O custo da cesta básica em Goiânia representa mais de 55% do salário mínimo

Entenda como isso é possível mesmo o Brasil sendo o quinto maior exportador agrícola, e Goiás contribuindo com 85% das exportações

Postado em: 21-03-2022 às 12h25
Por: Jennifer Neves
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Entenda como isso é possível mesmo o Brasil sendo o quinto maior exportador agrícola, e Goiás contribuindo com 85% das exportações | Foto: Reprodução

No Brasil, o custo da cesta básica aumentou mais de 48% em três anos. Em fevereiro de 2019, os alimentos essenciais custavam cerca de R$ 482, enquanto que agora, custam, em média, R$ 715, em algumas capitais. Os cálculos medidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados nesta segunda-feira (21/03), apontam que esses números representam o dobro da inflação acumulada no período, que foi de 21,5%.

Os produtos que mais sofreram aumento nos preços foram os básicos e não industrializados, ou seja, as commodities, como por exemplo, carne ou café. Já em Goiânia, o custo da cesta básica representa mais de 55% do salário mínimo. Um levantamento  feito pelo Procon do município apontou que desde março de 2020, até março deste ano, o aumento médio dos preços foi de 57,22%, com os seguintes destaques: óleo de soja 146%; café em pó 144%; o quilo do tomate 117%; pacote de açúcar de cinco quilos 99,03%; e batata inglesa 80%. 

Uma pesquisa feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), mostrou que  a alta da cesta básica nos últimos três anos é a maior desde o Plano Real. Em 2019, o trabalhador remunerado pelo piso nacional, tinha o custo de 45% do salário para comprar a cesta básica. Agora, em 2022, o valor subiu para 56%. Ainda, o salário mínimo para manter uma família de quatro pessoas, com base na cesta básica mais cara, deveria ser R$ 5.997,14, valor equivalente a 4,95 vezes mais que o salário mínimo atual, que é de R$ 1.212. O estudo do Dieese em janeiro deste ano também revelou que o tempo médio de trabalho necessário para adquirir os produtos da cesta, seria mais de 112 horas. 

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Isso significa que, nos últimos três anos, o custo dos alimentos não foi acompanhado pela reposição da inflação no salário mínimo. O piso nacional passou de R$ 998, em 2019, para R$ 1.212, neste ano, um aumento de 21,4%, que é menos da metade da variação dos alimentos.

Mas o Brasil não é o quinto maior exportador agrícola?

Existe uma contradição em relação aos preços dos produtos da cesta básica, com a balança comercial do Brasil. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), só em 2021, o agronegócio do país exportou mais de US$ 55 bilhões das mesmas commodities que tanto afetam o bolso do brasileiro, colocando o país como quinto colocado no ranking de maiores exportadores agrícolas do mundo. Em 2020, as exportações dos produtos básicos corresponderam a mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB), que é também cerca da metade das exportações do Brasil, conforme dados da Secint, do Ministério da Economia.  

Além disso, em 2020, a agropecuária foi o único setor com resultados positivos em relação aos efeitos da pandemia, sendo que o PIB do setor avançou 2%, em comparação com o ano anterior. Ainda, em 2021, de acordo com a ONU, a exportação de soja arrecadou mais de US$ 37 bilhões; a de açúcares embolsou mais de US$ 8 bilhões; e a de carne bovina, mais de US$ 7,4 bilhões.

Acontece que as commodities são negociadas no mundo todo pelo mesmo preço, que é cotado em dólar. De acordo com o economista Eurípedes Júnior Lopes, a oferta dos produtos caem quando são vendidos mais internamente, do que no exterior. “A exportação de soja, por exemplo, paga bem menos impostos do que vender no Brasil. Inclusive, essa é uma luta da Fieg [Federação das Indústrias do Estado de Goiás] para aumentar o imposto da exportação ou diminuir o da venda interna”. 

Ele acrescenta ainda que o brasileiro paga pelo produto que produz, como se fosse importado.”Temos que aumentar a oferta desses produtos aqui, e isso tem de ser feito através de incentivos aos vendedores e produtores, através de uma abertura comercial com outros países produtores; redução de impostos sobre importação, para comprarmos mais barato de fora; e rever os incentivos ruins que já existem, como o caso da soja ”, explica. 

Segundo o economista e professor da Universidade Estadual de Goiás, Júlio Paschoal, o aumento dos combustíveis está intimamente ligado aos aumentos dos alimentos da cesta básica. “O aumento, principalmente do óleo diesel, encarece o frete, aumentando o preço de todos os alimentos que são transportados por caminhões. Outro aspecto é o excesso ou falta de chuvas. O excesso prejudica a colheita. A falta, prejudica a produtividade. Produzindo menos por hectare, reduz a oferta e aumenta o preço dos alimentos”, esclarece. Ele indica que escassez de água e aumento das taxas de energia elétrica também contribuem com o aumento

Também, os produtos exportados chegam aos portos pelas ferrovias e hidrovias, cujos fretes são mais baratos. Já as commodities são transportadas de navios e são isentas de encargos, como assegura a Lei Kandir. Julio Paschoal diz que o problema não está na produção, mas sim no escoamento. “Tanto é que a participação do agronegócio no PIB do Estado de Goiás representa 25% e contribui com 85% das exportações do país”. 

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