Economia brasileira perde R$ 1 bilhão por causa da violência contra a mulher

Dado foi apresentado hoje (24) em coletiva na reitoria da UFC, como parte do segundo relatório da Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar

Postado em: 24-08-2017 às 15h40
Por: Victor Pimenta
Imagem Ilustrando a Notícia: Economia brasileira perde R$ 1 bilhão por causa da violência contra a mulher
Dado foi apresentado hoje (24) em coletiva na reitoria da UFC, como parte do segundo relatório da Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar

Falta de concentração, dificuldade de tomar decisões, erros
ou acidentes e grande ausência no trabalho são os impactos mais significativos
da violência doméstica na vida profissional de milhares de mulheres no Brasil.
Pela primeira vez, esses impactos foram contabilizados: a economia do Brasil
perde cerca de R$ 1 bilhão devido às consequências da agressão sofrida pelas
trabalhadoras dentro de suas casas.

O dado foi apresentado hoje (24) em coletiva na reitoria da
Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza, como parte do segundo
relatório da Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e
Familiar, que acompanhou a vida de 10 mil mulheres nas nove capitais
nordestinas desde 2016.

Continua após a publicidade

As 250 pesquisadoras identificaram e quantificaram o peso dos
diferentes tipos de violência na vida laboral feminina. O estudo foi feito em
parceria com o Instituto Maria da Penha e com a participação de pesquisadores
dos Estados Unidos e da Europa. Segundo o estudo, 48% das entrevistadas de
Teresina (PI) disseram ter a saúde mental afetada por conta das agressões
sofridas em casa. Em seguida, vem Aracaju (SE), com 42% e Natal (RN), com 40%.

A própria noção de felicidade fica impactada com a
convivência com uma pessoa violenta dentro de casa. Somente metade das
entrevistadas que sofreram violência doméstica disseram se sentir felizes,
contra 74% das que não passam por situações de agressão.

“Eu tinha que ter uma programação em casa que me afastasse
dele o máximo possível. Quando ele estava para chegar em casa, eu pegava as
crianças para levar para a escola, fazia um lanche antes de ir para o trabalho,
porque não tinha almoçado em casa. No trabalho, em alguns momentos, eu estendia
o horário para poder compensar algum distanciamento meu”, relata Maria da Penha
Fernandes, farmacêutica que deu nome à lei que pune a violência doméstica
praticada contra mulheres, sobre o dia a dia no trabalho e os maus-tratos
praticados pelo marido.

A pesquisa revelou que, em média, as mulheres que são
agredidas dentro de casa faltam ao emprego 18 dias por ano. Além disso, elas
também passam menos tempo empregadas em um local de trabalho: são, em média, 58
meses, contra os 78 meses que uma mulher que não sofre violência permanece
empregada.

Por tabela, a situação reflete no salário, que fica reduzido
em cerca de 10%. Esse impacto é maior em Fortaleza (CE), onde a trabalhadora
vítima de violência ganha o equivalente a R$ 5,98 por hora trabalhada, contra
R$ 9,11 das que não são vítimas de violência. Além disso, mulheres negras que
vivenciam violência doméstica chegam a ganhar 22% menos do que mulheres brancas
que passam pela mesma situação.

“A violência deprecia o capital humano da mulher. Grande parte
do empoderamento feminino vem da capacidade de trabalho. O homem produz a
violência contra a mulher, causa todos esses impactos, cria uma sequela na
economia e retroalimenta essa relação: ele sabota a mulher como trabalhadora e
ela perde esse empoderamento. Os setores públicos e privados não fazem
praticamente nada para reverter isso”, diz o professor José Raimundo Carvalho
Júnior, coordenador da pesquisa.

Como sugestões de mudanças para esse cenário, os
pesquisadores defendem políticas de recursos humanos para identificar e apoiar
empregadas vítimas de violência. O professor cita como exemplo experiências
norte-americanas que promovem, entre outras possibilidades, a mudança de local
de trabalho ou de horário como forma de evitar a exposição da trabalhadora ao
seu agressor.

“Essas são iniciativas de altruísmo, mas também de bons
empresários, pois eles sabem o impacto dessa violência nos seus negócios. Se a
situação de violência cessar, essa empregada voltará a ser produtiva. Essa é a
lógica econômica e não se pode ter medo disso. No Brasil, ao contrário disso,
essas empregadas são demitidas.”

Como política pública possível, uma vez que o Brasil não
dispõe de um mecanismo que compreenda a violência doméstica como risco de
trabalho, os pesquisadores defendem a aprovação do Projeto de Lei 296, em
tramitação no Congresso Nacional desde 2013, que cria o auxílio transitório em
decorrência de risco social provocado pela situação de agressão no âmbito
familiar.

Agência Brasil 

Veja Também