Exportações da indústria caem mais de 9% e déficit comercial salta 58% no trimestre

Lauro Veiga

Postado em: 07-05-2019 às 00h00
Por: Sheyla Sousa
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Lauro Veiga

A
possibilidade de uma mudança no cenário econômico doméstico fica cada dia mais
concentrada numa (até aqui) improvável mudança de rumos na política econômica,
de forma a favorecer uma recuperação mais robusta da demanda interna, num
roteiro que contrariaria frontalmente as políticas “ultraliberais” escolhidas
pela equipe econômica. No front externo, as perspectivas têm se tornado menos
favoráveis, conforme já anotado neste espaço, e os desdobramentos mais recentes
da “guerra comercial” (e tecnológica, acrescente-se) entre os Estados Unidos e
a China não ajudam a melhorar as expectativas em relação à economia mundial.
Por isso mesmo, tem se reduzido o espaço para uma contribuição mais decisiva
das exportações sobre o nível da atividade econômica no País, especialmente no
setor industrial, conforme anota em análise recente o Instituto de Estudos para
o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

As
exportações de bens e produtos típicos da indústria de transformação, que já
vinham em desaceleração desde o ano passado, registra o Iedi, sofreram baixa de
9,1% no primeiro trimestre deste ano, comparadas ao mesmo período de 2018,
passando de US$ 34,201 bilhões para US$ 31,074 bilhões, numa perda de US$ 3,127
bilhões. Além do desaquecimento já em curso no comércio mundial de bens e
produtos, com as estimativas de crescimento da Organização Mundial do Comércio
(OMC) encolhendo de 4,6% em 2017 para 2,6% em 2019, têm pesado a crise na
economia argentina, um dos principais destinos das exportações de manufaturados
brasileiros, com destaque para veículos.

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As
importações do setor de transformação industrial recuaram 1,65% no primeiro
trimestre, para US$ 37,854 bilhões, frente a US$ 38,488 bilhões em 2018, em
mais um sintoma da crise no setor. A queda, como se percebe, foi menos
pronunciada do que as perdas na ponta das exportações e, desta forma, o déficit
na balança comercial do setor saltou 58,2% naquela mesma comparação, de US$
4,286 bilhões para US$ 6,780 bilhões – o mais elevado para um primeiro
trimestre desde 2015.

Veículos e
máquinas

De
fato, quando analisadas por nível de intensidade tecnológica, as exportações da
indústria foram puxadas para baixo principalmente pela queda de 21,4% nas
vendas externas de bens de média-alta tecnologia, categoria que engloba, entre
outros bens, veículos automotores, máquinas e equipamentos elétricos e mecânicos.
As exportações nesta área desabaram de US$ 9,392 bilhões para US$ 7,386
bilhões, perdendo US$ 2,006 bilhões no período analisado, o que representou
pouco mais de dois terços da redução anotada pelas vendas externas totais da
indústria de transformação.

Ainda
no grupo de produtos de média-alta tecnologia, as vendas externas de veículos
encolheram 36,1%, saindo de US$ 3,834 bilhões para US$ 2,450 bilhões. Na mesma
comparação, as exportações de máquinas e equipamentos mecânicos baixaram 13,4%,
de US$ 2,540 bilhões para US$ 2,199 bilhões.

Balanço

·  
Sempre
comparando trimestre com trimestre, as vendas externas de
máquinas e equipamentos elétricos em geral recuaram 2,46% entre o primeiro
trimestre de 2018 e igual intervalo deste ano (de US$ 609,0 milhões para US$
594,0 milhões).

·  
O
desempenho negativo de dois setores fundamentais para a indústria de bens de
capital certamente não tem contribuído para amenizar os efeitos do baixo
crescimento aqui dentro sobre este segmento específico da indústria.

·  
As
exortações andaram para trás igualmente nos setores de média-baixa e baixa
intensidade tecnológica, mas em ritmos bem diversos. As vendas no setor de
média-baixa tecnologia, por exemplo, recuaram apenas 0,19% (ou seja, houve
quase uma estabilidade com exportações de US$ 9,253 bilhões no primeiro
trimestre deste ano).

·  
Mas
a indústria de baixa tecnologia (alimentos, madeira, papel e celulose, têxteis,
couro e calçados) sofreu perda de 8,9%, saindo de US$ 13,024 bilhões para US$
11,864 bilhões. A queda foi influenciada pelos ramos de alimentos, bebidas e
tabaco (-13,1%) e de têxteis, couros e calçados (-13,4%), conforme o Iedi.

·  
O
déficit na balança comercial da indústria tem sido reforçado, neste ano, pela
alta de 17,2% no rombo somado dos setores de alta e média-alta tecnologia, que
saiu de US$ 12,155 bilhões para US$ 14,247 bilhões. E ainda pela queda de 10,4%
no superávit acumulado pelo setor de baixa tecnologia (de US$ 8,801 bilhões
para US$ 7,888 bilhões).

O crescimento do rombo comercial na área
industrial ajudou a derrubar em 14,1% o saldo total da balança brasileira, que
saiu de US$ 12,243 bilhões para US$ 10,516 bilhões. 

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