Perderam tudo: conheça a história de empresas que faliram após assumidas por herdeiros

Pesquisa mostra que apenas uma pequena parcela de empresas que são tocadas por herdeiros sobrevivem

Postado em: 26-03-2022 às 15h00
Por: Carlos Nathan Sampaio
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Pesquisa mostra que apenas uma pequena parcela de empresas que são tocadas por herdeiros sobrevivem | Foto: Reprodução

Não são poucas as histórias de herdeiros que perderam tudo após receberem os negócios familiares em suas mãos. Isso porque um dos maiores riscos enfrentados por qualquer empresa familiar é a transição de uma geração para a seguinte. Um estudo com empresas familiares feito na última década pela PwC, rede de firmas independentes e uma das maiores multinacionais de consultoria e auditoria do mundo, constatou que, em 35 países, 36% das empresas sobrevivem à passagem para a segunda geração; 19%, para a terceira geração; 7%, para a quarta geração e apenas 5%, para a quinta ou mais gerações.

Outra pesquisa, feita pela mesma rede, mostrou que, no Brasil, 75% das empresas familiares no Brasil fecham após serem sucedidas pelos herdeiros. A advogada, conselheira de administração e consultora de empresas familiares de capital fechado, Melina Lobo, disse que este é um dado preocupante, já que 9 em cada 10 empresas no país são familiares.

“Este alto índice de mortalidade do segmento mostra que apenas 7 em cada 100 empresas chegam à terceira geração, mas há também empresas que prosperaram, por estarem bem preparadas para as sucessões”, afirmou a profissional. Com base nestes dados, conheça a história de empresas que faliram após serem assumidas por herdeiros.

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1 – Maksoud Plaza

Em dezembro de 2021 o Maksoud Plaza, um dos ícones do setor hoteleiro da cidade de São Paulo, fechou as portas definitivamente, depois de 42 anos em funcionamento. O empreendimento ficava localizado no Bela Vista, no centro da capital paulista, e foi o endereço escolhido por políticos em diversas ocasiões. Em setembro do ano passado, o hotel entrou com pedido de recuperação judicial para pagar suas dívidas. O valor era de mais de R$ 81 milhões, sem considerar as dívidas trabalhistas. Na época, a empresa informou ter cortado 50% dos seus funcionários.

A história da entrega do prédio se deu após uma longa batalha judicial acerca de dívidas trabalhistas entre a holding, que hoje administra o legado, e seus credores. No ano passado, o grupo Maksoud de Hotéis teve deferida a sua Recuperação Judicial em uma truncada forma de reorganizar a sociedade familiar que possui muitas discussões jurídicas, exatamente pela ausência de um planejamento antecedente, onde se pode definir quais as condições do patrimônio e as regras de administração de forma viabilizar a perenidade e a boa imagem da empresa no mercado.

Isso aconteceu, mas a polêmica continua, já que o estabelecimento opõe os herdeiros na Justiça. De um lado, dois filhos do fundador, Henry Maksoud, morto em 2014; do outro, o neto, que hoje ocupa a presidência da administradora do hotel. Ou seja, não há acordo, tão pouco, organização com a sucessão.

2 – Woolworth

Barbara Woolworth Hutton era uma das mulheres mais ricas do mundo, herdeira de um terço da propriedade do magnata do varejo Frank Winfield Woolworth, o fundador da bem sucedida rede de lojas de cinco e dez centavos Woolworth. Ela recebeu sua herança de US$ 50 milhões, que, quando ajustada pela inflação, seria de mais de US$ 1 bilhão hoje, uma quantia impressionante em qualquer momento da história.

Embora tenha crescido rica, ela se tornou uma adulta profundamente insegura. Refugiava-se nas compras, em presentes caros para seus entes queridos, nas bebidas e nas drogas. Seus gastos não foram sua única ruína. Muitas vezes explorada por seus sete maridos e numerosos casos amorosos, sua fortuna diminuiu, deixando-a com quase nada na época de sua morte em 1979, aos 66 anos.

