Vendas de produtos orgânicos crescem 30%, aponta pesquisa

Estimativas apontam que esse tipo de cultivo ocupa 0,6% das áreas agrícolas, com predomínio da produção vegetal

Postado em: 12-12-2023 às 07h00
Por: Alexandre Paes
Imagem Ilustrando a Notícia: Vendas de produtos orgânicos crescem 30%, aponta pesquisa
Mercados goianos têm testemunhado um aumento expressivo nas vendas de produtos orgânicos | Foto: Paulo Pinto

Em meio à paisagem agrícola de Goiás, uma transformação significativa tem marcado a escolha dos consumidores nos últimos anos. O estado observa um notável aumento na demanda por produtos orgânicos, revelando uma mudança de hábitos alimentares e uma conscientização crescente sobre a importância da produção sustentável.

Os mercados locais têm testemunhado um aumento expressivo nas vendas de produtos orgânicos. Agricultores dedicados à prática sustentável têm encontrado uma receptividade calorosa, à medida que os consumidores buscam opções mais saudáveis e ambientalmente amigáveis. Feiras de produtores e estabelecimentos especializados são os epicentros dessa tendência, oferecendo uma variedade de alimentos cultivados sem o uso de pesticidas ou fertilizantes sintéticos.

Apesar do Brasil ser vasto em terras cultiváveis e ter um dos principais mercados agrícolas do mundo, incluindo o de produtos orgânicos, ainda há falhas no levantamento de dados referente ao cultivo de orgânicos no país. Essas informações foram reveladas por uma pesquisa feita por cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) publicada na revista científica “Desenvolvimento e Meio Ambiente”.

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No ano de 2020, tiveram expansão de 30%, com o movimento de R$ 5,8 bilhões. Há ainda 953 certificações de orgânicos para produtos importados, de um total de 23 países, segundo dados do Mapa. São alimentos provenientes de espécies características de outros países (como amaranto, quinoa, damasco, azeite de oliva). A pesquisa também revelou que houve aumento de 75% no cadastro de produtores de orgânicos no país em quatro anos (2017 a 2022).

De acordo com a pesquisa, 1,28% das áreas de cultivo são referentes a propriedades com agricultura orgânica e, dessas, 30% estão no Sudeste do país. Estimativas apontam que esse tipo de cultivo ocupa 0,6% das áreas agrícolas do país, com predomínio da produção vegetal em 36.689 estabelecimentos. Os outros 17.612 estabelecimentos dedicam-se à produção animal, enquanto uma parcela menor de 10.389 estabelecimentos tem produção animal e produção vegetal orgânicas. 

“A oferta ainda não está bem esclarecida. A pesquisa mostra que há tendência de aumento da demanda, mas que a produção não suprirá essa demanda. Isso não está muito bem claro e precisa ser mais bem estudado. Não está claro também os produtos que são mais demandados”, disse a pesquisadora da UFRGS, Andreia Lourenço. 

Para ela, é preciso abrir mais instâncias de participação na sociedade para construir isso junto com os consumidores e com produtores, já que esses espaços de discussão são essenciais para a elaboração de políticas públicas adequadas para os diferentes contextos existentes no Brasil.

A crescente demanda por orgânicos reflete não apenas uma preferência por alimentos mais saudáveis, mas também uma consciência ambiental em ascensão. Os consumidores estão cada vez mais interessados na origem de seus alimentos e no impacto ambiental associado à produção convencional. A busca por práticas agrícolas sustentáveis tornou-se sinônimo de escolhas alimentares conscientes.

O governo de Goiás tem desempenhado um papel fundamental no estímulo à produção orgânica. Incentivos fiscais, programas de capacitação e apoio logístico têm sido implementados para fortalecer a cadeia de produção orgânica no estado. Essas iniciativas visam não apenas atender à crescente demanda do mercado, mas também promover práticas agrícolas mais amigáveis ao meio ambiente.

Na visão de Carla Guindani, da empresa Raízes do Campo, que atua no setor de orgânicos da agricultura familiar, é necessário que haja investimentos nesse setor, principalmente para o desenvolvimento de tecnologias para produção de sementes, o que é a base de todo esse processo, porque são essas famílias que de fato fazem a produção agroecológica no Brasil hoje. Ela destacou ainda a importância do acesso a bioinsumos, maquinários adequados e da certificação de alimentos orgânicos. 

“Hoje há muito essa dúvida sobre comercializar e depois certificar porque é um processo caro e geralmente o agricultor não tem esse recurso. Poderia se criar uma metodologia e um incentivo de certificação sem a participação tão expressiva das certificadoras privadas que têm esse alto valor agregado”, disse. Segundo ela, a logística também impacta no preço dos produtos, porque não há eficiência para fazer a distribuição. Outro item é a comercialização da produção orgânica, já que o varejo precisa compreender o novo momento vivido com a crescente demanda pelo consumo desses produtos.

“O varejo precisa aumentar o espaço na gôndola para oferecer os produtos agroecológicos para o consumidor e entender que esse segmento tem um valor agregado e que o consumidor está buscando esse tipo de produto. O preço sempre é o fator limitante e a gente vai diminuir o preço quando houver aumento de consumo. E, quando há tecnologias adequadas para produção, diminui o custo da produção, e esses alimentos chegam ao supermercado e ao consumidor com preço mais acessível”, finaliza.

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