Empresas investem no “hormônio do sono”: medicamento promete ajudar pessoas a dormirem melhor

Especialistas, no entanto, alertam sobre o uso sem consciência ou indiscriminado

Postado em: 15-01-2022 às 13h00
Por: Carlos Nathan Sampaio
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Especialistas, no entanto, alertam sobre o uso sem consciência ou indiscriminado | Foto: Reprodução

Com a comercialização liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em outubro de 2021 no Brasil, a melatonina, substância conhecida popularmente como “hormônio do sono”, já está sendo vendida por várias empresas com a promessa de um “sono melhor”. É o que diz uma das empresas responsáveis pela venda do produto, lançado em versão de xarope.

Composto de 210 mcg de melatonina, vitamina B3 e B6, o xarope tem 240ml, o medicamento é livre de açúcares, lactose e glúten. Sua fórmula estimula a produção natural de melatonina pelo organismo e atuam como cofator na indução do sono. Como explica a empresa, a insônia é considerada um problema de saúde pública, e por isso o suplemento pode ajudar. “Embora o organismo produza este hormônio, com o passar dos anos, essa produção cai, sendo necessária uma suplementação. Com os xaropes, a linha agora tem oito apresentações diferentes disponíveis no mercado”, diz o informe.

Em uma situação mais agravada, a insônia pode levar ao esgotamento físico e psicológico, déficit de atenção, mudanças de humor, irritabilidade, fadiga, desmotivação e aumento no risco de AVC. Com a pandemia, o número de pessoas com esse transtorno aumentou. No Brasil, segundo um estudo feito pelo Instituto do Sono de São Paulo, a dificuldade para dormir já afeta quase 70% dos brasileiros. “A linha de produtos à base de melatonina vem para ajudar aqueles com dificuldade para pegar no sono ou para ter um sono contínuo e revigorante”, contou Leonardo Rezende, CEO da empresa.

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A decisão da comercialização no Brasil, porém, mesmo que alinhada com o que ocorre em vários países da Europa e da América do Norte, deixa especialistas em alerta. Na internet, muitos pediram cautela na hora de comprar e utilizar o produto. ” Não estamos falando de uma substância inócua e seu uso errado pode trazer problemas”, alertou o neurocientista Fernando Mazzilli Louzada, coordenador do Laboratório de Cronobiologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em uma matéria da BBC. “E é um conceito estranho enquadrá-la como suplemento alimentar. Não há consenso algum de quando há uma deficiência desse hormônio no organismo”, aponta a neurologista Dalva Poyares, pesquisadora do Instituto do Sono de São Paulo.

Apesar disso, ao anunciar que tinha liberado a melatonina, a Anvisa argumentou que “a substância em questão já é utilizada em diversos países como suplemento alimentar e como medicamento, com condições de uso variadas”. A agência também declarou que decidiu avaliar a segurança e a eficácia da molécula “devido ao interesse dos consumidores e do setor produtivo no acesso e na oferta de produtos contendo essa substância”.

Antes, esse produto só estava disponível em farmácias de manipulação, com exigência de receita assinada por um médico. Embora a melatonina seja enquadrada agora como um suplemento alimentar e possa ser comprada sem prescrição nas drogarias convencionais, a Anvisa impôs algumas restrições ao seu uso. A primeira é que ela só poderá ser tomada por pessoas com mais de 19 anos de idade e a dosagem é de, no máximo, 0,21 miligramas por dia.

Em outros locais, como Estados Unidos e Europa, é possível encontrar doses bem maiores, que chegam a até 5 mg. O órgão regulatório brasileiro também determinou que as embalagens devem conter a advertência de que esse produto não deve ser consumido por “gestantes, lactantes, crianças e pessoas envolvidas em atividades que requerem atenção constante”. Além disso, orienta-se que indivíduos com alguma enfermidade ou que tomam medicamentos procurem um médico antes de consumir esse suplemento por conta, reporta também a BBC em sua reportagem.

Procurada pela reportagem, a dentista Mariana de Souza, de 34 anos, afirmou que já utilizava a melatonina sob prescrição médica e manipulava seu medicamento. “Pra mim eu sinto que funcionou, seja suplemento ou não, eu dormia muito mal e, hoje, posso garantir que tenho um sono melhor. Antes meu sono era muito leve e, se acordasse, era a maior dificuldade pra dormir, agora não mais”, disse.

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