Dívida reestruturada pelo setor financeiro voltou a crescer no final do ano passado

Lauro Veiga

Postado em: 22-05-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Lauro Veiga

O
tamanho das dívidas bancárias reestruturadas sofreu encolhimento expressivo
depois de meados de 2017 e voltou a experimentar algum crescimento a partir do
segundo semestre do ano passado, conforme indica o trabalho “Reestruturação de
dívidas e perfil do endividamento do cidadão” divulgado nesta semana pelo Banco
Central (BC). Entre o final de 2016 e junho de 2017, o saldo da carteira de
dívidas reestruturadas do sistema financeiro saltou de menos de R$ 2,0 bilhões
para pouco mais de R$ 4,0 bilhões, caindo a menos da metade desse valor por
volta do início do ano passado, fechando o ano ao redor de R$ 2,9 bilhões – muito
abaixo do pico registrado um ano e meio antes, mas em tendência de crescimento
numa fase de esfriamento da atividade econômica em geral e também no mercado de
trabalho.

Comparado
ao saldo total das operações de crédito ativas do setor financeiro, na verdade,
a proporção das dívidas reestruturadas (que envolvem renegociações mais
substantivas, incluindo descontos sobre o saldo devedor, revisão de juros,
troca por novas formas de dívida, mais suportáveis para os devedores, entre
outros modelos) é reduzida, representando 0,15% em dezembro de 2018. Para
comparação, essa relação havia alcançado qualquer coisa ligeiramente inferior a
0,30% em junho de 2017. Em média, informa o BC, em torno de 252 mil clientes
entram nas agências de bancos, financeiras e outras instituições do setor para
negociar a reestruturação de suas dívidas, o que corresponde a 0,3% do total de
tomadores de crédito, uma proporção igualmente muito baixa.

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Nos
dados de dezembro do ano passado, o BC identificou que 278 mil tomadores de
empréstimos reestruturaram uma dívida total muito próxima a R$ 2,9 bilhões,
conforme já mencionado, dos quais perto de 65% (qualquer coisa ao redor de 178
mil clientes) deviam menos de R$ 3,0 mil. Nesta faixa, as dívidas em atraso
somavam R$ 220,0 milhões, em torno de 8% do saldo do crédito reestruturado.
Nessa estatística, perto de 5% dos tomadores (quer dizer, menos de 14,0 mil)
responderam por 63% de todo o saldo reestruturado (perto de R$ 1,8 bilhão, em
valores aproximados).

Baixa renda

As
faixas de renda mais baixa foram as mais afetadas e enfrentavam até ali maiores
dificuldades para manter em dia os pagamentos, especialmente na área do crédito
imobiliário. No geral, perto de 70% dos devedores tinham renda inferior a três
salários mínimos (R$ 2.994 a valores deste ano) e 53% dos que reestruturaram
suas dívidas recebiam até dois salários mínimos (R$ 1.996). O saldo da dívida
reestruturada das pessoas com renda mensal abaixo de R$ 2.994 correspondia a
43% de toda a dívida (perto de R$ 1,2 bilhão) e representava, por sua vez,
apenas 0,21% do saldo da carteira de crédito ativa para a mesma faixa de renda.
Em torno de 5% dos clientes que reestruturaram suas dívidas tinham renda acima
de 10 salários mínimos (R$ 9.980), respondendo por 23% do estoque de dívidas
reestruturadas (R$ 660,0 milhões).

Balanço

·  
Também
em dezembro passado, aponta o BC, qualquer coisa como 15,0 mil tomadores de
crédito imobiliário recorreram à reestruturação de dívidas, representando 6%
dos clientes com operações reestruturadas. Esses tomadores responderam por 46%
do estoque de toda a dívida reestruturada, com saldo de R$ 1,3 bilhão.

·  
Em
relação ao total de clientes da carteira imobiliária do setor financeiro,
aquele contingente representava apenas 8,3%. Mas o saldo reestruturado representava
mais de um terço (33,5%) do estoque total do crédito neste segmento.

·  
Como
são operações de maior volume, o crédito imobiliário levado à reestruturação
pelos tomadores havia sido responsável, ainda em dezembro de 2018, por 69% do
saldo das reestruturações para dívidas superiores a R$ 50 mil.

·  
O
BC chama a atenção para o fato de que 67% dos tomadores de crédito incluídos no
grupo acima terem renda mensal abaixo de três salários mínimos, o que
certamente inclui as faixas da população financiadas pelo programa Minha Casa
Minha Vida (embora o estudo não faça menção ao programa).

·  
Embora
muito mais caro e de alto risco, o cartão de crédito concentrava o maior número
de tomadores com dívidas reestruturadas, que representaram 27% do total de
clientes, ainda que o saldo da dívida reestruturada tenha correspondido a
apenas 6% do total.

·  
Novamente,
ainda na área dos cartões de crédito, os cidadãos de baixa renda (inferior a
três salários mínimos) foram maioria entre os que reestruturaram suas dívidas,
representando quase 70% do total.

Com uma fatia de 12% no crédito total para pessoas físicas, o cartão de crédito respondia por 22% da
inadimplência. 

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