Investimento estrangeiro no País encolhe em janeiro para menor nível desde 2015

As contas externas do Brasil seguem como uma espécie de “porto seguro” num momento de incertezas em relação aos rumos da economia mundial

Postado em: 25-02-2019 às 19h00
Por: Sheyla Sousa
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As contas externas do Brasil seguem como uma espécie de “porto seguro” num momento de incertezas em relação aos rumos da economia mundial

Apesar
do leve crescimento do déficit em transações correntes em janeiro deste ano, as
contas externas do Brasil não demandam cuidados especiais e seguem como uma
espécie de “porto seguro” num momento de incertezas em relação aos rumos da
economia mundial. O investimento estrangeiro continua sendo a principal fonte
de financiamento do rombo na conta de transações correntes, as reservas
mantêm-se em níveis elevados e a balança comercial continua positiva, mesmo com
crescimento mais intenso das importações, o que tem reduzido o superávit.

No
primeiro mês do ano, no entanto, o investimento direto no País, na conceituação
adotada pelo Banco Central (BC), experimentou baixa de 29,9% na comparação com
janeiro do ano passado, encolhendo de US$ 8,363 bilhões para US$ 5,866 bilhões
– o nível mais baixo para o mês desde janeiro de 2015, quando os investimentos
haviam somado US$ 4,899 bilhões. Também foi a primeira vez desde 2015, sempre
considerando o mês de janeiro, que o valor investido aqui dentro não foi
suficiente para cobrir o déficit em transações correntes, o que não chega a ser
uma preocupação de fato, pois não há perspectiva de falta de dólares para o
País, até em função do tamanho das reservas internacionais, na faixa de US$
377,0 bilhões, equivalentes a quase um quinto do Produto Interno Bruto (PIB) e
18% maiores do que toda a dívida externa bruta.

O
tombo foi mais severo nos investimentos em participação no capital, quando
ocorre a injeção de dólares pela matriz estrangeira no aumento de capital de
sua subsidiária no País para suportar projetos de investimento ou quando alguma
multinacional decide comprar ações e mesmo o controle de empresas brasileiras
(o que nem sempre corresponde a aumento na capacidade de produção
internamente). Aqui, o investimento despencou nada menos do que 41,5%, de US$
5,416 bilhões para US$ 3,169 bilhões.

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Empréstimos em
alta

As
chamadas “operações intercompanhias” (na verdade, empréstimos concedidos pelas
multinacionais a suas subsidiárias no mercado brasileiro), que igualmente são
classificadas como investimento direto pelo BC, sofreram baixa de 8,45%, recuando
de US$ 2,947 bilhões para US$ 2,698 bilhões. Esse comportamento também teve
impacto sobre o fluxo total de investimentos, diante das dimensões assumidas
recentemente por esse tipo de operação. No ano passado, aquelas operações
responderam por 36,6% do investimento direto total, fatia elevada para 46% em
janeiro (o que não teve ser tomado como tendência para o ano, pois trata-se de
apenas um único mês).

Balanço

·  
No
conceito de investimento estrangeiro direto, estabelecido pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI), o desempenho foi ainda mais débil, já que o fundo exclui
alguns tipos de operações ao considerar as negociações intercompanhias.

·  
Nessa
conta, o investimento estrangeiro direto (IED, formato apresentado pelo BC
brasileiro até recentemente) caiu de US$ 6,873 bilhões para US$ 4,354 bilhões, numa
retração de 36,65%.

·  
O
volume do investimento em participação observou os mesmos valores já indicados,
mas as operações entre companhias de um mesmo grupo baixaram 18,7%, de US$
1,458 bilhão para US$ 1,185 bilhão (ou seja, US$ 1,513 bilhão abaixo valor
anotado pelo B na estatística sobre investimento direto no País).

·  
O
investimento direto cobriu 89,6% do déficit em transações correntes, que
atingiu US$ 6,548 bilhões em janeiro deste ano, avançando 4% frente ao primeiro
mês do ano passado (US$ 6,293 bilhões).

·  
Considerando
o primeiro mês de cada ano, a última vez em que o investimento não chegou a ser
suficiente para cobrir o rombo em transações correntes havia sido em janeiro de
2015. A distância, no entanto, havia sido bem maior. O investimento de US$
4,899 bilhões de então financiou apenas 40,8% do déficit de US$ 12,011 bilhões.

No acumulado em 12 meses, o investimento somou
US$ 85,822 bilhões e foi quase seis vezes maior do que o déficit em transações
correntes anotado entre fevereiro do ano passado e janeiro deste ano, pouco
mais de US$ 14,766 bilhões. 

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