Boas práticas e queda no desmatamento derrubam emissões de carbono no campo

Lauro Veiga

Postado em: 28-03-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Lauro Veiga

O
setor agropecuário conseguiu reduzir suas emissões de gases do efeito estufa em
quase um terço entre 2000 e 2017, segundo dados do inventário mais atual
divulgado no final do ano passado pelo Sistema de Estimativas de Emissões de
Gases de Efeito Estufa (Seeg), do Observatório do Clima. Os números do Seeg, ainda
preliminares, incluem as emissões diretas causadas pelas atividades de produção
de carnes e grãos e as geradas por mudanças no uso do solo (desmatamento),e mostram
que o total de emissões do agronegócio baixou de 2,11 bilhões de toneladas equivalentes
de dióxido de carbono (CO2) para 1,45 bilhão naquele período. O
setor ainda lidera as emissões totais, mas sua participação foi reduzida de
83,7% para 70%.

Como
a área ocupada por pastos, lavouras temporárias e permanentes cresceu 11,3%,
avançando de 218,98 milhões para 243,72 milhões de hectares desde o começo da
década passada, segundo a plataforma Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e
Uso do Solo no Brasil (MapBiomas), desenvolvida por uma rede de universidades,
organizações não governamentais, ambientalistas e pesquisadores, além da queda
na área desmatada, a hipótese mais provável sugere que os esforços
desenvolvidos pelo setor na direção de uma agropecuária de baixa carbono já
começam a surtir efeitos.

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Baixo carbono

No
balanço mais recente,apresentado em dezembro pelo governo brasileiro durante o 24ª
Conferência das Partes (COP 24), em Katowice, na Polônia, detalha o pesquisador
Celso VainerManzatto, da Embrapa Meio Ambiente, o setor conseguiu mitigar algo
entre 100,21 milhões e 154,38 milhões de toneladas de CO2
equivalente entre 2010 e 2018 no âmbito do Plano Setorial de Mitigação e
Adaptação às Mudanças Climáticas (Plano ABC). Os dados computam o sequestro de
carbono observado com a recuperação de 10,45 milhões de hectares de pastagens
degradadas, com base em dados do Seeg, mais 5,83 milhões de hectares de áreas incorporados
a sistemas de integração de lavouras, pastos e florestas, a aplicação de
técnicas de plantio direto e de fixação biológica de nitrogênio em mais 9,97 milhões
de hectares, além do plantio de 1,10 milhão de hectares de florestas e do
tratamento adicional de 4,5 bilhões de litros de desejos animais naquele
período.

Balanço

·  
Os
dados coletados pela equipe do Plano ABC, que complementam as estatísticas do
inventário brasileiro de emissões,indicam que o Brasil já conseguiu cumprir boa
parte dos compromissos assumidos durante a COP15, realizada em Copenhagen em
2009, que projetavam a mitigação de 132,9 milhões a 162,9 milhões de toneladas
de carbono até 2020 apenas na agropecuária, correspondendo a quase 32,9% das
emissões registradas apenas na atividade agropecuária pela plataforma do Seeg.

·  
“Nossos
números mostram que as agendas ambiental e produtiva não são antagônicas, são
sinérgicas, e que é possível investir em sustentabilidade e ganhar dinheiro”,
sustenta Manzatto, responsável técnico pela Plataforma ABC.

·  
Tese
recentemente defendida pelo pesquisador Francisco Chagas da Silva, da Escola de
Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP/FGV), reforçao argumento.O
trabalho mostra que pastagens degradadas, com capacidade de suporte de apenas
uma cabeça por hectare, registram custo de R$ 323 e produtividade de 2,83
arrobas por hectare/ano.

·  
Pastos
em bom estado permitem quase quintuplicar a produtividade anual, para 12,97
arrobas por hectare, o que derrubaria o custo final para R$ 131, ou seja, 59%
mais baixo. Adicionalmente, aponta Manzatto, bastaria elevar a ocupação para
dois animais por hectare para zerar o balanço de carbono da propriedade.

·  
Para
Giovana Baggio, gerente de agricultura sustentável da organização não
governamental The NatureConservancy (TNC) no Brasil, as curvas ambiental e
econômica sofreram uma “inflexão” a partir do início da década e passam a
caminhar mais próximas.

 

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