Número de inadimplentes cresce novamente mas os motivos de endividamento são outros; confira

Segundo o economista, o principal problema é que a renda e o emprego não acompanharam o aumento dos juros.

Postado em: 12-04-2022 às 09h53
Por: Alexandre Paes
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Segundo o economista, o principal problema é que a renda e o emprego não acompanharam o aumento dos juros. | Foto: Reprodução

O nível de inadimplência no Brasil ultrapassou a marca de 65 milhões de pessoas no mês de fevereiro. O último levantamento mensal realizado pela Serasa, divulgado na semana passada, mostra que 65.169.146 de pessoas encontravam-se inadimplentes. Essa é a primeira vez desde maio de 2020, quando o mundo enfrentava o auge da primeira onda da pandemia de Covid-19, em que o país registra uma alta taxa de pessoas negativadas.

O número é superado nos últimos dois anos em apenas dois períodos: abril de 2020, que registrou 65.908.612 inadimplentes, e maio daquele ano, com 65.231.943 de devedores. O dado de fevereiro deste ano é superior ao registrado em todos os outros meses entre 2020 e 2022, inclusive ao período pré-pandemia.

Em fevereiro de 2019, por exemplo, 62.172.903 estavam em situação de inadimplência (3 milhões a menos). Segundo economistas, a inadimplência no Brasil hoje possui traços diferentes daqueles que eram observados em 2020, quando o mundo experimentou o início de uma crise provocada por um novo vírus.

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“Nós atingimos um número de pessoas semelhantes ao do início da pandemia, mas as causas são diferentes”, disse Patrícia Camillo, gerente da Serasa. Ela explicou que a escalada da inflação e dos juros a partir do surgimento da pandemia da Covid-19 fizeram com que a inadimplência atingisse, atualmente, patamares elevados.

Em 17 de junho de 2020, a Selic estava na mínima histórica de 2,25% ao ano, enquanto o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor-Amplo) no acumulado de 12 meses era 2,13%. Atualmente, a taxa básica de juros é 11,75% ao ano, enquanto a inflação dos últimos 12 meses chegou a 11,30%.

Patrícia Camillo também ressaltou que o valor total das dívidas está chegando perto do patamar pré-pandêmico. Em 2019, o valor somado chegava a R$ 230 milhões, mas isso mudou com a chegada do vírus, levando o índice a patamares menores, entre R$ 208 milhões e R$ 210 milhões.

O economista Gesner Oliveira também afirmou que as características da inadimplência atual diferem daquelas observadas pelos especialistas durante o primeiro semestre de 2020. “Naquele período houve uma queda súbita na renda da população, na perda de emprego e na retirada de trabalho”, destacou.

Segundo o economista, o principal problema é que a renda e o emprego não acompanharam o aumento dos juros. A renda estagnada, o que faz com que o brasileiro perca seu poder de compra. “É natural que haja uma demanda reprimida, mas não acho que seja uma falsa sensação de poder de compra. No setor de vestuários e calcados, por exemplo, as pessoas estão voltando a sair e fazer compras”, afirmou.

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