Argentina perde quase US$ 11,0 bilhões desde abril, ampliando crise na economia

Lauro Veiga

Postado em: 28-05-2019 às 19h55
Por: Sheyla Sousa
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Lauro Veiga

Entre
9 de abril e 23 de maio deste ano, a Argentina registrou perda de quase US$
11,0 bilhões em suas reservar internacionais, que baixaram de US$ 77,481
bilhões para US$ 66,491 bilhões, numa queda de 14,2% de acordo com dados do
Banco Central da República Argentina (BCRA). Em boletim divulgado ontem, o Instituto
de Finanças Internacionais (IFF, na sigla em inglês) acredita que a fuga de
dólares e as perdas consequentes de reservas tendem a continuar a despeito do
socorro do Fundo Monetário Internacional (FMI), que acertou com o governo argentino
um pacote de quase US$ 57,1 bilhões no final do ano passado, quase duas vezes
maior do que o “socorro” anunciado inicialmente, na faixa de US$ 30,0 bilhões,
e ligeiramente acima dos US$ 56,3 bilhões acertados em meados de 2018.

Desde
o início das conversações entre o fundo e a Argentina, anota a publicação, o
IFF havia observado que o resgate argentino exigiria um volume “generoso” e
substancial de recursos para que o programa pudesse ter sucesso. Embora o FMI
tenha providenciado uma série de desembolsos e reforçado a ajuda prometida,
fazendo o volume de empréstimos oficiais recebidos pela Argentina aproximar-se
dos US$ 30,0 bilhões no ano passado, o IFF acredita que um conjunto de
circunstâncias recomendaria “uma reavaliação das necessidades financeiras do
país” a esta altura.

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“O
desafio é duplo”, aponta o IFF. Em primeiro lugar, a fuga de capitais
domésticos pode representar um ponto a mais de pressão numa conjuntura de turbulências
políticas antevistas com a proximidade das eleições. Num segundo ponto, o
instituto parece considerar ambiciosas em excesso as metas fiscais
estabelecidas no acordo com o fundo, muito superiores àquelas estabelecidas em
programas geralmente capitaneados pelo FMI, deixando em risco seu efetivo
cumprimento “mesmo depois de sanadas as incertezas eleitorais”.

Ajuste brutal

Na
verdade, já houve um brutal ajuste nas contas do setor público argentino, a se
considerar dados não oficiais. O déficit fiscal em relação ao Produto Interno
Bruto (PIB), que rondava a casa dos 6% em 2015, caiu abaixo da meta de 2,7%
definida pelo FMI para 2018, fixando-se em algo ao redor de 2,4%. Os juros
básicos já estão na estratosfera, alcançando a marca de 67% ao ano, para uma
inflação acumulada em 54,7% nos 12 meses até março deste ano (o que sugere uma
taxa real de juros ao redor de 8,0% ao ano, diante de qualquer coisa próxima a
2,5% no caso brasileiro). Não admira que sua economia continue em queda livre,
com previsão de baixa de 2,5% neste ano, depois de encolher 4,0% no trimestre
final de 2018. O percentual de pessoas abaixo da linha de pobreza atingiu 32%
no ano passado, com o desemprego subindo para 9,1% (o mais elevado em quase uma
década e meia).

Balanço

·  
A
deterioração dos indicadores econômicos e sociais no país vizinho tem se
refletido, como não poderia deixar de ocorrer, também na economia brasileira,
afetando sobretudo a produção industrial, o que explica parcialmente a
debilidade do setor de manufaturas no Brasil.

·  
Esse
impacto tem se dado principalmente pela via das exportações e, neste caso, com
destaque para as vendas externas de veículos, que vêm desabando neste ano
diante das dificuldades enfrentadas pelo principal mercado de destino dos
automóveis produzidos por aqui.

·  
Os
números da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea)
mostram que o País exportou 139,47 mil veículos nos quatro primeiros meses
deste ano, num tombo de 45% frente aos 253,36 mil exportados no mesmo
quadrimestre de 2018.

·  
Em
receita, as exportações de veículos encolheram até mais, em baixa de 48,4%, de
US$ 4,418 bilhões para apenas US$ 2,281 bilhões.

·  
De
volta à avaliação do IFF, a instituição prevê riscos de novas perdas para as
reservas internacionais da Argentina mesmo nos cenários mais positivos, com a
política de ajustes avançando “suavemente”. Qualquer que seja o cenário,
sustenta o IFF, a Argentina deverá necessitar de suporte adicional do FMI, o
que deverá significar mais dólares dos que os já prometidos.

O IFF considera que os desembolsos do fundo para
a Argentina tendem a ser menores neste ano, próximos a US$ 19,0 bilhões, num quadro
de fuga de dólares, perdas severas de reservas e baixos índices de rolagem da
dívida externa (que tendem a se aproximar de 50% no terceiro trimestre,
praticamente mesmo nível observado no segundo trimestre de 2018). 

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