Vendedores ambulantes se arriscam para conseguir renda

Entre os carros e sob o sol quente, os vendedores informais tentam garantir o sustento de suas famílias. Crise motiva o aumento desse trabalho nos cruzamentos

Postado em: 06-08-2016 às 06h00
Por: Redação
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Entre os carros e sob o sol quente, os vendedores informais tentam garantir o sustento de suas famílias. Crise motiva o aumento desse trabalho nos cruzamentos

Para muitas pessoas o sinal vermelho é um dos momentos mais chatos do trânsito, pode representar um verdadeiro teste de paciência; para outras, é o momento certo para trabalhar e garantir o pão de cada dia, é o momento para aqueles que, realmente, se viram “nos 30”. E não é muito difícil encontrá-los por aí… Nas principais avenidas e cruzamentos de Goiânia, os vendedores ambulantes cumprem a sua jornada de trabalho debaixo do sol quente, caminhando entre os carros e vendendo uma gama de produtos aos motoristas apressados. 
Vender água, frutas, carregadores e panos de chão nos sinais têm sido o principal sustento de muitos goianienses e demais imigrantes brasileiros que vieram para a capital e região metropolitana. Paulo Antônio Henrique, 30, é um desses trabalhadores informais. A cada sinal vermelho, ele se dirige aos motoristas com seus carregadores em mãos; sua esposa o acompanha com sacolas cheias de bananas, goiabas e mexericas, a escolha é do cliente. A jornada é a mesma há três anos: Paulo acorda cedo, inicia as vendas às 10hrs e só para ao entardecer, quando o relógio marca as 18hrs. 
Morador de Goiânia, Paulo já trabalhou em empresa de telefonia e com Lan House, empregos que não renderam o “salário” que ele ganha como vendedor ambulante: uma média de R$ 100 por dia. No entanto, trabalhar nos semáforos não é uma tarefa fácil e nem legal perante a lei. Os vendedores estão sob fiscalização e suas mercadorias sempre são apreendidas. “Eu passei por algo assim há três meses, o ‘rapa’ (fiscalização) chegou aqui e levou toda a minha mercadoria”, relata Paulo. 

Preconceito

Assim como a esposa de Paulo não quis ser entrevistada e, muito menos, identificada, alguns vendedores ambulantes evitam maiores revelações, seja pelo medo de serem coibidos pela fiscalização ou para evitar preconceitos já sofridos nas ruas e até mesmo fora delas, dentro de casa. Na mesma região, três amigos de poucas palavras vendem diferentes tipos de frutas, “a gente tem morango, pinha, caju, mexerica, depende de cada época que dá a fruta”, diz Lucas Oliveira, 17. 
Ele, Murilo Gonçalves, também de 17 anos, e Jeferson Antunes, 19, são da cidade de Aparecida de Goiânia. Durante a semana, o trio sai às 06hrs da manhã para vender seus produtos nos principais cruzamentos da capital, retornam para casa já anoitecendo. Há seis meses eles repetem essa rotina a fim de conseguir algum sustento para suas famílias. Por mês, cada um chega a ganhar uma quantia de até R$ 700.
Situações em que motoristas olham torto e expressam alguma ação preconceituosa são constantes, de acordo com Jeferson. Com mais tempo de experiência lidando com o comércio nas ruas, Paulo relata alguns casos já sofridos por ele: “muitas pessoas fecham o vidro imediatamente, como se a gente fosse pedir dinheiro. Já teve situações em que a pessoa tirou a bolsa do banco do carona achando que iria ser assaltada, e são pessoas que vê a gente todos os dias aqui.” 

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Fiscalização ainda é deficitária 

O Diretor de fiscalização da Secretaria de Planejamento e Habitação de Goiânia, Paulo Rezende, destaca a crise econômica como um fator significativo no aumento de vendedores ambulantes nos cruzamentos e avenidas. Segundo ele, houve uma “piora” na situação, o que prejudica a fiscalização. “O trabalho é feito todos os dias, mas a gente não consegue colocar fiscal em todas as ruas”, diz. 
A atuação dos fiscais consiste em aplicar uma notificação verbal ao vendedor ambulante na primeira vez em que é abordado; caso ele volte a ser fiscalizado novamente, a mercadoria é apreendida. 
De acordo com o Diretor, a licença para o trabalho só é liberada caso o vendedor atenda ao que a lei entende por ambulante: “aquele que vende suas mercadorias de porta em porta, utilizando os logradouros públicos para isso, mas sem estacionar” diz. Caso o comércio seja feito em calçadas e ilhas, há a impossibilidade de licença e a atividade torna-se ilegal. 
Pela incapacidade de estar em todas as avenidas, um movimento também realizado nos semáforos é tolerado pelos fiscais, trata-se dos artistas de rua. Para o Diretor Paulo Rezende, além de ser uma atividade cultural, o trabalho desses artistas ajudam a “povoar” os sinais, impedindo que novos ambulantes os ocupem. No entanto, a tolerância só é praticada caso o artista não utilize árvores e/ou postes para realizar os seus números. 
 

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