Fora da internet, vendedores de rua ainda enfrentam peso da pandemia

Ao O Hoje, funcionários de lojas do Centro de Goiânia afirmam que convencer pessoas a comprar em lojas físicas tem sido um desafio cada vez maior

Postado em: 25-09-2021 às 13h00
Por: Carlos Nathan Sampaio
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Ao O Hoje, funcionários de lojas do Centro de Goiânia afirmam que convencer pessoas a comprar em lojas físicas tem sido um desafio cada vez maior | Foto: Nathan Sampaio

Prejudicado pela pandemia da Covid-19, o estilo de venda mais tradicional em Goiânia, aquele feito pelos camelôs, pelas abordagens nas ruas ou o feito dentro das centenas de lojas espalhadas pelo centro da capital já voltou a funcionar em sua “normalidade”. Isso foi notado pela reportagem que, ao frequentar os locais, notou que tudo funciona como se nunca houvesse havido pandemia até mesmo pelo fato de que poucas pessoas têm usado sequer as máscaras de proteção corretamente. O problema, porém, está longe de ser só esse, o que por si só, já é grave.  

Vendedores entrevistados afirmaram que tem sido cada vez mais difícil bater metas, ao mesmo tempo em que fica cada vez mais difícil pagar as contas. Muitos trabalhando na informalidade afirmam que as metas estão cada vez maiores, mas, agora, sem os benefícios que antes eram garantidos pela carteira de trabalho via Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), como 13º, férias remuneradas e, claro, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). É o que contou uma estudante e vendedora de 28 anos que não quis se identificar e que trabalha em uma ótica do centro e cursa administração.

“Estava difícil arranjar emprego, então aceitei este onde preciso procurar por clientes nas ruas do centro de Goiânia e ganhar comissão caso eu consiga fazer as pessoas comprarem na loja onde trabalho. Meu trabalho é contrato, sou MEI [Microempreendedora Individual], recebo uma valor fixo, mais as comissões e, apesar de não ter FGTS e 13º, ao menos posso negociar as férias e fazer meu horário”, afirmou a vendedora.

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Ela confirmou, ainda, que não concorda em como as coisas estão acontecendo, pois os donos de lojas, empresários não cumprem acordos básicos. “Eu por exemplo, na teoria, faço o meu horário, mas se por acaso eu trabalhar menos de 8 horas por dia, já sou repreendida pelo meu chefe. Além disso, o fixo oferecido é menos que o salário mínimo e como não é CLT o que eu esperava era um salário mínimo, mas poucos tem pago ele, pelo que sei de outras pessoas que conheço na minha situação”, concluiu.

Há também um outro lado, o de pessoas como o camelô Wellington de Oliveira que vende especiarias e “produtos naturais” também no centro de Goiânia. Favorecido pelo retorno do tráfego intenso de pessoas após a vacinação contra Covid-19, ele diz que as pessoas estão com menos dinheiro ou com mais receio de gastar com o que quer que seja. “Investir ou reinventar o meu negócio é difícil pra mim, sempre funcionou assim, boca a boca, e hoje não tenho condições financeiras pra investir nesses negócios de Instagram, Facebook, Internet, que é o que muitos fazem. Não sei por onde começar e nem acredito que vai funcionar no meu caso específico”, relata ele, completando que chegou a abrir um CNPJ, mas “não sabe como mexer naquilo” e que a saída é continuar vendendo seus produtos na rua como faz há mais de 20 anos.

Relatos como o da vendedora e de Wellington mostram como pesquisas que mostram o crescimento na abertura de empresas (que na verdade são MEIs), não soam 100% como notícia boa. No primeiro semestre de 2021, por exemplo, a abertura de CNPJs no Brasil foi a maior se comparada com os mesmos períodos de 2015 para até este ano. Levantamento elaborado pelo Sebrae, com base em dados da Receita Federal, revela que foram criadas, apenas nos seis primeiros meses desse ano, 2,1 milhões de pequenos negócios.

O número é 35% superior ao registrado mesmo período do ano passado e praticamente o dobro empresas criadas em 2015.

O levantamento também constatou que, entre o primeiro semestre de 2021 e o mesmo período do ano passado, houve crescimento tanto no número de microempreendedores individuais (MEI) quanto no número de micro e pequenas empresas. E, ainda de acordo com o estudo, o maior incremento foi entre as microempresas. Apesar delas não serem a maioria, o número passou de 267,1 mil para 390,4 mil, um incremento de 46%. Já entre os microempreendedores individuais, que correspondem a 68% dos 18,4 milhões de pequenos negócios brasileiros, o aumento foi de aproximadamente 34%, passando de 1,2 milhão para 1,6 milhão de negócios formalizados no período referido. Entre as empresas de pequeno porte houve um aumento de cerca de 46%. No primeiro semestre de 2020 haviam sido abertas 267 mil e no primeiro semestre desse ano foram 390 mil.

Apesar disso, não houve dados revelados, informados ou divulgados sobre se estas milhares de pessoas que abriram um CNPJ estão lucrando, gerando receita, se estão bem alimentadas, se tem dívidas ou não.

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