Investimento em infraestrutura impulsiona retomada econômica

Um caminho para a retomada, com redução de custos e maior eficiência

Postado em: 03-07-2021 às 08h21
Por: Lauro Veiga Filho
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Um caminho para a retomada, com redução de custos e maior eficiência

Um programa robusto e corretamente planejado de promoção de investimentos públicos e privados em infraestrutura tenderia a “gerar ganhos de produtividade e economia de custos para todos os setores econômicos, a curto, médio e longo prazo e, simultaneamente, auxiliar na recuperação da economia e do emprego”, sustenta trabalho recentemente desenvolvido pelos economistas Daniel Keller, Igor Rocha, Renato Rosa e Marcelo Marques, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Os efeitos positivos desses investimentos para o conjunto da economia seriam potencialmente mais vigorosos no caso de economias que enfrentam níveis elevados de ociosidade, como a brasileira, o que se comprova pelo desemprego recorde, ao redor de 14,7% no trimestre finalizado em abril deste ano, quando o total de desempregados se aproximou de 14,8 milhões, conforme anotado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Em períodos de restrição de demanda agregada (variável que inclui o consumo das famílias, das empresas e governos, mais investimentos), quando os gastos privados se contraem, casos do consumo das famílias e das inversões das empresas, os investimentos públicos ou coordenados pelo Estado são importantes instrumentos de política”, defende o estudo. E acrescenta: “Isso ocorre porque, em um ambiente de elevado desemprego, aumento da capacidade ociosa e incerteza, o início de uma recuperação econômica pode não se dar através dos gastos privados.”

Na verdade, sempre de acordo com trabalho, investimentos públicos e privados são igualmente importantes, mas dependem de coordenação e organização pelo setor público de forma a potencializar seus impactos. Citando autores diversos e a literatura disponível nesta área, Keller, Rocha, Rosa e Marques argumentam que, ao reduzir custos e “gerar transbordamentos tecnológicos, o investimento em infraestrutura eleva a rentabilidade das demais inversões, e até mesmo viabiliza outros investimentos”. Na mesma linha, os autores sustentam que “o Estado tem papel central no desenvolvimento econômico em economias de mercado, pois as inversões públicas em infraestrutura geram estímulo no setor privado, o que leva a um aumento amplo dos investimentos”.

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Déficit estrutural

Para enfrentar as distorções geradas pelas dimensões do déficit no investimento, frente às necessidades não atendidas no setor de infraestrutura, acrescentam ainda, será necessária “uma atuação equilibrada e conjunta do setor público e do setor privado na construção de parâmetros regulatórios adequados, na criação de modelos para financiamentos facilitados, nos incentivos às PPPs e no desenvolvimento de projetos e fomento de inversões setoriais mais precisas”. O trabalho menciona estudo específico do Fundo Monetário Internacional (FMI), que estima ganho de 2,7% para o Produto Interno Bruto (PIB) a cada aumento de 1,0% do PIB no investimento público, com elevação ainda na faixa de 10% para investimentos privados e avanço de 1,2% para o emprego num horizonte de dois anos, no caso de investimentos de alta qualidade. “De acordo com o Fundo, dado o cenário ainda de forte incerteza, é preciso que o investimento público tenha uma ação contracíclica estimulando o investimento privado”, reforçam os autores.

Balanço

  • O mesmo trabalho do FMI, prosseguem, estima que cada milhão de dólares investidos pelo setor público em infraestrutura tradicional levaria à criação de dois a oito empregos. As inversões em pesquisa e desenvolvimento, energia verde e prédios eficientes teriam potencial para abrir 5 a 14 empregos novos a cada milhão de dólares, sem considerar impactos indiretos sobre o mercado de trabalho produzidos pelos efeitos desse investimento sobre o conjunto da economia.
  • Nos últimos anos, notadamente a partir de 2015, o País tem seguido trajetória inversa à defendida pelos economistas do Iedi. Com base em dados da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), o estudo menciona que os investimentos em transportes, energia elétrica, saneamento e telecomunicações despencaram 31,8% entre 2014 e 2020, saindo de R$ 180,3 bilhões para R$ 123,0 bilhões, num recuo de 0,7% em relação a 2019. “Quando é considerada a estimativa para o ano de 2021, os dados também são preocupantes, pois os valores devem ficar próximos aos de 2020”, complementa o Iedi.
  • Na estimativa da mesma Abdib, o Brasil teria que investir todos os anos, ao longo de uma década, algo em torno de R$ 284,4 bilhões para fazer frente aos gargalos da infraestrutura, o que significaria uma inversão anual de 4,31% do PIB, praticamente 2,54 vezes mais o tamanho do investimento realizado no ano passado, que ficou limitado a 1,7%. Numa comparação internacional, com dados do World Economic Forum, China e Índia, “economias de crescimento acelerado no século 21, investem 4% e 13% do PIB em infraestrutura, respectivamente”.
  • Apenas a correção dos déficits na infraestrutura de transporte e para prover o setor econômico de uma logística compatível seriam necessários, conforme a Abdib, investimentos de 2,26% do PIB anualmente, perto de R$ 149,0 bilhões. Isso significa multiplicar por seis os investimentos nessa área, visto que o País tem investido em média 0,34% do PIB ou R$ 25,0 bilhões por ano, em grandes números.
  • Projetos federais e estaduais já licitados ou anunciados para licitação nos próximos cinco anos no setor de transporte e logística, detalha o trabalho do Iedi, deverão trazer investimentos de R$ 7,4 bilhões neste ano, atingindo seu pico em 2024, quando alcançariam R$ 22,4 bilhões. Entre 2021 e 2025, estima-se uma inversão total de R$ 82,0 bilhões, o que cobriria 55,0% da necessidade estimada para apenas um ano.
  • No setor privado, o investimento em infraestrutura igualmente encolheu, baixando de R$ 114,2 bilhões em 2014 para R$ 90,7 bilhões no ano passado, numa queda de 20,6%. O investimento desabou 56,5% no período, saindo de R$ 74,3 bilhões para R$ 32,3 bilhões. A participação do setor público no investimento em infraestrutura no Brasil, sustentam ainda os economistas do Iedi, tem ficado abaixo de 30% nos últimos três anos, chegando a 26,3% no ano passado, o que se compara com uma fatia de 70% ocupada pelo investimento público nas economias emergentes.
  • Num dos resultados do baixo investimento, o estoque de infraestrutura no Brasil (quer dizer, a soma de todos os ativos, obras e instalações concluídas ao longo dos anos) corresponde a 36,0% do PIB, muito abaixo da Índia e da China, que ostentam participação de 58,0% e de 76,0%, pela ordem. Nos Estados Unidos, onde o governo acaba de anunciar um programa de quase US$ 2,0 trilhões para financiar a retomada econômica e sua reconversão em direção a uma economia mais verde, o estoque de infraestrutura representa 64,0% do PIB.

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