NFTs, certificados digitais de propriedade, ganham espaço no mercado brasileiro

“Quantum”, obra em gif do artista Kevin McCoy, foi vendida em junho deste ano por R$ 7,7 milhões. Reprodução/Kevin McCoy

Postado em: 13-11-2021 às 16h00
Por: Alice Orth
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“Quantum”, obra em gif do artista Kevin McCoy, foi vendida em junho deste ano por R$ 7,7 milhões. Reprodução/Kevin McCoy | Foto: Reprodução

Depois das criptomoedas, a nova moda da economia digital é o NFT, que apesar da fama recém-adquirida, continua sendo um mistério para muitos. A sigla é de Non-Fungible Token (ou token infungível). Os tokens ficaram famosos em sua relação com as artes, mas em um mundo virtual, tudo pode ser vendido: publicações em redes sociais, fotos, vídeos, gifs e até memes.

Thiago Valadares, um dos criadores da NF Market Agency, primeira agência especializada em NFTs no Brasil, explica o funcionamento: “É um cartório digital onde você pode subir e guardar qualquer categoria de documento com a segurança de um blockchain. Desde uma planilha de trabalho até o diploma da faculdade”.  O objeto é ligado a uma chave digital, semelhante a um token bancário, que é usado para identificação e atestar a sua autenticidade. Isso não impede que ele seja reproduzido, mas comprova que tem um dono, que pode trocá-lo ou vendê-lo.

Segundo relatório publicado pelo site Nonfungible.com, mais de US$ 2 bilhões foram gastos em NFTs nos primeiros três meses de 2021, o que significa um aumento de 2.100% em relação ao 4º trimestre de 2020.  Alguns ativos tiveram valorizações de até 1.207.577% dentro de sete anos. O número de carteiras ativas de NFTs, ou seja, que interagiram com algum token desse tipo, subiu 26% em relação ao quarto trimestre e 159% ante os primeiros três meses de 2020, chegando a 142.863 no fim de março deste ano. 

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O primeiro NFT a ser reconhecido foi criado pelo artista Kevin McCoy e pelo empreendedor Anil Dash, em 2014, durante um evento no Museu de Arte Contemporânea em Nova York. A obra de arte “Quantum” foi o primeiro objeto a ser certificado, e foi leiloado por US$ 140 mil, cerca de R$ 770 mil, somente um dia após o início das vendas online. Em junho deste ano, ele foi revendido por U$1.4 milhão – ou R$ 7,7 milhões.

No Brasil, o mercado também mostra crescimento. No segundo trimestre de 2021, o setor movimentou US$ 754,3 milhões, um valor 35,5 vezes maior que o do mesmo período de 2020. O primeiro trimestre deste ano teve uma movimentação de US$ 508,9 milhões, 48,2% mais que os mesmos meses de 2020.

Segundo Valadares, atualmente o NFT já está fazendo parte de campanhas de marketing e de marcas como uma importante ferramenta de marketing para impulsionar a publicidade, para promover reposicionamentos ou para gerar mais receita. “Hoje os NFTs já são muito utilizados nos Estados Unidos e na Europa no marketing esportivo e no comércio de obras de arte, por exemplo. Os NFTs, como produtos não fungíveis, podem ser amplamente usados em vendas de ingressos para eventos, merchandising, campanhas de marketing e de marcas e até em registros permanentes de documentação das empresas, garantindo sua autenticidade”.

Aplicações

Times como Barcelona, Paris Saint German e Manchester United já lançaram produtos para o segmento. Corinthians e o Atlético Mineiro são os dois clubes que mais têm aproveitado a onda das NFTs no país. O paulista lançou o $SCCP no dia do seu aniversário de 111 anos, no último dia 1º de setembro, e vendeu 850 mil unidades da moeda em apenas duas horas, gerando algo em torno de R$ 8,5 milhões de reais. Os compradores puderam participar da enquete que escolheu o atacante Ronaldo Fenômeno como o próximo atleta a entrar no seu hall da fama. No dia seguinte, cada moeda foi vendida por R$ 10,50. Thiago acredita que essa será, também, uma forma do torcedor ajudar o clube. “É algo geracional, hoje para os jovens comprar arquivos digitais é normal. Meu filho tem 14 anos e diversos itens, dentro de jogos”, comentou ele.

Outra possibilidade aberta para o modelo pode ajudar a Amazônia. Quem comprar uma das obras disponíveis, que retratam árvores, animais e lendas da região, terá uma árvore real plantada na floresta amazônica, e cada uma delas poderá ser rastreada via Google Maps. “Na Floresta Virtual, cada árvore plantada fisicamente terá suas coordenadas de localização e será recriada virtualmente em um ambiente digital, onde será possível fazer um tour virtual guiado pela Curupira, sendo possível identificar quais espécies de árvores foram plantadas com suas respectivas fichas técnicas com a importância biológica e subprodutos extraídos de cada uma delas”, detalha Thiago. Mesmo com o mercado receptivo para o uso dos tokens, algumas empresas ainda sentem desconfiança com o sistema. “Ainda há muita dúvida na questão operacional, mas eu acredito que daqui a alguns anos todo plano de marketing vai ter que, obrigatoriamente, contemplar o NFT assim como hoje contempla as redes sociais”, afirma Valadares.

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