Brasil começa a buscar alternativas para aumentar produção e driblar dependência das importações

Trigo pode seguir caminho da soja para driblar crise da guerra

Postado em: 16-04-2022 às 13h00
Por: Augusto Diniz
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Trigo pode seguir caminho da soja para driblar crise da guerra | Foto: Reprodução

O Brasil deve atingir em 2022 uma produção de trigo na casa dos 7,9 milhões de toneladas. Mas esse número ainda não é suficiente para suprir o consumo no País, que atinge 12,7 milhões de toneladas. O que significa que há uma demanda por importar 6,5 milhões toneladas de outras nações para complementar a quantidade de trigo que precisamos.

Quando olhamos para o formato do agronegócio brasileiro especificamente no trigo, vemos a dependência de mercados como da produção russa de fertilizantes e do trigo da Rússia e da Ucrânia. Com a invasão russa ao território ucraniano, o preço no mercado internacional do trigo subiu, o que impacta as contas brasileiras para completar a fatia que falta no País.

A solução pode estar logo ao lado, de olho no que ocorreu com as colheitas de soja e milho no Brasil. O mesmo movimento de aumento do plantio em diferentes regiões do País é um dos objetivos da Embrapa, que já faz experiências de como o cereal reage, por exemplo, quando plantado em Roraima.

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O avanço da soja no Brasil é uma experiência que pode dar certo se for replicada com o trigo. Há mais de 40 anos, mais de 85% das áreas que recebiam o plantio das sementes de soja estavam nos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, no Sul do País. O recuo da concentração, com o avanço da soja inclusive no Centro-Oeste, deixou apenas 31% da concentração das sementes em terras dos três estados da Região Sul. Houve um avanço para todos os cantos do Brasil.

Concentração do plantio

A mesma concentração vivia o milho, com 42% de área plantada no Sul do País no final dos anos 1970. Com novas tecnologias, a exploração de novas terras em outras regiões e condições financeiras ajustadas no setor, o milho nos três Estados da parte mais abaixo no mapa caiu para 20%.

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal são unidades do Brasil que contam com produção de trigo há pelo menos uma década. Nos últimos anos, as terras com cultivo do cereal avançaram na Bahia, Alagoas, Piauí, Ceará, Maranhão, Tocantins e Mato Grosso.

Um processo que já estava em andamento pode ser acelerado comos impactosnegativos nomercadointernacionalapartirdoiníciodaguerranaUcrânia. O que a Embrapa chama de tropicalização do milho é um movimento avaliado como necessário. A expectativa da empresa de pesquisa agropecuária é de que em uma década o Brasil tenha condições de se tornar autossuficiente produção de trigo e depender menos de humor estrangeiro da vez.

Salto em dez anos 

A ideia da Embrapa é ver o País ter condições de saltar em dez anos de 7,9 milhões de toneladas para 14,7 milhões de toneladas produzidas de trigo. E o chamado Brasil Central entra mais uma vez na rota do avanço de mais um item do agronegócio. Apenas em áreas já consolidadas, que não precisam ser desmatadas, a conta seria de dois milhões de hectares que podem receber o plantio do milho.

Em 2022, o total da área usada para a colheita do trigo deve cegar a três milhões de hectares, pela previsão da Embrapa. Com o interesse da empresa em desenvolver soluções para que o Brasil pare de depender da importação do cereal para completar a necessidade de consumo interno, é possível acreditar no emprego da tecnologia disponível hoje no campo para aumentar o tamanho da terra plantada de trigo no País.

Embrapa destaca fatores importantes para aumento do plantio do cereal 

Dois fatores serão importantes para alavancar a produção anual de milho na próxima década, de acordo com a Embrapa: criar novas linhas de crédito para incentivar o produtor de trigo, como ocorre com o milho e a soja, além de avanços na moagem, hoje concentrada no litoral do Brasil e no Centro-Sul.

A empresa de pesquisa no campo tem papel fundamental nesse processo, porque o trigo precisa de conhecimento científico e avanço nas técnicas para entender a época certa do plantio em cada Estado, a densidade na hora de semear e o tipo de manejo adequado. Por isso, a Embrapa reconhece que, apesar de a oportunidade estar no horizonte, os desafios são grandes para cumprir a meta de avançar tanto na produção do cereal em dez anos.

O setor do trigo olha para o Cerrado com interesse, já que o plantio aqui pode atingir 280 mil hectares de área semeada. Ao menos é o potencial que a Embrapa aponta para a região. E o trigo tem crescido na demanda de consumo humano, na alta das exportações, o que aumenta o interesse do produtor, e o crescimento das áreas plantadas.

Número animadores 

Alguns números começam a animar ainda mais os agricultores. As exportações brasileiras de trigo atingiram 2,2 milhões de toneladas de janeiro a março de 2022, com crescimento de 289% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado. E as importações diminuíram 1,5 milhão de toneladas no mesmo período, uma redução de 17%.

As exportações são lideradas pelo Rio Grande do Sul, que bateu 1,97 milhão de toneladas de janeiro a março, de acordo com a Secretaria do Comércio Exterior (Secex), com 247% mais vendas de trigo para outros países do que no mesmo período de 2021.

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