Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Salões investem na importância do cabelo black

Tranças, black power e outras tendências negras estão em alta para profissionais da área | Foto: Reprodução

Postado em: 18-05-2021 às 09h02
Por: Pedro Jordan
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Tranças, black power e outras tendências negras estão em alta para profissionais da área | Foto: Reprodução

Com a luta dos povos negros sobre a auto afirmação de suas culturas e raízes, o mercado da beleza e estética tem se adaptado a isto e entrado em uma nova realidade. Antes no Brasil e também em outros países era comum que uma pessoa de cabelo crespo ou enrolado buscasse alisamentos ou cortes curtos para tentar se adequar a moda, mas o momento atual é de auto afirmação, cada dia mais os penteados de empoderamento preto tem sido adotados.

Com a chegada da pandemia do Covid-19, muita gente aproveitou para realizar um processo chamado de “Transição Capilar”, onde quem antes utilizava de químicas e outros processos para alisar as madeixas passa a assumir a sua forma natural.

Outra tendência que tem sido adotada é das tranças, popularizada atualmente pelo piloto de Fórmula 1 e hepta campeão, Lewis Hamilton. Os dreadlocks “que são comumente associados ao finado cantor de reggae Bob Marley” também tem entrado no gosto de quem procura um visual novo, e tem sido utilizado até por quem naturalmente tem cabelos mais lisos.

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A adoção destes penteados de origem africana tem sido uma maneira de pessoas negras reafirmarem seu espaço na sociedade, e alguns profissionais da beleza tem aproveitado esse momento para poder crescer e faturar mais.

A técnica capilar Jordana Santos trabalha há dez anos na área, e de acordo com ela, nos dois últimos anos tem passado a assumir a especialidade na área de penteados afro. “Eu trabalhava somente com colorimetria, tratamento químico, cortes e escovas, e voltar para o público o natural tem pouco mais de dois anos, antes não existia essa procura”, afirma.

Ela reforça que o povo negro passou a aceitar e antes também não havia no mercado coisas voltadas a ela, não tinha referências a este povo, que é a maioria da população brasileira na grande mídia. “Não tínhamos referencias pretas, na minha infância e adolescência não me identificava, as paquitas eram brancas, dançarinas também”, comenta.

Mudança de visão

A percepção de mercado dela veio na questão da representatividade, pois a maioria da população brasileira é de origem negra, e o preconceito era enraizado, mas oferecer um serviço voltado a essas pessoas incentiva a elas assumirem essa identidade.

Jordana cita que o negro não era aceito no mercado, que havia e ainda há preconceito enraizado nas pessoas. “Tem gente que acha que é algo inferior, que aparenta ser descuidado ou sujo por causa do volume, mão só nos penteados como no cabelo natural, tenho clientes que comentam que já citaram situações em que foi pedido a elas para cortarem ou alisarem o cabelo por achar antiético o penteado negro”, desabafa.

A empresária salienta que a clientela tem aumentado, principalmente a busca por retirar a parte com química, mas tem gente que encara isto apenas como moda, mas isso traz uma situação peculiar, da quebra do preconceito de parte da população com esse segmento de penteados.

Avaliação do nicho de mercado

Outra afirmação de Jordana é que o mercado da estética nunca irá deixar de crescer, pois as mulheres são vaidosas e querem cuidar da aparência, então mesmo em meio à crise tem essa circunstância. “Tivemos um aumento de 80% nesse momento de pandemia de clientes que procuraram a transição, pois é um momento doloroso para as mulheres, e por elas terem a circunstância do isolamento e home office, elas aproveitaram para passar por isto”, reforça.

Segundo um levantamento do próprio trabalho da cabelereira, quando ela olha para os anos de 2017 até 2019 nos registros, não há procuras por serviços que exaltam o cabelo afro, a procura por transição, tranças e retirada de alisamentos e outras químicas vieram entre 2020 e 2021. “Antes eram só 20% de cabelos naturais, já agora o cenário mudou, eles prevalecem”, ressalta.

Outro fato que ela comenta é que o público masculino tem aumentado de maneira significativa, pois o preconceito com a questão da aparência tem diminuído entre eles. “Ainda há um certo receito com homens de cabelo grande, ainda mais quando é cacheado ou crespo”, cita.

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