3 – A&P

Hartford era neto de um dos fundadores da rede americana de supermercados A&P. Ele cresceu no meio da riqueza, sendo mimado por sua mãe e uma equipe de criados. Em 1922, após a morte de seu pai, herdou uma fortuna de US$ 90 milhões, mas viria a perder cerca de US$ 80 milhões perseguindo seus sonhos como empresário e patrono das artes.

Ele investiu sua herança em vários negócios falidos e projetos insustentáveis, incluindo o Museu Huntington Hartford, também conhecido como Galeria de Arte Moderna de Manhattan. O prédio foi inaugurado em 1961 e imediatamente considerado uma loucura. Longe de se tornar o museu autossustentável como previsto, custou a Hartford US$ 7,4 milhões. E sua remodelação da Ilha Hog, nas Bahamas, que ele rebatizou de Ilha Paraíso que resultou em um prejuízo superior a US$ 30 milhões. Em 1992, ele teve que pedir concordata e foi morar de aluguel em um prédio decadente no Brooklyn.

4 – Caso Clint Murchison Jr.

Filho de um magnata do petróleo, Clint Murchison Jr. recebeu US$ 200 milhões após a morte de seu pai no final dos anos 1960. Sua herança valeria mais de R$ 1 bilhão hoje. Murchison Jr. foi criado para experimentar as coisas melhores da vida e isso se alinhava com a forma como ele gastava sua fortuna. Ao contrário de seu pai, que era um investidor sério, Murchinson Jr. decidiu se divertir com sua herança, investindo o dinheiro em projetos apaixonantes em vez de investimentos sólidos. 

Seu primeiro grande investimento foi a fundação do time de futebol americano Dallas Cowboys em 1960. Ele não apenas colocou milhões no time de futebol, mas também investiu em uma série de outros empreendimentos, incluindo restaurantes, petróleo, imóveis e até mesmo uma estação de rádio. Muitos de seus investimentos fracassaram e o colapso do petróleo e do mercado imobiliário na década de 1980 o colocou em sérias dívidas. Aos 85, ele não teve escolha a não ser pedir falência, morreu apenas dois anos depois, após vender todos os seus ativos.

Sucessão de herdeiros

Melina Lobo é advogada e Conselheira de Administração de empresas familiares

Mesmo com empresas que deram certo com a sucessão dos herdeiros, esse alto índice de mortalidade das empresas familiares explícitas na pesquisa, significa, segundo Melina, que, em alguns casos, os fundadores estão simplesmente tão envolvidos na administração diária do negócio que não têm condições para planejar o futuro.

“Muitos empresários também relutam em transferir o controle ou mesmo a gestão para seus herdeiros, mesmo que estes já sejam bem capacitados. A mesma paixão que os levou a criar a empresa pode impedi-los de se afastar do dia a dia dela ou mesmo compartilhar a gestão da mesma. A escolha do sucessor também pode envolver aspectos muito emotivos. Se mais de um herdeiro ou parente tiver interesse em assumir o negócio, por exemplo, pode ser difícil escolher o melhor candidato sem ofender os outros membros da família”, afirmou a profissional.

É necessário um planejamento cuidadoso da sucessão, garante a conselheira. “É preciso um bom plano, pois se houver conflitos entre os membros da família, eles se refletirão na gestão e no controle do negócio. Além disso, muitos empresários acham que governança corporativa é algo aplicável apenas a empresas de grande porte, listadas em bolsas de valores. Mas, na realidade, ela traz muitos benefícios também para o desenvolvimento de uma empresa harmonizando a gestão de assuntos familiares, além de facilitar a qualidade do fluxo de informação e do planejamento”, completa Melina.

Vale lembrar que, se uma família tem uma relação saudável, os negócios tendem a ser mais prósperos. “Apoio, laços e relações sólidas ajudam a encorajar a lealdade à empresa, motivam as pessoas e facilitam as tomadas de decisões. Mas, no fim, uma consultoria especializada pode ajudar a salvar empresas, marcas, histórias inteiras, como vimos na lista”, concluiu a advogada.

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