Único setor onde a recessão não terminou, construção puxa economia para baixo

Lauro Veiga

Postado em: 05-04-2019 às 20h20
Por: Sheyla Sousa
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Lauro Veiga

A
recessão encerrou-se já há mais de dois anos e, como já é mais do que notório,
a economia continua derrapando, na recuperação mais lenta em uma fase
pós-recessiva desde que esse tipo de estatística passou a ser registrada. Em
boa medida, esse comportamento deve-se aos maus resultados colhidos pela
indústria da construção, em especial pelo segmento de edificações, obras de
infraestrutura e serviços especializados (que ajudam a compor a conta de
investimentos dentro do Produto Interno Bruto), na visão de Anna Carolina Lemos
Gouveia, mestre em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisadora
da Superintendência Adjunta para Ciclos Econômicos do Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBRE).

Em
27 meses, contados a partir de outubro de 2016, quando teria se encerrado a
recessão, não antes de a economia atingir o seu ponto mais baixo, a construção
não conseguiu voltar a crescer e, pior ainda, ainda encolheu mais 6,0% conforme
dados do Monitor Mensal do PIB da FGV. Os demais setores da indústria, aponta
Anna Carolina, avançaram 6,9% (eletricidade e serviços públicos associados à
indústria), 4,2% (indústria extrativa) e 3,5% (indústria de transformação).

Analisado
de forma desagregada, os dois principais componentes do investimento, que os
economistas classificam como “formação bruta de capital fixo” na composição das
contas nacionais (o PIB), apresentam desempenhos contraditórios. No caso de
máquinas e equipamentos, que sofreu tombo de 49,5% na resseção, foi possível
recuperar 15% daquelas perdas (na mediana das oito recessões anteriores, no
mesmo período de 27 meses, o setor conseguiu repor 33% do que havia perdido). A
construção não recuperou um ponto sequer, muito embora tenha conseguido
recompor 35% das perdas nas recessões passadas.

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Crise fiscal e
Lava Jato

Na
avaliação de Anna Carolina, detalhada em artigo publicado pelo Blog do Ibre na
quinta-feira passada, “em termos relativos, portanto, o pior desempenho
setorial nesta crise foi o da construção, cujo ciclos mais longos costumam, com
frequência, resultar em recuperações demoradas. Ocorre que desta vez o segmento
enfrenta um quadro desolador, por somar-se, ao formato de crise tradicional, as
dificuldades fiscais e políticas dos últimos governos, além do impacto da
operação Lava Jato sobre diversas empresas do setor”.

Balanço

·  
A
construção, prossegue a economista, “foi um dos fatores relevantes na
determinação da lentidão da recuperação da economia até aqui” e pode ser uma
alternativa para uma aceleração do crescimento, se receber os incentivos
adequados.

·  
Como
setor intensivo em mão de obra, aponta Anna Carolina, “pode se tornar crucial
na difícil tarefa de se impulsionar a economia em 2019”. A economista faz
referência à “grande expectativa de retomada das concessões” pelo governo e em
relação aos “investimentos em infraestrutura decorrentes deste movimento”.

·  
O
redirecionamento de linhas de crédito para o setor, em volume e condições de
custos mais favoráveis, e a retomada de programas habitacionais pelo governo, a
despeito da crise fiscal, poderia igualmente prover a construção de condições
melhores para comandar a reação.

·  
Por
enquanto, no curto prazo, os cenários não são animadores. O Bradesco estima
“leve queda” de 0,1% para o PIB no primeiro trimestre.

·  
A
produção industrial, que avançou 0,7% em fevereiro depois de cair 0,7% em
janeiro, sinaliza para março “ligeiro recuo de 0,1%”, na projeção do Itaú BBA,
o que sinaliza para um trimestre de estagnação virtual no setor, reforçada pela
baixa de 9,8% nas exportações de manufaturas na comparação entre o primeiro
trimestre deste ano e o mesmo período do ano passado.

A produção de veículos, segundo a Associação
Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), caiu 10,1% em março
e fechou o trimestre com recuo de 0,6% – refletindo, em grande parte, o tombo
de 42% nas exportações (explicada por sua vez pela crise argentina). 

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