Total de pessoas em desalento aumentou quase 70% em três anos e atinge recorde

Lauro Veiga

Postado em: 03-04-2019 às 20h10
Por: Sheyla Sousa
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Lauro Veiga

Questionados pelo capitão, os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínuo (PNADC), produzidos pela equipe técnica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fornecem pistas concretas sobre por que a economia cresce de forma tão modorrenta, na mais lenta recuperação, depois de uma recessão, em toda a série estatística oficial. Divulgados na semana passada, os dados mostraram, como já explorado pela imprensa, uma recaída na taxa de desemprego, que subiu para 12,4%, atingindo 13,098 milhões de pessoas no trimestre encerrado em fevereiro deste ano (7,3% a mais do que no trimestre setembro-novembro de 2018), e o fechamento de 1,062 milhão de vagas, com o número de ocupados baixando de 93,189 milhões para 92,127 milhões.

A queda no emprego, que nas contas do IBGE inclui os mercados formal e informal, tem sido atribuída a fatores sazonais, relacionados às contratações de empregados temporários para atender a demanda relativamente maior no final do ano, especialmente no comércio. Mas 54,0% das demissões ocorreram nos segmentos de administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde e serviços sociais, onde o número de empregados caiu de 16,506 milhões para 15,932 milhões (correspondendo a 574 mil empregos a menos, numa queda de 3,5% diante do trimestre finalizado em novembro de 2018).

A indústria e a construção demitiram, em conjunto, 353,0 mil pessoas, representando um terço do total de trabalhadores que perderam o emprego no período. Assim, considerados os cortes ocorridos nos três segmentos analisados, que apresentam baixa relação com a demanda de final de ano, sua participação nos cortes chegou a 87,3%. O comércio, propriamente, respondeu por menos 7,0% do total de demissões, com afastamento de 74 mil pessoas (queda de 0,4% no total de ocupados no setor).

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Para não comemorar

Além do desemprego novamente em alta e da redução no total de trabalhadores ocupados, o número de pessoas em situação de desalento, que simplesmente desistiram de procurar emprego diante da dificuldade de contratação, alcançou o recorde em toda a série estatística da PNADC, iniciada em 2012. Esse número acumula um crescimento de 69,6% desde o trimestre encerrado em fevereiro de 2016, saltando de 2,863 milhões para 4,855 milhões de pessoas. Diante dos números, torna-se ainda mais incompreensível a reação presidencial e, portanto, mais distante a adoção de medidas que de fato possam contribuir para trazer algum alento para os mais de 13,0 milhões de desempregados, que somam a outros 14,831 milhões de trabalhadores incluídos na categoria de “subutilizados”. São trabalhadores que estão fora da força de trabalho, mas gostariam de trabalhar, e que trabalham menos horas do que gostariam (e recebem, portanto, salários inferiores ao que seria suficiente para assegurar uma sobrevivência mais digna).

Balanço

· As pessoas subempregadas por insuficiência de horas trabalhadas chegaram a 6,688 milhões no trimestre novembro de 2018 a fevereiro de 2019, correspondendo a um incremento de 65,4% em relação ao trimestre terminado em fevereiro de 2016, quando 4,043 milhões de pessoas se encontravam na mesma situação.

· O cenário no mercado de trabalho tornou-se um tanto mais árido a partir do trimestre setembro-novembro do ano passado. Naquele período, 12,206 milhões de pessoas estavam desocupadas e 93,189 milhões poderiam se vangloriar de ainda ter alguma forma de ocupação.

· No trimestre finalizado em fevereiro deste ano, o número de desempregados aumentou para aqueles 13,098 milhões de pessoas, num crescimento de 7,3%. O “exército” de desempregados foi reforçado em mais 892,0 mil pessoas.

· Na direção inversa, o número de ocupados caiu para 92,127 milhões de pessoas, o mais baixo desde o trimestre junho-agosto do ano passado. Desde novembro, portanto, o País observou ao fechamento de 1,062 milhão de ocupações, numa queda de 1,14%.

· Se for considerado o trimestre dezembro de 2017 a fevereiro de 2018, o número total de ocupações avançou 1,1%, com abertura de 1,036 milhão de empregos. Novamente, é preciso avaliar o número com maior atenção. Praticamente 59,0% das novas ocupações criadas foram ocupadas por pessoas sem carteira assinada e sem registro no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).

· O número de empregados com carteira recuou 0,3% no período, caindo de 36,163 milhões para 36,050 milhões (113 mil a menos). A indústria continua patinando e demitiu 85,0 mil pessoas no período, num recuo de 0,7%.

  

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