhões de anos atrás, nossos antepassados semelhantes a macacos deixaram as árvores para procurar comida no solo. Inicialmente, sua locomoção era ineficiente, mas à medida que o clima se tornou mais quente e as savanas se tornaram predominantes, os primeiros hominídeos desenvolveram a habilidade de andar sobre duas pernas. Essa adaptação lhes deu uma vantagem, permitindo que eles percorressem o dobro da distância com a mesma quantidade de energia e tivessem uma visão mais ampla para detectar perigos nas altas gramíneas.

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Além da postura bípede, várias outras adaptações físicas e fisiológicas nos tornaram corredores de longa distância eficientes. Nossos dedos dos pés curtos evitam fraturas durante a corrida, e nosso sistema musculoesquelético, com articulações e músculos maiores na parte inferior do corpo, ajuda a absorver as forças geradas durante a corrida. Tendões como o de Aquiles, a banda iliotibial e o arco do pé funcionam como molas, armazenando energia elástica e devolvendo parte dela a cada passada.

Além disso, nosso corpo é adaptado para dissipar calor de maneira eficaz, com nossa postura ereta criando uma grande superfície de resfriamento. A capacidade de respirar tanto pelo nariz quanto pela boca nos ajuda a regular a temperatura do corpo, enquanto a capacidade de suar nos diferencia de muitas outras espécies. Sem uma pelagem espessa, nosso suor evapora facilmente, proporcionando resfriamento durante corridas prolongadas.

Essas adaptações permitiram aos seres humanos a prática da chamada “caça persistente” muito antes do desenvolvimento de armas avançadas. Em vez de perseguir presas em alta velocidade, os caçadores seguiam seus alvos por quilômetros até que os animais, exaustos, se rendessem. Essa estratégia de caça exigia resistência e paciência, qualidades nas quais os seres humanos se destacam.

Além da caça, essa habilidade de corrida de longa distância desempenhou um papel crucial na evolução humana. Fornecendo acesso a mais energia, permitiu o crescimento de nossos cérebros ao longo do tempo, possibilitando o desenvolvimento de habilidades cognitivas avançadas.

Embora a tecnologia moderna tenha reduzido a necessidade de correr longas distâncias para sobrevivência, a corrida continua a ser uma atividade fundamental para a saúde humana. Estudos mostram que correr pode reduzir o colesterol e aumentar a densidade óssea, tornando-a uma forma simples e eficaz de exercício cardiovascular.

Em resumo, a notável habilidade de corrida de longa distância dos seres humanos é resultado de uma combinação única de adaptações evolutivas. Mesmo em um mundo onde a sobrevivência não depende mais da caça persistente, essa capacidade continua a ser uma parte essencial de nossa identidade e uma ferramenta valiosa para manter nossa saúde e bem-estar.

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