Por que não sentimos o nosso próprio cheiro como sentimos o das outras pessoas?

A ciência por trás da fadiga olfativa e a importância do olfato em nossa vida

Postado em: 07-09-2023 às 10h18
Por: Ana Beatriz Santiago
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Você já se perguntou por que é tão difícil para nós, humanos, percebermos nosso próprio cheiro? Ou como nosso olfato, muitas vezes subestimado em comparação com o de outras espécies, desempenha papéis vitais em nossa saúde e interações sociais? Vamos explorar essas questões fascinantes enquanto mergulhamos no intrigante mundo do olfato humano.

Em um cenário cotidiano, após um treino na academia ou durante um encontro amoroso, é comum questionarmos se nosso odor corporal é perceptível para os outros. Embora possamos detectar os odores de terceiros, a percepção de nosso próprio cheiro parece mais desafiadora. Mas por quê?

O olfato humano é surpreendentemente complexo. Possuímos cerca de 400 receptores de cheiro diferentes, capazes de detectar uma ampla variedade de odores, com a capacidade de distinguir mais de 1 trilhão de aromas. Este sentido tem raízes profundas na evolução humana, remontando aos nossos dias como caçadores-coletores, onde a capacidade de detectar odores desempenhava um papel crítico na sobrevivência.

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Um fenômeno intrigante conhecido como “fadiga do odor” pode explicar nossa dificuldade em perceber nosso próprio cheiro. Com o tempo, nos tornamos insensíveis ao nosso odor particular, bem como a outros odores rotineiramente encontrados, como perfumes ou o ambiente de nossa casa. A causa exata desse fenômeno não está completamente clara, mas pode envolver alterações nos receptores de cheiro ou na forma como o cérebro responde aos odores. No entanto, é possível redefinir essa sensibilidade cheirando áreas com menos glândulas sudoríparas, como o cotovelo ou o antebraço.

Rachel Herz, neurocientista da Universidade Brown, destaca em uma entrevista para a Live Science que nossa percepção do olfato aumenta em situações específicas. Comemos algo com alho? Passamos por um dia estressante? É provável que sintamos isso em nosso suor e saliva. Além disso, estudos estabeleceram conexões entre odores corporais e diversas doenças. Um hálito que lembra fruta podre pode indicar diabetes não tratada, enquanto o tifo pode fazer nosso suor cheirar a pão fresco. Até mesmo a doença de Parkinson pode afetar nosso odor, com relatos de um “odor amadeirado” associado a ela.

O nosso odor corporal também desempenha um papel crucial em nossas relações sociais. Pesquisas revelaram que as preferências individuais por odores estão relacionadas a um grupo de genes chamado complexo principal de histocompatibilidade (MHC). Isso sugere que nossos corpos emitem sinais de nossos MHCs, e as pessoas tendem a preferir o cheiro de parceiros com MHCs diferentes dos seus. Embora a razão exata permaneça em debate, essa preferência pode estar ligada à diversidade genética e à possibilidade de maior imunidade para os descendentes.

Enquanto os humanos são primordialmente criaturas visuais, é importante não subestimar o papel fundamental do olfato em nossas vidas. O olfato está intrinsecamente conectado à nossa saúde, relacionamentos e até mesmo à forma como percebemos o mundo ao nosso redor. A pandemia de COVID-19 trouxe um renovado interesse pelo olfato, uma vez que muitas pessoas perderam essa capacidade após a infecção, um fenômeno que ainda não está completamente compreendido.

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